Adaptados à nova realidade

Parte do grupo de risco, o barbeiro Eduardo Piva buscou qualificação para trabalhar com segurança atendendo os clientes em suas casas - Foto: Alex Ramos

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Dizem que o ser humano alcançou o topo da cadeia alimentar na natureza, não pela inteligência e tampouco pela força, mas sim, por sua capacidade de se adaptar. Para essas pessoas, foi a criatividade diante das adversidades que nos trouxe até aqui. Conscientes ou não disso, empreendedores têm apostado nessa mesma capacidade de adaptação para conseguirem atravessar a atual crise imposta pela pandemia de covid-19. Assim, eles reinventam seus produtos e serviços como forma de manter suas atividades e garantir o próprio sustento em uma realidade incerta e desafiadora.

"Quando a pandemia começou, todas as barbearias começaram a fechar, inclusive a minha. Fiquei por 2 meses em isolamento total tentando entender tudo o que estava acontecendo. Sou do grupo de risco e não conseguiria trabalhar sem os devidos cuidados. Foi aí que fiz um curso de "cuidados e boas práticas para não se contaminar trabalhando". Então, alguns clientes que já estavam trabalhando de home office me chamaram pedindo para cortar o cabelo sabendo que eu já contava com uma série de cuidados para conseguir atendê-los em casa", lembra Piva.

A nova forma de exercer a atividade profissional, que seria apenas um paliativo durante a quarentena, acabou se revelando um diferencial para o barbeiro em um mercado tão competitivo. Sem reforçar clichês, Eduardo transformou a crise em oportunidade e já considera seriamente manter o trabalho no formato que ele está hoje.

"Mas me surpreendeu positivamente a força e a bondade de todos em querer me ajudar, divulgando meu serviço e também utilizando dele. Mudei completamente meu atendimento e me adaptei para conseguir atender em casa talvez até melhor do que em uma barbearia. O pós pandemia era pra mim uma dúvida constante no começo, pois pensava que esse serviço seria só para "quebrar um galho". Mas hoje tenho uma lista de 250 clientes que desde o começo dessa situação me falam que nunca mais querem sair de casa para esperar em filas de barbearia", confessa o empreendedor.

Diante dos últimos acontecimentos, para muitos empresários, houve uma necessidade de se reinventar e para outros de se organizar. A principal característica do momento foi a adaptação e migração do offline para o online, explica Raquel Abrantes, coordenadora de Mercado do Sebrae Rio.

"A digitalização foi necessária em um contexto com pouquíssimo contato físico. A internet e a conectividade ajudaram muito com um posicionamento rápido de mercado e de novas conquistas comportamentais. Alguns setores amargaram perdas irreparáveis e um cenário lento de recuperação, como atividades artísticas, criativas e de espetáculos; turismo; serviços educacionais; setor imobiliário e compra e venda de veículos. Já outras atividades surgiram de acordo com a mudança de hábito
do novo consumidor, como alimentação saudável, e-commerce de produtos de informática; e-commerce de produtos de pet, moda "confortável"; clubes de assinatura (livros; vinhos; etc); vídeo aulas, entre outros", destaca Raquel.

Há 10 anos o empresário Arthur Henrique Ferreira reúne clientes em seu bistrô, que funciona como uma espécie de refúgio para fugir da rotina, em Várzea das Moças, Niterói. Até que com a chegada da pandemia o o jovem chef teve que fechar as portas e ver o movimento zerar, enquanto as despesas seguiam normalmente.

"Como todos os empreendedores da cidade, a Casa do Caipira, meu empreendimento, foi bem afetada e teve que fechar as portas por um tempo. Sem ninguém saindo de casa, fiquei sem trabalho e sem receita.. Precisava fazer algo diferente e foi aí que surgiu a ideia das massas de pizza por encomenda. As pessoas pediam os discos de pizza para montar em casa e essa foi uma boa saída. Fiz kits e também opção integral. Depois eu mesmo traçava uma rota e fazia as entregas pessoalmente", revela o empresário.

Com o auxílio das mídias digitais, Arthur conseguiu divulgar seu novo produto. Realizando lives ensinando preparar a massas que vendia e outras receitas ele conseguiu atravessar o período mais severo das restrições até que a reabertura gradual começasse a acontecer. Mesmo após a chegada da vacina, o chef pretende manter os novos espaços e talentos que conquistou para atuar mercado.

"Não foi e nem está sendo fácil. Mas, como um bom adepto do estilo de vida 'good vibes' e sempre com pensamento positivo, tenho certeza de que tudo vai melhorar. Também acredito que proposta diferenciada com clima mais intimista, personalizado, como eu já trabalhava, se torna cada vez mais tendência daqui pra frente", conclui Henrique.

Qualificação - A pandemia do novo coronavírus alterou a rotina das pessoas. Para entender como adotar os protocolos de saúde e compreender os novos hábitos dos consumidores, os empreendedores do estado do Rio de Janeiro buscaram novos conhecimentos, por meio de eventos, cursos, palestras e conteúdos on-line, para aperfeiçoamento de processos e garantir a segurança de seus clientes. Na loja do Sebrae Rio foram quase 1,7 milhão de acessos, um aumento de 344%, em comparação com 2019. Durante a pandemia,
todos os materiais foram disponibilizados de forma gratuita.

Ao longo do ano, 172 mil empresários fizeram contato com o Sebrae Rio pela primeira vez, em busca de informações para abertura ou manutenção do seu negócio. Ao todo, a instituição realizou 702 mil atendimentos, um aumento de 185% de novos atendimentos, em comparação com o ano anterior.

"Os donos dos pequenos negócios passaram por um processo de aprendizado. Eles perceberam que precisavam de orientação para manter a sua empresa em funcionamento. Quatro em cada dez empresas encontraram na inovação uma forma de se destacar no mercado. Outra lição aprendida é a necessidade de se ter um planejamento financeiro. O empreendedor que tinha um bom capital de giro manteve maior fôlego e a recuperação foi mais rápida", aponta Débora Finamore, gerente de Comunicação e Relacionamento Digital do Sebrae Rio.

Com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados, só em outubro, as micro e pequenas geraram 16.144 novas vagas de emprego.