O indispensável diálogo

Charbel - Foto: Divulgação

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Charbel Tauil Rodrigues*

Finalmente nos últimos dias o comércio de Niterói começou a poder reabrir, retomando os passos iniciais daquilo que se vislumbra ser uma longa e lenta caminhada rumo a um mínimo de sustentação econômica e viabilidade empresarial. É o início de uma jornada, e cremos ser importante, num momento assim, repassar alguns fatos, de forma a que se possam deles extrair ensinamentos úteis para todos. Tomara que assim sejam evitados, no futuro, os mesmos equívocos e problemas recentemente ocorridos.

Voltemos um pouco no tempo. Os empreendedores locais já vinham solapados ao longo de um ano inteiro de duros e sucessivos baques em seu movimento, por um acúmulo de fatores: a crise econômica, à qual se somou a situação de pandemia (ambas acarretando imediatas retrações no consumidor), e além disto as restrições ao seu funcionamento, impostas pelo poder público, principalmente o municipal. As medidas de apoio anunciadas pela municipalidade, em 2020 e no início deste ano, chegaram a muito poucos empreendedores, e mesmo assim quase sempre de maneira tímida, insuficiente para suas necessidades.

Em meio a tudo isso, o Sindilojas se manteve sempre firme e coerente na defesa dos legítimos interesses dos seus representados, apresentando sugestões e jamais se negando a criticar autoridades, quando cabível e procedente.

A situação toda ficou ainda pior, e muito, agora em março, quando a prefeitura anunciou mais um duro fechamento de atividades de comércio e serviços. Já seria algo grave, mas ganhou uma dimensão muito mais trágica porque foi decidido a portas fechadas, sem que nos dias e semanas seguintes os representantes do Poder Público se dignassem a debater, democraticamente, com a totalidade das entidades representativas das categorias afetadas, que queriam apresentar propostas e ouvir explicações minimamente razoáveis para o que estava acontecendo. Afinal de contas, por que um modesto armarinho de bairro não poderia abrir as portas, mas as barcas e os ônibus puderam continuar com suas frotas reduzidas e, assim, circular apinhados de passageiros? Por que determinar horários irreais para o funcionamento de setores do comércio? Com base em quê? Perguntas simples assim.

Infelizmente, o que se viu foi uma sucessão de erros por parte da prefeitura, boa parte dos quais (senão todos) ocasionados justamente pela falta de diálogo. Diante dessa postura antidemocrática e autoritária, aqui e ali foram surgindo grupos de pequenos e médios empreendedores que, desesperados diante da falência iminente, tomaram coragem e foram às ruas para manifestar sua insatisfação. Foram prontamente tachados de negacionistas, embora o que estivesse em discussão não fosse a existência ou não da pandemia, nem houvesse nenhum questionamento quanto a medicações ou tratamentos. Pelo contrário, os empreendedores querem vacina, e para todos, o quanto antes! Além disto, vale destacar que, desde que os protocolos sanitários foram definidos e divulgados, os estabelecimentos de Comércio e de Serviços em Niterói prontamente os adotaram, e os vêm mantendo até hoje. Máscaras, álcool gel, medição de temperatura, exigência de distanciamento interpessoal, tudo isto está na ordem do dia para todos.

Em suma, se as manifestações ocorreram, assim se deu pela postura equivocada das autoridades municipais, que levaram ao desespero incontáveis pequenos empreendedores, assim como seus colaboradores e familiares, todos unidos na angústia de não saber como fazer para pagar suas contas no final do mês.

Que esses episódios fiquem para trás e sirvam como referenciais do que não deve ser feito, de forma a que numa próxima ocasião possamos todos estar democraticamente debatendo os rumos a tomar diante dos desafios que surjam à frente do bem-estar e do desenvolvimento econômico e social de Niterói.