Indústria em momento difícil

Pandemia da covid-19 e a Guerra na Ucrânia contribuem para a manutenção de um quadro adverso para a indústria - Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

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A produção industrial apresentou relativa estabilidade no mês de abril de 2022 - variação de 0,1% na comparação com o mês anterior. Apesar de ser o terceiro resultado positivo consecutivo, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Firjan considera que o ritmo de crescimento tem se mostrado bastante lento. No acumulado do ano, inclusive, houve perda de 3,4% frente ao mesmo período de 2021. Para efeitos de ilustração, considerando que o nível da produção permanecerá o mesmo até o final do ano, a produção industrial do acumulado de 2022 será 0,5% menor do que o registrado no ano passado. Esses dados mostram que os efeitos perversos dos problemas relacionados à cadeia logística, que seguem desde a crise sanitária, estão longe de serem revertidos.

A paralisação do porto de Xangai, na China, em função de um surto de covid-19, aliada à guerra na Ucrânia, vem contribuindo para a perspectiva de manutenção de um quadro adverso para a indústria, dadas as incertezas em relação à aquisição de insumos e à elevação dos custos. Nesse sentido, diversos segmentos industriais já vêm sendo impactados por essa escassez, como o setor automobilístico, um dos mais afetados, que apresentou expressivo recuo em abril (-4,2%), com o conflito no Leste Europeu.

Além disso, a expectativa de um novo aumento na Selic ainda neste mês é mais um fator relevante para os custos de produção da indústria. Ademais, no ano passado, o boom do preço de commodities, como petróleo e minério de ferro, representou um incentivo ao aumento da produção de alguns segmentos industriais. No entanto, apesar das recentes altas dos preços desses insumos, a expectativa é de que o estímulo à produção não se perpetue, pois espera-se forte desaceleração da economia mundial no segundo semestre do ano e a redução da demanda.

Portanto, embora a indústria tenha apresentado resultados ligeiramente positivos desde fevereiro, a Firjan ressalta que o cenário segue bastante nebuloso. Os efeitos danosos da guerra, com o comprometimento da eficiência da cadeia global de insumos, devem continuar representando relevantes desafios no curto prazo. Logo, é imperativo avançar na agenda de políticas industriais, mitigando os gargalos estruturais enfrentados há anos pela economia brasileira. Só assim será possível garantir um crescimento sólido de longo prazo à indústria brasileira.

PPP - Sondagem Industrial Especial, divulgada pela Firjan, destaca que 73,3% das indústrias fluminenses entrevistadas afirmam que em março o aumento do custo dos insumos e matérias-primas nacionais foi acima das suas expectativas. A Firjan aponta ainda que 37,4% dos industriais ouvidos na pesquisa também indicam que aumentou acima das suas expectativas a dificuldade para aquisição dos materiais dentro do prazo esperado.

Foram entrevistadas pela Firjan 345 indústrias do estado do Rio. Entre aquelas que utilizam insumos e matérias-primas importados, 60,8% declaram que o aumento desses custos superou suas expectativas e 45,2% dizem que sentiram aumento na dificuldade de conseguir os materiais dentro do prazo.

Para 31,3% dos entrevistados a normalização da oferta nacional só ocorrerá em 2023. Entre aqueles que compram os materiais importados, esse número sobe para 40,4%. A Firjan ressalta que na pesquisa anterior, realizada em novembro, 60% das empresas acreditavam que a oferta seria normalizada no primeiro semestre de 2022.

A Sondagem Industrial Especial revela ainda que, em março, 37,4% dos industriais fluminenses ouvidos pela Firjan foram afetados negativamente pelo conflito no Leste Europeu.

Entre os efeitos da guerra está o aumento do custo da energia, citado por 63,6% dos entrevistados. O aumento do preço dos demais insumos e matérias-primas é apresentado por 51,9% das empresas. Além disso, 41,9% delas relatam dificuldade para adquirir os materiais.