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Dom José Francisco*

No dia 11 de março de 2020, a OMS reconheceu que uma nova doença, de alto poder de contágio, se espalhara pelo mundo, e novas palavras foram incorporadas aos nossos costumes: Covid-19, pandemia, isolamento social, achatamento de curva, imunidade de rebanho... entre outras.

Na tarde de 27 de março do mesmo ano, algo aconteceu como um divisor de águas para nosso mundo. Sempre houve imagens de impacto, mas nada comparado à cena do Papa Francisco num Vaticano completamente vazio, um vazio inédito na história bimilenar da Igreja: a praça de São Pedro sem um único fiel, e o Papa caminhando, sozinho, lentamente, na imensidão da praça, naquele entardecer chuvoso.

Jamais qualquer diretor de cinema seria capaz reproduzir o momento em sua majestade. Era como uma Bíblia silenciosa aberta, para todos.

Quando o Crucifixo da igreja de São Marcelo, objeto de devoção dos italianos desde 1519, ao qual foi atribuído o fim da Peste Negra, foi elevado no centro do evento, o Papa proferiu uma das frases de maior intensidade do seu pontificado: "Uma profunda escuridão se abateu sobre nossas praças, ruas e cidades. Ela tomou conta de nossas vidas, preenchendo tudo com um silêncio ensurdecedor e um vazio angustiante... Estamos no mesmo barco, frágeis e desorientados, ao mesmo tempo, importantes e necessários, todos convocados a remar juntos, cada um precisando confortar o outro".

Naqueles dias, era praticamente impossível prever o futuro: todas as alternativas e possibilidades estavam embaçadas.

E hoje, o que esperamos?

Que um novo normal ocupe seu lugar. Que possamos aprender com as lições do passado. Outras pandemias já nos abateram, desfigurando a beleza e desmascarando nossa fragilidade.

O maior aprendizado do momento é que não há mais como não seguir em frente.