Bora voltar para escola?!

José Ricardo Marques é advogado e cientista político - Foto: Divulgação

Cidades
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Por Amil Tanure e

José Ricardo Marques

A Educação é uma das atividades mais importantes de uma sociedade, envolvendo direta e indiretamente 30% de toda população de um país. Já estamos no segundo semestre de 2021 e há mais de 1 ano e 4 meses da pandemia do Covid-19 e até agora pouquíssimos municípios liberaram a volta às aulas presenciais do ensino fundamental na sua totalidade, o mesmo em estados da federação. Este fato contrasta com os países europeus e os EUA onde, em sua maioria, as aulas presenciais já retornaram desde o início de agosto ou no início de setembro de 2020. Na Alemanha, foi identificado um surto de transmissão numa escola em Hamburgo onde 26 alunos e três professores tiveram teste positivo para o vírus, e as autoridades de saúde suspeitam que pelo menos dois alunos podem ter sido infectados por um professor. Nesse ínterim, a sexta e a oitava séries foram postas em quarentena, e as máscaras foram tornadas obrigatórias em todas as salas de aula. Contudo, o ministro alemão da Educação (KMK), Ties Rabe, manteve a decisão de reabrir as escolas. Naquele momento de dúvidas, ele justificou e enfatizou que os alunos precisam da orientação e motivação dos professores, dos colegas e dos amigos e, mais importante, precisam de locais de estudo e trabalho bem equipados para o desenvolvimento cognitivo e intelectual, bem como para o envolvimento colaborativo.

Num país desigual como o Brasil, manter as escolas públicas fechadas e as crianças fora da sala de aula pode ser um fator de aprofundamento do nosso fosso social. Além disso, a escola pública é o local onde as crianças aprendem a ser cidadãos, têm uma alimentação balanceada (muitas vezes inexistente em casa, nas camadas mais pobres) que desonera o orçamento familiar médio; onde aprendem também noções de higiene pessoal e praticam o convívio social. Nas camadas mais pobres, a escola é um local onde os pais podem deixar seus filhos para trabalhar. Acreditamos que devemos engendrar esforços para o retorno pleno das escolas públicas, com segurança; e devemos fazê-lo de uma maneira monitorada.

Uma maneira de impedir a propagação do Covid-19 nas escolas é a triagem diária de sintomas na entrada dos estabelecimentos de ensino para identificar funcionários/alunos com suspeitas da doença. Uma vez identificados os indivíduos com suspeita, os mesmos devem fazer testes que detectem a infecção ativa através do teste molecular ou do teste rápido de antígeno. No entanto, as infecções podem ser clinicamente silenciosas (assintomáticas). Entre 15 a 50% das crianças e 10 a 30% dos adultos, aproximadamente, podem não apresentar os sintomas do Covid-19 enquanto seu sistema imunológico combate a infecção (portadores assintomáticos) ou tornarem-se infecciosos entre 1 a 3 dias antes início dos sintomas (portadores pré-sintomáticos). Os testes de diagnóstico atuais não podem identificar infecções silenciosas de forma confiável e não são suficientemente rápidos e baratos para fazer um sistema de vigilância baseado em testes em toda a escola. Assim, a ferramenta mais eficaz para minimizar o risco de infecções nas escolas é reabri-las somente quando as taxas na comunidade local estiverem controladas. Como exemplo, países com alto nível de testagem começaram a abrir as escolas, com medidas de segurança rigorosas em vigor, quando menos de 30 a 50 novas infecções foram observadas em 7 dias por 100 mil residentes, durante um período de três meses. Cumpre-se ressaltar que a incidência de novos casos semanais na cidade do Rio de Janeiro é de 13 casos/100 mil habitantes, indicando um risco bem baixo para o retorno às aulas, como quando o retorno foi adotado pela maioria dos países europeus.

Todos os países que abriram as escolas implementaram medidas de mitigação básica, como: distanciamento das cadeiras, máscaras faciais usadas em corredores (mas não nas salas de aula), higiene das mãos, ambiente ventilado (janelas e portas abertas), e, alunos e funcionários ficarem em casa quando do surgimento de sintomas sugestivos da doença.

O Covid-19 se espalha através de gotículas contendo o vírus e geradas pela respiração, fala, grito, canto, tosse e espirro de indivíduos infectados. A rápida sedimentação de gotas grandes saídas dos indivíduos infectados fundamenta as recomendações para distanciamento, desinfecção de superfície, ventilação e higiene das mãos. Já as partículas líquidas menores dispersas como aerossóis permanecem no ar por mais tempo. Sabemos também que é necessário um milhão de partículas virais numa gota de secreção para que se tenha um inóculo infectante. Além disso, não é só a distância de outra pessoa que determina o risco de transmissão, mas também a duração da exposição. Ações limitando a aglomeração de alunos, evitando atividades como cantar também são extremamente relevantes no controle da transmissão viral.

Máscaras reduzem a propagação em gotículas e aerossóis, limitando a liberação e inalação. A propagação por gotículas é muito menos provável ao ar livre, porém, a prática esportiva coletiva que promova contato físico deve ser evitada. Grandes surtos na escola podem ser minimizados através da limitação da transmissão secundária ao menor número possível de pessoas. Dessa forma, devemos evitar aglomerações de diferentes classes de alunos nos intervalos, mantendo-os relativamente isolados para poder minimizar a transmissão pessoa a pessoa e facilitar o rastreamento do contato em caso de surtos. A detecção precoce de indivíduos infectados por meio de vigilância de sintomas e testes de diagnóstico rápido de antígeno podem limitar medidas de quarentena para debelar surtos na escola. Assim evitaremos ter que fechar as classes ou a escola inteira.

Ademais, parece razoável estabelecer medidas de controle de casos escolares com a implantação de um programa de testagem intermitente e indiscriminada (por teste rápido sorológico) em uma amostragem escolar (uma unidade escolar, ou poucas turmas de diferentes faixas etárias, por exemplo; como estudos-piloto) com frequência semanal ou mesmo quinzenal; a fim de estabelecer a evolução de casos nos primeiros meses de retorno e comparar os números obtidos de novos casos com aqueles da população em geral. Só assim saberemos o impacto real deste retorno na saúde de alunos e profissionais de ensino, monitorando a eficácia das ações preventivas e garantindo o processo educacional em sua integralidade, com saúde, sensatez e responsabilidade.

Com o avanço da imunização, especialmente de professores e todos os profissionais que utilizam os espaços escolares, devem minimizar os riscos, mas devemos lembrar que as vacinas não são a cura e tem eficácia limitada.

Sanitizar locais de acesso comum e coletivo e estimular programas e protocolos incluindo na grade matérias sobre riscos iminentes de doenças provocadas por microorganismos, a necessidade de higiene e limpeza, de cuidados com o meio ambiente e novos hábitos em um novo normal, são providencias que podem antecipar o retorno às aulas com segurança.

É notório que o mundo passa por um novo processo de adaptação e que não devemos negligenciar novas ondas de endemias e pandemias.

Estamos diante de um mundo em que a biotecnologia e a segurança de ambientes com monitoramento permanente serão normais em um século marcado por esta tragédia sem precedentes.

Abrir as escolas é mais que uma ação para eliminar desigualdades sociais, uma necessidade para ter um futuro competitivo.

Nossa educação tem esta ranqueada entre as piores do mundo e sequer temos um postulante ao Nobel.

A paralisação com a pandemia piora ainda mais este cenário e este é o maior desafio que enfrentamos.