Canal de Itaipu: nada mudou

Após três meses, máquinas deixaram para trás no canal de Itaipu apenas um filete de água de quatro dedos de profundidade - Foto: Divulgação/Gustavo Supmann

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Depois de três meses de trabalhos para tentar desobstruir o canal que liga a Lagoa de Itaipu ao mar, as duas máquinas que tentavam remover a areia que bloqueia a passagem de água foram retiradas pela Prefeitura de Niterói nesta última semana, deixando para trás um serviço "meia boca". Segundo frequentadores do local, apenas um filete de água com quatro dedos de profundidade corre no local. Na lagoa a água permanece escura e com mau cheiro. O canal foi aberto na década de 1970 para permitir a renovação da água da lagoa, que até hoje sofre com despejo de esgoto. Nos últimos anos, foi assoreado por sucessivas ressacas. E pode ser fechado de vez novamente com a próxima, prevista para os próximos dias.

A retirada das máquinas, no entanto, não deve mudar muito o destino da lagoa. Frequentadores do local contam que nos três meses que ficaram no local, passaram a maior parte do tempo paradas, sob a sombra de uma árvore.

"Foi isso que a gente viu. Essas máquinas ficaram paradas por semanas, se movimentando apenas durante umas poucas horas. Não sabemos se tinham ordens de ficar paradas, se a prefeitura deixou as máquinas aqui só para dizer que estava fazendo alguma coisa", conta o professor de stand up paddle Gustavo Supmann, uma das principais lideranças locais, lembrando que a Lagoa de Piratininga, que tem ligação com a de Itaipu, está também poluída. O canal do Tibau, que faz sua ligação com o mar, também está obstruído.

Para o vereador Daniel Marques (DEM), que já foi secretário municipal de Meio Ambiente, o problema do sistema lagunar de Niterói exige mais do que a simples desobstrução de canais.

"A solução para a lagoa é acabar com a contribuição de esgoto. Isso passa pelo plano de saneamento, com a revisão do contrato com a águas de Niterói. Algo que eu venho batendo desde o meu primeiro mandato. (...) Não tem um plano sério de ligar as propriedade às redes, (...) de apoiar o saneamento nas comunidade. Esse é o ponto principal", defende.

Segundo o vereador, a prefeitura investiu milhões em estudos e apresentou 13 alternativas para as lagoas.

"Apresenta os cenários para a população, opta por um e executa. Isso é o que está faltando. Tem que executar um projeto conversando com a população. Se der certo, golaço. Se não der, todo mundo divide a responsabilidade e opta por outro. o que não dá mais é ficar parado estudando e não agir", critica.

Nesta semana, o deputado estadual Coronel Salema (PSD) solicitou ao governador Cláudio Castro que sejam realizadas obras de desobstrução do túnel do Tibau para impedir nova mortandade de peixes.

"Os problemas ambientais da região se arrastam há anos e tenho recebido muitas denúncias de moradores e ouvido especialistas no tema. Desta forma pretendo analisar de que forma posso ajudar de maneira efetiva", destacou o parlamentar, que neste domingo (24) estará no local para conhecer o problema de perto. Ele vai fazer fiscalização com auxílio de um barco e após a vistoria vai conversar com ambientalistas para definir ações.

Procurada pela reportagem, a prefeitura, que assumiu junto ao Inea a responsabilidade pela gestão do sistema lagunar, não se manifestou até o fechamento desta edição, mas para moradores, teria justificado a demora para solucionar o problema alegando que uma ação definitiva demanda tempo de estudo.

A resposta, no entanto, não convenceu moradores. Segundo eles, o problema não é de hoje e o atual grupo político que governa a cidade está se alternando no poder desde o governo Jorge Roberto Silveira (PDT), que era aliado do PT de Godofredo Pinto e de Rodrigo Neves, que hoje também está no PDT, assim como Grael, todos seus sucessores.

Já a concessionária Águas de Niterói informa que toda a bacia em torno das Lagoas de Piratininga e Itaipu possui rede coletora de esgoto, mas alguns moradores ainda não se conectaram e lançam seus esgotos nas redes pluviais. A concessionária, em apoio ao Inea, através do Projeto Se Liga, e em apoio à Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade, com o Projeto Ligado na Rede, vem intensificando as fiscalizações constantes na região.