UFF: 60 anos de excelência

Campus e reitoria: o maior desafio é manter as atividades essenciais no contexto de restrição orçamentária e de diminuição da mobilidade. Contudo, a consolidação da instituição ao longo de seis décadas é o maior legado desta jovem senhora - Foto: Marcelo Feitosa

Niterói
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No próximo dia 18 a Universidade Federal Fluminense (UFF) completa 60 anos. Uma trajetória de excelência em formação e produção científica, com reconhecimento internacional e um imenso impacto social. Um trabalho que mais uma vez se reafirma como fundamental em um período em que o mundo enfrenta uma das suas piores crises de saúde de todos os tempos. Em entrevista a O FLUMINENSE o reitor Antonio Claudio Lucas da Nóbrega revela os desafios e vitórias da universidade neste momento que é ao mesmo tempo de comemoração e de enfrentamento.

 

Quais os desafios de chegar aos 60 anos tendo que se reinventar em uma sociedade em meio a uma pandemia?

O maior desafio é manter as atividades essenciais funcionando no contexto de restrição orçamentária e de diminuição da mobilidade, bem como garantir as condições para que as atividades acadêmicas remotas ocorram de forma satisfatória, incluindo todos os estudantes e mantendo na nossa comunidade a percepção de realização em função do coletivo que nos caracteriza como universidade pública.

Por falar nisso, de que forma a chegada da covid-19 interferiu no trabalho acadêmico da UFF?

A comunidade acadêmica não parou um dia sequer nesta pandemia; pelo contrário, a UFF se manteve ainda mais vibrante e ativa. Inicialmente, houve um momento de adaptação da rotina e de reinvenção do processo de trabalho. No entanto, foi tudo muito rápido, as ações precisavam ser ágeis e assim aconteceu tanto com as ações de gestão administrativa, suspensão dos trabalhos presenciais, normativas, parcerias com as prefeituras dos municípios onde a UFF tem campi, como também com as iniciativas da comunidade acadêmica em prol da sociedade, produção de pesquisas de combate à covid voltadas para ações de solidariedade e responsabilidade social, bem como de análise da atividade econômica, produção de tecnologias e insumos de proteção contra o vírus, máscaras face shield, produção de álcool em gel, ventilador mecânico e peças para equipamentos de hospitais, cabines de testagem e, por fim, também os projetos em que muitos profissionais, docentes e estudantes se envolveram no atendimento da população via Hospital Universitário Antonio Pedro e rede de saúde. Assim foi este ano: a pandemia não interrompeu nossas atividades; ela impôs uma transformação e a comunidade da UFF, em prol da sociedade, com determinação e coragem, se reinventou em um espírito solidário, criativo e inovador.

Apesar de todos os desafios atuais, a universidade ainda se destaca internacionalmente. Como manter esse grau de excelência em um contexto social e político que muitas vezes não está alinhado com o setor da educação?

Considero que a UFF sempre esteve, e agora ainda mais, conectada às necessidades e aos desafios da sociedade brasileira, tanto os atuais quanto os emergentes. Ao mesmo tempo, somos uma universidade também voltada para as relações com o mundo todo. Não há como negar que o aperto orçamentário impactou as possibilidades de realizarmos ainda mais e em alto nível. Nosso potencial é infinito, mas os recursos são reduzidos, insuficientes e decrescentes.

Por falar em política, a parceria com a Prefeitura de Niterói parece render bons frutos. Acha que esse tipo de trabalho conjunto, com as esferas municipais e estaduais tende a crescer?

Sem dúvida! Esta é uma marca muito forte da nossa gestão. Somos uma Universidade Pública Federal, com princípios constitucionais e papéis fundamentais muito claros para o desenvolvimento social e econômico do país. É muito importante que as universidades públicas estejam em colaboração e em parcerias com os poderes públicos, a fim de desempenhar esta missão básica da instituição. Este trabalho conjunto traz grandes transformações: você une ciência, inovação e política em prol da sociedade. As parcerias desenvolvidas com a Prefeitura Municipal de Niterói são um exemplo muito positivo disso, como o centro de testagem pública para a covid, o investimento em pesquisas para o plano "Niterói que Queremos", o fomento em economia criativa, o novo Cinema Icaraí, além de outras que estão por vir.

Todo mundo quer saber sobre o Cinema Icaraí, a quantas anda e se tem uma estimativa de prazo para voltar a funcionar.

