O sabor da liberdade

Dom José Francisco - Foto: Thiago Maia/Divulgação

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Dom José Francisco*

Muita gente já perguntou, a respeito desta guerra, se isso é da vontade de Deus. Se for, podemos estranhar essa disposição divina.

Mas, se não for, a situação se agrava ainda mais, pois como é que algo pode acontecer de forma contrária à vontade de um Poder Absoluto? Qualquer um, mesmo investido de autoridade suprema, sabe que as coisas podem sair em desacordo com o projeto original.

Mas, aí, aparece um problema que sempre rondou os outros problemas da filosofia e da teologia. Deus, afinal, tem autoridade ou tem poder?

A diferença é simples: a autoridade ordena que algo seja feito. O poder, não: o poder faz. Deus não consultou ninguém para criar o universo nem pediu alvará de licença para abrir o Mar Vermelho. Ele fez. Não foi?

Agora, se as coisas não saem conforme a engenharia original, não significa que algo tenha escapado à vontade divina, e isso que vou dizer é de difícil aceitação. É que também faz parte da vontade divina que as coisas possam escapar ao ideal primitivo, e por uma única razão: Deus fez o mundo livre, e o mundo acabou se achando tão livre, que tentou se livrar até do Criador.

Conhecem aquela mãe, que diz aos filhos: "Vocês precisam aprender a deixar tudo em ordem antes de dormir?" Pois é. Mas na surdina da noite, ela vai lá e constata, em absurda contravenção, que todos os brinquedos estão espalhados pelo quarto; e isso vai contra a vontade dela, que preferia ter filhos organizados. Mas, por outro lado, foi a vontade dela que deixou as crianças livres para aprenderem a se organizar. Foi assim que saímos da horda primitiva!

Mais uma? Ainda que não faça parte da pretensão inicial, se o professor deixar o dever de casa à espontaneidade voluntária, metade dos alunos não farão. Por quê? Porque a liberdade sempre falou mais alto.