Hospital substitui transfusões de sangue por outras técnicas

Testemunhas de Jeová não aceitam a transfusão de sangue em seus tratamentos - Foto: Vagner Gamba / Divulgação

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Muitas pessoas costumam falar que religião, futebol e política não se discutem. Como é de conhecimento público, as Testemunhas de Jeová não aceitam a transfusão de sangue em seus tratamentos médicos por questões religiosas. Optando por respeitar os preceitos da religião, o Hospital Estadual de Traumatologia e Ortopedia Dona Lindu, no município de Paraíba do Sul, localizado na divisa entre o Rio e Minas, adotou um protocolo que dá autonomia aos pacientes que não aceitam as transfusões de sangue, disponibilizando outras técnicas médicas de tratamento.

Em abril do ano passado, uma paciente de Volta Redonda foi levada ao centro cirúrgico Do Hospital Dona Lindu. Aos 81 anos de idade, tinha um encurtamento de cinco centímetros na perna e sentia muitas dores. A idosa seria submetida a uma cirurgia de grande porte para a troca parcial de uma prótese no quadril. Por ser Testemunha de Jeová, ela optou em não receber transfusão de sangue. O hospital respeitou a decisão da paciente, assim como no caso de um outro paciente que, em julho deste ano, sofreu um acidente de trabalho e teve rompimento de todos os tendões do joelho direito. Ele foi submetido a uma primeira cirurgia, que durou cinco horas. Uma semana depois, outra intervenção também com duração de cinco horas.

Durante ambas as cirurgias, os médicos do Hospital Dona Lindu utilizaram uma máquina que aspira, filtra e devolve o sangue do paciente ao próprio paciente.

Desde que assumiu a gestão do hospital, a nova administração decidiu optar por tratamentos isentos de transfusão de sangue alogênico em pacientes que demonstram esse desejo. Para isso, a unidade fez alterações em seu termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) para incluir a opção expressa de recusa à transfusão de sangue. As alterações foram propostas por uma ação da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, cujos termos já estavam sendo atendidos pelo hospital antes mesmo do julgamento da ação. Desde 2017, quando houve a troca de gestão do hospital, já foram realizadas mais de 20 cirurgias de grande porte sem transfusão de sangue e sem maiores complicações.

"É com muita satisfação que recebemos essa iniciativa, pois trata-se de um grande hospital público, referência na região, que privilegiou a autonomia de tantos pacientes que precisam recorrer ao SUS e que agora sabem que seu direito, baseado na constituição, de optar por estratégias de tratamento isentas de transfusão de sangue alogênico será respeitado. Acredito que a iniciativa do Hospital Dona Lindu pode se ampliar para outras unidades na medida em que se tornar cada vez mais divulgado que um respeitado hospital público adotou formalmente essas estratégias de tratamento e que elas são, não apenas seguras e eficazes, mas também de grande valor prático em razão da falta de sangue nos hemocentros. Além de que elas ainda são mais vantajosas em termos de custo financeiro", disse Ricardo Carneiro, porta-voz regional das Testemunhas de Jeová.

Desde 2010, a OMS recomenda aos hospitais a implantação do programa Patient Blood Management (PBM). O objetivo do programa é gerenciar e conservar o sangue do próprio paciente, de modo que se tornem desnecessárias as transfusões que utilizam sangue de terceiros. Esse gerenciamento inclui uma série de estratégias médicas clínicas e cirúrgicas, cujos três pilares são o tratamento da anemia e da baixa quantidade de plaquetas, a redução das perdas durante a cirurgia e a otimização da tolerância do paciente à anemia. Num momento em que o sangue está cada vez menos disponível para transfusão.