Cartão-postal de Niterói chega aos 25 anos querendo mais

Como parte das comemorações pelos 25 anos do MAC foi criado, de forma participativa, um Plano Museológico focado nos próximos cinco anos de atividade do equipamento de Cultura - Foto: Douglas Macedo / Prefeitura de Niterói

Niterói
Tpografia
  • Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
  • Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Na próxima quinta-feira, dia 2 de setembro, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC) completa 25 anos. Em meio ao desafio de "sobreviver" à pandemia de covid-19, um dos principais equipamentos de cultura da cidade desenvolve ações para se manter um espaço democrático e de valorização da cultura local. Enquanto atrativo turístico, dentro do possível no novo normal, continua atraindo e encantando visitantes com suas formas sinuosas e localidade de beleza exuberante. De olho no futuro, o MAC agora também conta com um Plano Museológico, que teve a colaboração de todos que desejam vida longa para o grande símbolo de Niterói.

Em maio de 1991, o arquiteto Oscar Niemeyer e o então prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira, procuravam na orla da cidade um terreno adequado para a construção do Museu de Arte Contemporânea de Niterói. No mirante da Boa Viagem, eles encontraram o local perfeito para o novo equipamento de cultura.

"O MAC, além de patrimônio nacional e grande referência arquitetônica, é parte da identidade cultural de Niterói, símbolo da cidade. A contribuição do museu para o território percorre diversos eixos fundamentais para a sociedade: expressão artística, turismo, educação, inclusão, entre outros. Um espaço cultural tem a função de acolher toda a diversidade e pluralidade da comunidade, e o MAC faz isso com excelência", afirma o secretário das Culturas de Niterói, Leonardo Giordano.

No mesmo ano de 1991, no dia 15 de julho, a população ficou conhecendo o anteprojeto do MAC, considerado surpreendente. Inaugurado em 2 de setembro de 1996, superando todas as expectativas, o MAC projetou a cidade de Niterói para o mundo, se tornando um dos principais pontos turísticos do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil.

"São 25 anos desde que Niterói ganhou esse marco cultural. Os traços geniais de Niemeyer hoje abrigam uma das mais importantes coleções de arte contemporânea do país, a de João Sattamini. É um patrimônio grandioso. São 25 anos oferecendo o melhor da cultura para a cidade, para o país e para o mundo. Hoje, a consolidação do Plano Museológico é o fortalecimento do diálogo com o território. São estratégias fundamentais que colocam o MAC nas melhores práticas de gestão museal. O MAC exerce um papel fundamental, ao longo da nossa história, de formação da identidade cultural da cidade e do Brasil".

Parte do sucesso do MAC está na arquitetura do museu, como explica José Pessôa, professor titular da Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFF.

"A arquitetura de Oscar Niemeyer é popular porque ele desenvolveu uma versão brasileira da arquitetura moderna internacional do século XX. A busca da beleza plástica traduzida pelo arrojo tecnológico de grandes vãos como poucos apoios e formas livres enfatizadas por curvas. A flor, o cálice, o disco voador, suspenso na beira de um penhasco junto ao mar, bem como a uma integração inusitada com o local no qual está implantado. A rampa de acesso num percurso inusitado, que leva o visitante a percorrer visualmente toda a paisagem ao redor do museu, no fundo, são formas simples, mas que traduzem esse Brasil moderno da época", explica Pessôa.

Aos 70 anos, o artista plástico César Coelho Gomes teve o privilégio de assistir toda a construção do MAC da Janela de casa, na Boa Viagem.

"Acho o MAC maravilhoso, uma obra única. Em tudo. Antes era mato, havia um trailer que vendia cachorro-quente, cerveja… era um lugar para namorar e bater papo. De repente começou a surgir a grande flor, na expressão do próprio Oscar. Parecia realmente que brotava do chão. Foi muita emoção acompanhar. Mudou a cidade, não só a paisagem, mas principalmente o tipo de visitante. Gente de todo o Brasil e do mundo. Ouço todas as línguas em volta. Me lembro também de ver um livro sobre Niemeyer em uma vitrine de uma livraria em Paris com o MAC estampado. Niterói no mundo", orgulha-se o artista.

