Cotas diversas dividem, a cota social une e respeita o mérito
O debate sobre cotas nas universidades brasileiras permanece intenso, mas é hora de refletir com racionalidade. Atualmente, o sistema inclui diversas categorias: raciais, indígenas, quilombolas, pessoas com deficiência, além das sociais e de escolas públicas. O objetivo declarado é corrigir desigualdades históricas, mas a multiplicidade de critérios levanta uma questão essencial: estamos fragmentando a sociedade em categorias artificiais, em vez de tratar os brasileiros como indivíduos com potencial e capacidade de esforço?
Uma abordagem mais meritocrática e justa seria concentrar os esforços na cota social, destinada a estudantes de baixa renda, independentemente da cor da pele ou origem étnica. O critério econômico permite atingir aqueles que realmente necessitam de acesso à educação superior, sem criar divisões artificiais. Hoje, a maioria dos alunos das universidades públicas pertence à classe média alta e poderia pagar uma instituição privada, o que evidencia a necessidade de priorizar quem enfrenta barreiras financeiras reais.
Ao adotar a cota social como principal mecanismo de inclusão, seria possível reservar até 90% das vagas para alunos de baixa renda, mantendo uma pequena parcela para casos específicos, como pessoas com deficiência, garantindo diversidade sem comprometer a justiça. Essa simplificação reduziria burocracia, aumentaria a transparência e daria clareza ao sistema, sem ferir princípios constitucionais de igualdade.
O Brasil precisa de políticas que promovam igualdade de oportunidades, mas sem perder de vista a realidade: cidadãos não são números em categorias, são seres humanos com talento e ambição. A cota social concentra recursos e atenção em quem mais precisa, promovendo acesso real à educação e evitando divisões artificiais que, no fim, não resolvem desigualdades.
O desafio é pensar em inclusão de forma inteligente e eficiente, garantindo que a universidade pública continue sendo um espaço de oportunidades, mas sem criar privilégios injustos. A pergunta que permanece é clara: por que complicar o sistema e fragmentar a sociedade quando uma cota social ampla seria suficiente para promover justiça, mérito e igualdade de fato? Uma política voltada para a renda é mais justa, transparente e eficaz, atendendo diretamente aos que realmente dependem do Estado para transformar suas vidas.
Por Alexandre França - jornalista