EDUCAÇÃO E LUSOFONIA

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Por mais que nos debrucemos e discorramos sobre a educação, por mais que reconheçamos o seu papel primordial e imprescindível, por mais que a louvemos e a exaltemos… há coisas que a escola não faz.

No ensino formal aprendemos sobre a semântica, a sintática e a pragmática; que são todas ramos da linguística, que a primeira estuda o significado das palavras e termos, que a segunda se debruça sobre a sua função na oração e que a terceira refere-se ao estudo da linguagem, no contexto do seu uso, na comunicação. Apendemos as regras pelas quais a comunicação se rege e se orienta. Mas não aprendemos a ser poetas.

Aprendemos o significado das palavras e onde devem ser elas colocadas, arrumadas e arranjadas, aprendemos quando e como usá-las, para sermos entendidos. Mas não aprendemos a desenhar sentimentos e a criar emoções e comoção em quem as escuta, mesmo que as ouçam quase 50 anos depois. Isso é apanágio de poucos!

Esse dom de criar ritmo e melodia, de criar ansiedade e dor, de transformar a palavra numa adaga e com ela tocar, levemente, as dores escondidas no coração do leitor e do ouvinte… esse dom pertence a poucos. E entre esses poucos, encontramos Chico Buarque - um dos mais sonantes nomes da música popular brasileira; conhecido mundialmente e condecorado em vários países.

Músico, dramaturgo, poeta e ator, lançou dezenas de álbuns, escreveu livros e dramaturgias adaptadas para filme e teatro; eis o homem que se suplantou às regras linguísticas: que toca nas palavras e faz delas emoções, e com essas, cria música, consciência, introspeção e ação. Com as mesmas palavras, Chico Buarque faz poesia, faz música; brinca com elas como criança que joga à bola na praia, desenhando arcos marcantes e irrepetíveis.

Em Construção, Chico Buarque conduz-nos, do início do dia ao fim da vida de um homem simples e anónimo; conduz-nos vagarosamente até que deixe de ser anónimo, conduz-nos vigorosamente, até que a sua dor se torne a nossa dor. E faz o mesmo, em todas as suas obras, quer sejam líricas ou narrativas, traz-nos ao simples e quotidiano e
sublima-o.