Frequentador assíduo do espaço, César afirma que frequenta todas as exposições que o espaço oferece, e também participa enquanto artistas de outras. Para o artista, estar no espaço é um privilégio, mesmo que seja apenas para tomar um pouco de sol na área externa.

"Esta paisagem sempre me inspirou. Niterói tem uma rica tradição de pintura ao ar livre. Nos anos 90, eu pintava muito por ali, com Roberto Paragó, grande mestre no gênero. O MAC veio completar o cenário. O contraste de seu modernismo, suas linhas arquitetônicas ousadas, com a exuberância da paisagem, mas também com a igrejinha da Boa Viagem e a Fortaleza de Santa Cruz. Esse contraste me lembra todos os dias que Niterói tem por vocação e destino ser um campo fértil para as artes", filosofa.

Uma das apostas para a retomada econômica nacional, o turismo regional é uma das alternativas mais apontadas por especialistas para a geração de emprego e renda após a pandemia. Segundo o Ministério do Turismo (MTur), o segmento é imprescindível para o desenvolvimento da economia de 96,7% dos municípios do Rio de Janeiro. Nesse sentido, enquanto atrativo turístico, o MAC também reúne diversas qualidades, como explica o coordenador do Mestrado em Turismo da UFF, Marcello Tomé.

"Trata-se de uma edificação com uma forma altamente atrativa turisticamente, amplamente divulgada em cartões postais, livros, jornais e revistas. Também tem função que desempenha como museu, com um acervo relevante de arte contemporânea. O MAC soma forma, função e muito mais, pois ainda encontra-se localizado em um local de elevadíssima beleza cênica, possibilitando a visualização da Baía de Guanabara, Pão de Açúcar, o Corcovado e outros atrativos turísticos reconhecidos e almejados internacionalmente", destaca Tomé.

Desde sua concepção, o local recebeu a missão de abrigar a Coleção João Sattamini, um dos principais acervos de arte contemporânea do Brasil. A reabertura ao público em 2016, depois de passar por um conjunto de obras, com investimentos públicos da Prefeitura de Niterói e do Governo Federal, também foi um primeiro momento para o museu repensar sua visão e missão como lugar de criação, arte e cultura, e assim, construir novas diretrizes, que agora em 2021, voltam a ser lapidadas.

Ao mesmo tempo em que se torna um jovem veterano entre os cartões postais mais conhecidos do Brasil, o MAC também sobrevive à pandemia de covid-19 e, assim como todo o setor da Cultura, tendo que se reinventar.

"Iniciamos atraindo novamente os artistas da cidade para o museu. A maioria absoluta das exposições esse ano foram de artistas da cidade. Isso reconecta o museu com uma parte do seu público. Sempre tomando diversos cuidados com a saúde tanto do público, quanto dos funcionários. Os protocolos de segurança seguem rígidos e o horário de funcionamento reduzido, das 11h às 16h. Temos trabalhado a retomada aos poucos. Neste mês de agosto voltamos a ter visitas mediadas, com público ainda reduzido e também realizamos exposições virtuais", explica Victor De Wolf, diretor do MAC Niterói.

O Museu chega aos seus 25 anos com muita vontade de celebrar a arte, de expor sua coleção e de planejar seu futuro, para atingir mais 25 anos em plena forma. No dia 7 de setembro terá início uma vasta programação de artes visuais ocupando todos os espaços do museu: interior, praça e rampa. E também o ambiente virtual.

Celebrando o presente, sem tirar o olho do futuro, o espaço se prepara para os próximos anos com a criação do Plano Museológico, idealizado de maneira participativa.

"O Plano Museológico é um planejamento estratégico de 5 anos para museu, que iremos apresentar à sociedade dentro das comemoração dos 25 anos. De forma participativa, abrimos o museu para as diversas opiniões de moradores, artistas e produtores. Muitas pessoas que, inclusive, nunca tinham entrado no museu opinaram sobre como devem ser os próximos 5 anos do MAC. E tudo feito com participação popular, através de webinários e consultas públicas. Esse museu, é o símbolo da nossa cidade, nosso orgulho. Assim como também temos orgulho da arte contemporânea brasileira" conclui De Wolf.