Arte, história e cidade com Denilson Baniwa

Em entrevista para O FLUMINENSE, o artista e ativista indígena fala sobre sua conexão com Niterói, cidade que escolheu amar - Foto: Reprodução/ Prêmio Pipa

Niterói
Tpografia
  • Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
  • Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Há quase uma década, Denilson Baniwa, 37, ativista dos direitos indígenas e artista brasileiro, considerado um dos mais prestigiados e importantes da contemporaneidade, deixou Barcelos, na margem direita do Rio Negro, no Amazonas, e elegeu Niterói como seu novo lar. E o motivo dessa mudança não poderia ter sido mais genuíno: amor.

Ainda no Norte se apaixonou por uma fluminense e, tempos depois a acompanhou até este lado da ponte. Ele não chegou a se mudar no primeiro instante, tentando entre chegadas e partidas entender e se acostumar com o novo local, que em uma comparação com o Amazonas, possui uma cultura e geografia totalmente diferente.

“Foi minha primeira grande mudança, tudo era bem diferente, como a comida. Em relação ao meu trabalho foi super radical, tive acesso a coisas que eu não tinha no Amazonas, principalmente a arte que eu via só em livros. Por exemplo, eu sabia que existia a pintura da primeira missa no Brasil, das missões [Portinari], e eu achava que era um quadro 30 x 20 mas cheguei lá e vi que era uma pintura de cinco metros”, comentou.

Em meio às novas experiências de Denilson em museus, exposições e na própria conexão com colegas, houve ainda uma parte importante na sua formação como artista, em um repensar de discursos cada vez mais voltados à sua cultura e ao povo Baniwa.

“Teve muito exotismo no começo, mas acho que no final se tornou algo onde eu pude ensinar para amigos daqui sobre a arte e a vivência indígena, alguns até foram para lá [Amazonas]. Enquanto pessoa da amazônia eu tento evidenciar mais sobre os lugares da construção do território, e meu trabalho é de contar histórias das cidades, aquilo que era antes. É algo que gosto de conversar com meus amigos”, disse o ativista.

O Amazonas em Niterói

Só quem mora longe do seu local de nascimento sabe o quanto a saudade pode bater forte. Com Denilson não é diferente. Sempre que essa sensação chega ele consegue se sentir abraçado por alguns espaços, que se tornaram tanto uma referência de acolhimento e lembrança do Amazonas, quanto de diversão ou desconexão em tempos tão corridos.

“Um lugar que me recebeu muito bem foi o cinema da UFF, tanto pelo valor do ingresso quanto pelos filmes e atividades. Outro lugar que gosto é a região das praias de Itaipu, Camboinhas, Piratininga e Itacoatiara. Quando quero me desconectar do mundo são esses os lugares para onde vou. Em relação à lembrança do Amazonas penso em Itaipu, não pela geografia, mas porque ao lado tem um sambaqui, com uma história de ocupação indígena milenar”.

O artista, que mora no Ingá, se sente integralmente conectado com a cidade. Mesmo depois do fim do romance que o trouxe para Niterói ele continuou por aqui, e não pretende sair tão cedo. No próximo ano ele será curador de uma exposição no Rio onde vai apresentar uma composição que o ajude a responder algumas questões sobre a evolução da arte contemporânea, ainda mais no ano do centenário da semana de 22.

“A ideia é unir alguns pensamentos indígenas com arte ocidental e tirar algumas dúvidas sobre o modernismo. Vão participar artistas de Niterói, do Rio e de outras regiões do Brasil”. Atualmente Denilson tem obras no Museu de Arte do Rio, na maior exposição do ano, intitulada “Crônicas Cariocas'', residente até julho de 2022.