Dom José Francisco*
Passadas as grandes festas, o Ano da Liturgia prossegue tranquilo, como um grande veleiro, saindo do cais e atingindo o alto mar.
É inevitável a revolta das ondas.
Sabemos que estamos preparados para enfrentá-las, quando, ao fazer o inventário das experiências e histórias que temos para contar, descobrimos o quanto elas nos mantêm firmes nos propósitos. Nossas histórias carregam os personagens da nossa tripulação, e é bom que eles estejam preparados para não nos permitir naufragar.
Então, aqui vai uma delas.
George Brummell ficou famoso no século XVIII pela sua boa conversa e extrema elegância: foi ele quem inventou as fivelas nos sapatos e o nó nas gravatas. O Príncipe de Gales, seu amigo e admirador, abria com frequência as portas da corte para ele, e lhe concedia os melhores assentos nas mesas de jantar.
Seguro da sua popularidade e da autoridade que vinha ganhando junto às cortes, um dia, Brummell perdeu a noção de onde estava, de quem era e de como deveria se portar. E, durante um jantar de gala, disparou comentários inapropriados sobre a obesidade do príncipe, a quem ele já havia apelidado de "Big Ben".
Naquela época, vejam bem, a esbelteza era uma qualidade importante num monarca.
Naquele dia, vendo que o serviço de mesa demorava, Brummell, sem mais, solicitou ao seu anfitrião, em tom jocoso: Toque o sino, Big Ben!
O sino foi tocado, sim.
Mas quando o serviçal chegou, o príncipe ordenou-lhe mostrar a porta da rua ao comensal, e nunca mais convidá-lo.
Mesmo caído em desgraça real, Brummell manteve sua arrogância. E, assim, terminou a vida: sozinho.
É que lhe era difícil determinar, com precisão, onde ficava o fio tênue que separa uma brincadeira infantil de uma comparação agressiva, dessas que ofendem a todos: sejam príncipes ou homens
comuns.
Brummell e o Big Ben
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