E por falar em honestidade

Por Dom José Francisco - Foto: Thiago Maia/ Divulgação

Niterói
Tpografia
  • Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
  • Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Em 1850, com 35 anos, Otto von Bismarck era representante do parlamento prussiano e passava por "maus bocados". Havia de tudo no reino da Alemanha, inclusive uma guerra contra a Áustria. E desde o príncipe Guilherme, ungido na linha de sucessão, todos não viam a hora de mobilizarem suas tropas. Em toda sua carreira, Bismarck sempre fora um leal e apaixonado defensor das coisas reais. Era um ex-soldado, daqueles que preferiam, por experiência, que as grandes questões entre os Estados fossem definidas, não com palavras, mas com ferro e sangue. A guerra, para ele, era sempre um negócio glorioso.

Não entanto, no auge da guerra, Bismarck fez um discurso no parlamento que deixou a todos atônitos. "Desgraçado o estadista - disse ele - que faz guerra sem uma razão que continuar válida quando a guerra terminar! Sim, porque depois da guerra, todos verão essas mesmas questões de outra forma, completamente, diferente. Quem, então, nessa hora, terá coragem de consolar o camponês, que contempla as cinzas da sua fazenda, o homem, que ficou sem suas pernas, o pai que perdeu seus filhos?"

Essa é a loucura da guerra: uma das poucas situações humanas em que não existe nem varejo nem atacado, porque as perdas humanas jamais assim poderão ser catalogadas. Se alguém perde os dois braços ou um só, os cinco filhos ou um só, a diferença só será numérica para os de fora, para a plateia, para quem tanto aplaude quanto ulula, para quem não sabe o que é perder, muito menos avaliar o que foi perdido. Não é?

Bismarck acabou derramando tinta sobre sua biografia. Mas esta é outra história. Naquele momento, ele foi honesto, mas a sua honestidade era uma faca sem fio: mais sangra

do que corta. No século XXI, ela acabou sem fio nem corte, porque esse, afinal, é o século das coisas que só parecem ser!