A espontaneidade

Dom José - Foto: Thiago Maia/ Divulgação

Cidades
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Dom José Francisco*

De tudo o que irá ficar em nossa vida, o mais relevante serão a verdade e o perdão. Mas a rota desses sentimentos é a espontaneidade quem dá. Se você fizer um balanço do ano, pergunte sobre o perdão, mas também sobre a verdade que faz do perdão um gesto espontâneo. Pode haver gestos de perdão que não sejam verdadeiros, não é?

Jesus de Nazaré entra em cena no século I como um profeta misericordioso, em atos e palavras, cheio de compaixão e de perdão. Mas ele jamais renunciou à espontaneidade da verdade.

Um dia, na Galileia, ele se encontrava em casa de um tal Simão, fariseu: ambiente hermeticamente fechado, dispensado dizer. De repente, entra uma mulher reconhecida pelos homens sérios como pecadora pública, um codinome para prostituta. Sem mais, ela se aproxima, quebra um vaso e inunda os pés de Jesus com um perfume raro.

Os corpos se levantam das cadeiras, os olhos injetam sangue. A irrupção da mulher com seu comportamento provocante teve o ruído de uma bomba no deserto. Mas a mulher, ela mesma, permaneceu silenciosa. Tudo o que se propunha a dizer, na verdade, não disse: ela fez.

Não seria escusado perguntar de onde teria saído dinheiro para um gesto tão caro, nem como foi obsequiada a entrada em ambiente tão refinado. Por acaso, ela mesma não faria parte da história daqueles mesmos homens, de quem tão sisudamente recebia condenação? Senão, como estaria ali, como faria parte, como se aproximaria do convidado principal?

Se nada sabemos, tudo calamos.

Que ela foi corajosamente espontânea e verdadeira, não há como duvidar: onde for proclamado o Evangelho seu gesto será contado.

Era a conquista de tempos bons, nos quais a verdade se impõe por si mesma, abertamente, sem medo de aparecer, porque conta com o perdão, cuja maior verdade é a de perdoar.

Bom Ano para todos!