Esperança para a Baía de Guanabara

Jornalista lançou livro-reportagem em 2016 e agora fez atualização - Foto: Arquivo pessoal

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Durante a graduação em jornalismo na Universidade Federal Fluminense (UFF), o então estudante Emanuel Alencar acompanhou alguns conflitos na Serra da Tiririca, descobrindo uma paixão pelas questões ambientais. Esse interesse nutriu sua caminhada na academia e dentro da profissão, tornando o jornalista uma das mais importantes referências da área ambiental e sustentável no Estado. E em meio a essa construção, Emanuel conduziu estudos sobre a Baía de Guanabara, que tiveram como resultado o livro-reportagem "Baía de Guanabara: descaso e resistência", lançado em 2016, um mês antes do início das Olimpíadas Rio 2016. O evento, inclusive, foi apontado por políticos e órgãos fluminenses como o prazo final para a promessa de despoluição da Baía, o que nunca chegou a ser concretizado.

"Na época houve uma enorme confusão, porque o governo disse que iria despoluir 80% da Baía em 2012, mas já em 2013 foi admitido que não seria possível. Um dos pontos que destaco, inclusive no livro, é que não houve uma organização sobre qual seria o foco, fosse em retirada de lixo, poluição sonora ou tratamento de esgoto. Foi uma meta ousada, além da escolha por tecnologias ambientais de difícil operação", contou. Segundo Emanuel, atualmente 18 mil litros de esgoto não tratados por segundo e mais de 90 toneladas de lixo sólido por dia são descartados na baía.

Hoje, meia década depois, o livro de Emanuel recebeu uma segunda edição, com mais 28 páginas de atualização, onde foram incluídos impactos pós-Olimpíadas. Em uma apuração mais madura, o autor revelou alguns dos principais problemas no cuidado da Baía, em relação à falta de investimentos, desvios de verbas e ausência de tubulações no saneamento. Além disso, são dissecados alguns pontos de iniciativas já aprovadas para os próximos anos, que, de acordo com o jornalista, podem acarretar ainda mais dificuldades.

"As favelas estão fora das principais metas de reorganização dos tratamentos de esgoto que desaguam na Baía. Como resolver um problema como esse sem apontar para desigualdades? Se as ações ocorrerem divorciadas de uma questão social e uma governança transparente, vamos cair nos mesmos problemas de sempre", comentou.

Transparência e interesse - A transparência, inclusive, é algo que Emanuel utiliza em conjunto com a informação acessível dentro do seu trabalho. Em janeiro foi convidado para assumir a assessoria de Sustentabilidade e Transparência da Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio, onde evidencia outras soluções e problemáticas ambientais na cidade, que é um dos municípios que cercam a Baía de Guanabara.

"Trabalho com minha visão de jornalista, sabendo as informações que são mais importantes para os veículos, entendendo a forma como isso pode ser repassado, e estruturando a comunicação por meio das redes sociais de modo que a população possa ter uma rápida resposta sobre ações", explicou.

Para o autor, embora ainda possam existir mudanças essenciais em meio à preservação da Baía, uma melhora significativa em comparação com a época das Olimpíadas se deu com o reconhecimento do problema por parte dos órgãos competentes, e também pelo maior interesse da sociedade sobre o assunto, com ênfase nos jovens.

"As novas gerações estão muito mais preparadas para isso. Hoje vejo muita movimentação e diversas ações que eu não via há 15 anos. A democratização da informação também segue sendo importante para isso, ainda mais por meio da internet".

Privatização da Cedae- Para Emanuel, a expectativa em torno do futuro da Baía de Guanabara cresce com a concessão dos serviços da Cedae. Na modelagem feita pelo BNDES, ocorrerá a universalização em todo o Estado do Rio em 2033, num investimento aproximado de R$30 bilhões. "A Guanabara deve receber, nos próximos cinco anos (até 2025), R $500 milhões por ano do programa de concessão de saneamento aprovado no Estado. É bem mais do que o aporte recente, mas se será suficiente para reverter o cenário de degradação apenas o tempo dirá".

Alencar afirma que os investimentos privados poderão surtir efeito positivo, se bem acompanhados pela população e regulados em planejamentos eficazes. "Para além das pequenas ações a curto prazo, cabe à população fluminense decidir se a Guanabara limpa é, de fato, uma demanda social, assim como são melhorias em saúde, educação, habitação, transporte público e segurança. A agenda ambiental, achincalhada pelos defensores da retrógrada visão de que a proteção ambiental impede o desenvolvimento econômico, segue relegada a segundo plano", destacou Emanuel Alencar.