CPI: Witzel responsabiliza Jair Bolsonaro por excesso de mortes

Depoimento do governador cassado do Rio durou cerca de 4 horas e meia. Nem todos os senadores puderam falar - Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

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Protegido por um habeas corpus, o ex-governador do Rio Wilson Witzel compareceu à CPI da Pandemia ontem (16), mas sua presença no colegiado durou cerca de 4 horas e 30 minutos e nem todos os senadores puderam fazer perguntas. Durante o depoimento, Witzel insinuou que o presidente Jair Bolsonaro seria o responsável pelas mais de 450 mil mortes por covid-19. O governador cassado disse também que o governo federal criou uma narrativa para fragilizar os governadores por terem tomado medidas restritivas.

"Como é que você tem um país em que o presidente da República não dialoga com um governador de estado? E o presidente deixou os governadores à mercê da desgraça que viria. O único responsável pelos 450 mil mortos que estão aí tem nome, endereço e tem que ser responsabilizado aqui, no Tribunal Penal Internacional, pelos fatos que praticou", afirmou o ex-governador.

Witzel acusou o governo federal de agir de caso pensado para deixar governos estaduais em situação de vulnerabilidade, sem condições de comprar insumos e respiradores. 

"Os governos estaduais ficariam em situação de fragilidade, porque não teriam condições de comprar os insumos, respiradores e, inclusive, atender os seus pacientes no Sistema Único de Saúde, que, embora seja um excelente sistema para um país como o nosso, tem dificuldades. Como é que eu vou requisitar ao governo da China receber respirador? Isso é uma negociação internacional, e não foi feita", assinalou Witzel. 

O intuito do Executivo, disse o ex-governador fluminense, foi se livrar das consequências econômicas da pandemia.

"A narrativa que foi criada foi a narrativa de que 'os governadores vão destruir os empregos', porque sabia o senhor presidente da República que o isolamento social traria consequências graves à economia", analisou Witzel. 

Em resposta a Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Witzel criticou parlamentares ligados a Bolsonaro que invadiram hospitais de campanha e comandaram carreatas e outras ações contra as medidas restritivas decretadas pelo governo do estado para reduzir a propagação da doença. Sobre os mais de 600 leitos fechados em hospitais federais no estado, ele relatou que pediu ao governo federal que cedesse a administração dos hospitais, com as respectivas verbas, mas não foi atendido. 

Com base no habeas corpus, Witzel pediu para se retirar após sua declaração inicial e depois de responder o relator Renan Calheiros (MDB-AL) e a alguns dos senadores inscritos. Durante questionamentos de Eduardo Girão (Podemos-CE) sobre investigações de superfaturamento enquanto Witzel foi governador do Rio, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), comunicou o encerramento do depoimento a pedido do depoente.

O senador Jorginho Mello (PL-SC) criticou a retirada de Witzel:

"Não contribuiu em nada", avaliou.

(Agência Senado).

Réu - Witzel virou ontem réu por organização criminosa. A denúncia, do Ministério Público Federal (MPF), foi aceita pela juíza federal Caroline Vieira Figueiredo, da 7ª Vara Criminal Federal do Rio. Além de Witzel, tornaram-se réus sua esposa, Helena Witzel, e outras oito pessoas, incluindo empresários, assessores e um líder
partidário.

A juíza aceitou a denúncia que caracteriza Witzel como o chefe da organização criminosa: "Seria o principal líder da organização criminosa, com ativa participação em todos os fatos delitivos, loteando os recursos públicos do estado em prol da organização criminosa, recebendo vantagem ilícita e lavando dinheiro a partir do escritório de advocacia da primeira dama".

Segundo a denúncia, a ação penal é desdobramento da Operação Favorito. A partir das investigações dos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de capitais, no âmbito do governo do Rio, revelou-se suposto esquema envolvendo agentes públicos e empresários ligados ao ex-governador Witzel no setor da saúde.