As vítimas ocultas da pandemia

De acordo com o ISP, em mais de metade dos casos os autores dos atentados foram os parceiros ou ex-parceiros - Foto: Marcos Santos / USP

Cidades
Tpografia
  • Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
  • Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Mais de 250 mulheres foram vítimas de violência por dia durante o isolamento social em 2020 no estado do Rio. Cerca de 61% desses casos ocorreram dentro das residências. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP). Entre 13 de março de 2020, quando foi editado o primeiro decreto de combate à propagação do coronavírus no estado, e o dia 31 de dezembro, segundo o ISP, mais de 73 mil mulheres foram vítimas de algum tipo de violência no Rio.

Apesar disso, o número de casos teve queda de 27% em relação ao mesmo período de 2019, quando houve 102.344 vítimas. Para o ISP, isso pode indicar uma subnotificação provocada pelas restrições adotadas durante a pandemia. Em janeiro deste ano, o total de mulheres vítimas alcançou 12.924 e ficou próximo do que tinha sido anotado no mesmo mês de 2020: 10.878.

Já em maio de 2020, um dos meses com maior taxa de isolamento social, as delegacias da Secretaria de Estado de Polícia Civil registraram 4.903 casos de violência contra a mulher, o que significa redução acima de 50% se comparado com janeiro do ano passado.

O estudo também indicou que, além de 61% dos casos terem ocorrido no período de isolamento em 2020, justamente dentro de casa houve alta do percentual de ocorrências de crimes mais graves em residência.

"Para Violência Física, o percentual aumentou de 60,1% em 2019 para 64,1% em 2020. Para Violência Sexual, uma variação ainda maior: de 57,7% em 2019 para 65,6% em 2020", apontou o estudo.

Conforme o ISP, em mais de metade dos casos os autores dos atentados foram os parceiros ou ex-parceiros.

Entre os bairros com maior número de casos estão a Cidade de Deus (32ª DP), na zona oeste do Rio; Austin, em Nova Iguaçu (58ª DP), na Baixada Fluminense, e Campo Grande (35ª DP), também na zona oeste da capital fluminense.

O ISP informou ainda que 65 mulheres foram mortas entre 13 de março e 31 de dezembro de 2020. O bairro de Campo Grande ocupa o primeiro lugar no ranking estadual com maior número de casos de feminicídio, ao lado do bairro Caonze, em Nova Iguaçu.

Operação nacional - Cerca de 12 mil policiais civis de todo o Brasil participaram, ontem, de uma megaoperação de combate a crimes contra a mulher. Coordenada pela Secretaria de Operações Integradas, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, a Operação Resguardo aconteceu em mais de 1,8 mil cidades dos 26 estados e do Distrito Federal, no Dia Internacional da Mulher.

Ao apresentar a jornalistas os dados da ação deflagrada, o secretário Nacional de Operações Integradas, Jefferson Lisboa Gimenes, disse que a intenção do ministério é tornar esde tipo de iniciativa regular. "Hoje, estamos aproveitando uma data comemorativa, mas queremos transformar ações de enfrentamento à violência contra a mulher em ações rotineiras"

Segundo o ministério, o objetivo é localizar e deter suspeitos de ameaças, tentativas de feminicídio, lesão corporal, descumprimentos de medidas protetivas, estupro, importunação, entre outros crimes contra as mulheres. A ação visa, ainda, ao fortalecimento da atuação conjunta entre governos federal e estaduais, conforme estabelece o Sistema Único de Segurança Pública (Susp).

A operação começou a ser delineada em janeiro deste ano, com a análise de diversas denúncias, instauração de inquéritos policiais e levantamento de mandados judiciais. Desde então, quase 46 mil denúncias foram apuradas, aproximadamente 60 mil inquéritos foram instaurados e em torno de 68 mil diligências foram cumpridas em todas as unidades da federação.

No período, mais de 165 mil vítimas foram atendidas e cerca de 9 mil pessoas foram presas, sendo que ao menos 638 delas já haviam sido detidas ontem, até as 10h30.