O último ciclo

Peterson Barroso Simão - Foto: Divulgação/Amaerj

Cidades
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Peterson Barroso Simão*

Seguindo a ordem natural temos na vida do ser humano as seguintes fases: infância, adolescência, maturidade e velhice.

Neste texto gostaria de concentrar as ideias na velhice que corresponde a última caminhada, aquela que vem roubando as forças, as emoções, os prazeres e a felicidade humana, e por outro lado são substituídas pela dor, abandono, solidão e lágrimas. Principalmente com referência àqueles que se encontram em estado de vulnerabilidade.

As mãos trêmulas já não conseguem escrever, nada mais o surpreende e tudo passa. A voz embargada torna-se menos afirmativa, mais temerosa e duvidosa. A todo momento vem a lembrança do pó de onde provimos e a que todos um dia voltaremos.

Para estes conduzo a preocupação e o desejo de um frio entardecer menos traumático por meio de muitas providências, a começar pelo carinho, atenção e respeito, assegurando-lhes todos os direitos, sobretudo à saúde.

Muito já se fez, como o Estatuto do Idoso, mas muito ainda há que se fazer, pois são eles que abriram os caminhos aos jovens, construindo um país melhor, com inteligência e suor.

O cotidiano, ressalvando exceções, tem sido cruel com eles. Apesar disso, tive a oportunidade, no exercício da função jurisdicional e utilizando da legislação, de evitar o despejo, o corte de energia elétrica ou da água em casas de anciãos, o que seria feito impiedosamente.

As clínicas geriátricas, casas de repouso e os asilos poderiam receber mais incentivos dos órgãos públicos e privados contemplando-os com estrutura, fiscalização e benefícios adequados para que possam estas instituições crescer, prosperar e proliferar.

As residências, por sua vez, habitadas por idosos em idade provecta, poderiam ter a visitação periódica de assistentes sociais, psicólogos, advogados, voluntários amigos, fisioterapeutas e médicos, bastando discar para uma central de atendimento, por número de telefone que poderia ser criado com três dígitos.

A retidão de uma vida inteira do cidadão e cidadã, merece um acolhimento maior por nossas leis à altura do que se imagina sobre a grandiosidade do princípio da dignidade da pessoa humana.

A criação de Secretarias de Estado e Municipais específicas, também poderia ser mais uma hipótese a ser analisada quanto à viabilidade política de sua criação com o objetivo de protegê-los.

Ao Judiciário, possivelmente, caberia o cumprimento, de plano, em caráter de urgência, com total preferência, de todas as ações relacionadas a eles, como costumeiramente ocorre. E quem sabe, desdobrar as varas unificadas para criar o Juízo do Idoso separado do Juízo da Infância e da Juventude, em vista do crescente número de pessoas envelhecidas da população que merecem atenção ainda mais especializada.

A sociedade brasileira e as autoridades públicas poderiam repensar neste tema visando atitudes mais positivas em favor dos idosos que, insisto, devem encontrar lícitas facilidades e não dificuldades.

É hoje e agora que eles precisam mais, considerando que neste momento o Planeta é tocado por um vento de destruição e aflição que atinge os povos de todos os rincões.

Certamente, o último ciclo para ser vivenciado de forma tranquila depende dos olhares de amor e solidariedade.