O Cinema Icaraí foi cedido para a Prefeitura Municipal de Niterói no acordo de cooperação para construção do prédio do Instituto de Arte e Comunicação Social. Toda informação sobre o processo de entrega do projeto, licitação e prazos é cedida diretamente pela prefeitura, mas monitoramos todos os passos, ainda mais considerando que o local será a sede da nossa Orquestra Sinfônica Nacional. Mesmo em meio à pandemia, a prefeitura encaminhou o projeto, que já foi aprovado pelo órgão municipal de patrimônio histórico e no momento encontra-se em análise pelo órgão estadual correspondente.

Com tantas atividades desenvolvidas, que trabalho poderíamos destacar como a 'menina dos olhos' da UFF, hoje?

Estamos muito orgulhosos da gestão financeira e de patrimônio imóvel que realizamos nestes últimos dois anos, mas não posso deixar de ressaltar que esse trabalho de bastidores tem como objetivo permitir essa grande movimentação da UFF para fora dos seus muros e mantendo-se como a universidade federal com o maior número de alunos ativos, segundo o próprio MEC, sempre com perfil inclusivo e diverso.

A UFF vem sofrendo um estrangulamento orçamentário desde 2014. Há seis anos, nosso orçamento de capital, verba destinada para obras e manutenções de todos os campi (reformas, equipamentos de laboratórios, ar condicionado etc.), era de cerca de R$ 60 milhões; atualmente, recebemos R$ 5 milhões anuais. Ou seja, este valor não é suficiente para realizarmos ações essenciais da universidade. Desde que assumimos, temos articulado parcerias, projetos e fontes alternativas de financiamento para solucionar obras paradas, estruturas e manutenções e temos conseguido grandes realizações! Entregamos em agosto deste ano o prédio da UFF em Macaé, uma demanda histórica de 25 anos, fruto de uma parceria com a prefeitura do município. Estamos construindo o prédio da Faculdade de Medicina, que vai liberar espaço para mais procedimentos no Huap, e da UFF em Campos de Goytacazes, resultados de uma articulação junto aos parlamentares do estado do Rio de Janeiro para uma emenda de bancada. Por fim, retomamos as obras do Instituto de Artes e Comunicação Social (Iacs), que serão entregues em 18 meses, que é o desfecho da cooperação com a Prefeitura Municipal de Niterói.

Em relação à gestão financeira, reduzimos em 70% uma dívida histórica e estrutural que a UFF possuía. Fizemos um trabalho sério de redução e aperfeiçoamento da gestão dos contratos com empresas terceirizadas; cortamos o contrato dos telefones móveis institucionais e restabelecemos uma posição financeira saudável para a universidade. Claro, ainda enfrentamos os grandes desafios da crise financeira das universidades públicas, em especial imposta pela lei do teto. Possuímos um orçamento escasso para as despesas básicas, mas com muito trabalho e dedicação saímos da beira do colapso e estamos conseguindo administrar e avançar.

Na sua opinião, qual o principal trabalho construído pela UFF nesses 60 anos de existência em Niterói?

Sem dúvida que foi sua consolidação como a maior universidade federal, com perfil acadêmico tradicional e inovador de ponta e que construiu um compromisso estratégico com o desenvolvimento social e econômico com todo o Estado do Rio de Janeiro, com um olhar na Amazônia. Portanto, somos a maior, inclusivos, qualificados academicamente e dedicados à melhoria das condições de vida das pessoas do nosso Estado-sede. É um legado e tanto! Mas esta jovem senhora de 60 anos, ciente de seus compromissos e com muito entusiasmo e vontade, ainda vai realizar muito mais!

Trajetória - Criada em 1960, a UFF possui uma comunidade acadêmica formada por mais de 70 mil alunos matriculados, mais de 3,5 mil professores e em torno de 3,8 mil técnicos-administrativos.

É constituída, além do prédio da Reitoria, de três campi e outras cinco unidades isoladas, situadas em bairros do mesmo município.

A instituição também possui unidades em oito municípios do interior do Estado do Rio de Janeiro - Angra dos Reis; Campos dos Goytacazes; Macaé; Nova Friburgo; Petrópolis; Rio das Ostras; Santo Antônio de Pádua e Volta Redonda. E oferece cursos EAD (Educação a distância), distribuídos em 28 municípios, incluindo sua sede, em Niterói.

Na Pós-Graduação Stricto Sensu, são 85 programas de Pós-Graduação e 126 cursos, sendo 44 de doutorado, 66 de mestrado acadêmico e 16 mestrados profissionais. A Pós-Graduação Lato Sensu apresenta 150 cursos de especialização e 45 programas de residência médica.