A liberdade é o nosso selo mais precioso

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Charbel Tauil Rodrigues*

Tomamos conhecimento pela Imprensa que a prefeitura de Niterói está por lançar um selo ("Pró-Vacina - Aqui estamos vacinados") para os estabelecimentos que tiverem seus funcionários imunizados. É o tipo de iniciativa "simpática", que de pronto tende a agradar muita gente, pelo seu jeitão "politicamente correto" e voltado para, digamos assim, "o bem-estar geral" da sociedade.

Só que não é desse jeito. E por isto convido o leitor a fazer algumas reflexões a respeito desse gesto de aparência tão útil, inocente e benfazeja.

Em primeiro lugar, o Poder Público brasileiro, como um todo, precisa acabar com a mania histórica de se intrometer naquilo que diz respeito à esfera privada. Um selo na linha "Aqui estamos todos vacinados", como estaria pretendendo a prefeitura, é algo que cabe ao empreendedor decidir se quer instituir, como um diferencial positivo para o seu estabelecimento. Na área da Hotelaria, por exemplo, é muito comum que a empresa, ao obter algum certificado ou implantar algum novo procedimento do equipamento moderno, corra para destacar - por conta própria - o feito. É mais um chamariz para se destacar no cenário, ganhando vantagem perante a concorrência. Mas isto, vale repetir, é algo para ser decidido pelo empresário, e não pelos mandatários do momento.

Agora convenhamos: é o fim da picada, uma prefeitura criar uma chancela oficial, estruturar todo um fluxo burocrático de exigências e, claro, colocar funcionários especialmente para auditar e "conceder a graça" oficial do selo. É algo imperial, no melhor estilo do Brasil Colônia. Imagine-se o custo disto para os cofres públicos!

Mas vamos em frente. Em segundo lugar, cabe também fazer a ressalva de que nem sempre depende do patrão o fato de os funcionários estarem todos vacinados. Até mesmo porque algumas pessoas simplesmente não podem (ou não devem) ser vacinadas - grávidas, por exemplo. E mesmo uma equipe que esteja 100% vacinada neste momento poderá não o estar mais, daqui a uma ou duas semanas, porque muitas vezes ocorrem demissões e contratações. E aí, a prefeitura vai passar e retirar o selo do estabelecimento? A quem caberá fazer isto, aliás? E como será monitorada a situação vacinal de cada equipe, em cada turno, em cada estabelecimento?

Terceiro lugar: quando a prefeitura lança um selo que será concedido a "todos os estabelecimentos da cidade" que tenham equipes 100% imunizadas, deve-se imaginar que o Poder Público local tem o invejável dom de auditar, simultaneamente, todos os estabelecimentos existentes no Município, a eles distribuindo selos de distinção. Belíssimo. Não sabíamos de tamanha eficiência.

Quarto lugar: quando se fala em "todos os estabelecimentos", queremos crer que a bendita chancela não será apenas para o Comércio. Iremos exigir que o tal selo seja também justificadamente atribuído, afixado e auditado em cada ônibus, em cada sala de espera de laboratórios e clínicas médicas, em escritórios de profissionais liberais, e ainda em cartórios, fóruns, escolas e universidades. Ah, sim, e também em cada uma das repartições da Prefeitura. Ela, por sinal, deveria dar o exemplo e começar a checar se 100% dos seus funcionários e cargos de confiança (são muitos!!!) estão devidamente imunizados e, em caso positivo, cada andar do edifício do Executivo passará a ter um vistoso painel de selos para ostentar.

Por último, mas não menos importante: se a prefeitura está com tantos recursos humanos e financeiros para gastar com chancelas imperiais, porque não começa a efetivamente trabalhar em algo mais sólido e produtivo? Poderia ser a viabilização de um Centro de Convenções para Niterói, como tantas vezes nós do Sindilojas temos pedido, ou então o planejamento de um melhor final de ano para a cidade, com uma programação diferenciada de eventos e atrativos.

Os empreendedores estabelecidos em Niterói não precisam de "chancelas concedidas" pelo Poder Público, e sim que este, podendo, não os atrapalhe. Se possível for, que os auxilie com alguma providência útil. E só.

O resto, resolveremos como sempre resolvemos: com muito trabalho, liberdade e amor à nossa cidade.