EDUCAÇÃO E LUSOFONIA

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Majestoso e imponente, o Poilão concedia a sombra necessária para que nos sentássemos e desenrolássemos, por horas a fio, o novelo de uma conversa prazenteira, pacata e agradável… e entrementes, o sol percorria o seu habitual e caloroso caminho, em direção ao poente.

A voz afável do Prof. Doutor Rui Jandí - Magnífico Reitor da Universidade Lusófona da Guiné e filho do falecido Régulo dos Cassangas, fazia-se ecoar na minha mente, enquanto as suas sábias palavras percorriam e preenchiam o meu cérebro curioso.

Bem na fronteira com o Senegal, no extremo Norte da Guiné - Bissau me encontrava, numa breve passagem pela Tabanka de Gan Jandí, território dos Cassangas e em amena cavaqueira com um dos filhos do antigo Régulo da região, buscava mais conhecimento sobre esta pequena etnia.

Pequena em dimensões, existindo hoje pouco menos de 200 membros da mesma; mas com um trabalho magnífico, no que toca à reflorestação do seu território e do país e na preservação da natureza, das tradições e dos costumes.

O Poilão é árvore sagrada, para este povo, e junto ao mesmo, são praticados sacrifícios de animais, em honra a Irã - divindade guineense, são celebrados acordos e casamentos e são deliberados juízos e julgamentos. Nesta tarde, cumpre um dever ainda mais sagrado, como já lhe é habitual: é escola, onde se ensina e se aprende… onde se transmite sabedoria e ciência.

Na sombra do Poilão, se senta o Régulo - ancião regedor e juiz: julga, rege e ensina; junto a esta árvore sagrada, cresce e desenvolve-se a comunidade; junto a esta árvore, a religiosidade é concretizada e ensinada.

Povo animista, os Cassangas acreditam que o mundo está repleto de espíritos, que connosco interagem, influenciando as vidas humanas, beneficiando ou prejudicando-as; veneram e idolatram os espíritos dos ancestrais - familiares falecidos ou membros relevantes da coletividade, que mediam a relação com os outros entes sagrados e os espíritos naturais: dos animais, das árvores, dos rios e do vento e outros, com enorme poder e difíceis de controlar.

O próprio Poilão - árvore sagrada é, ele mesmo, morada de vários espíritos naturais e dos ancestrais e junto ao seu tronco, ouve-se a voz desses espíritos, tenta-se aplacar a sua ira e promover a boa disposição dos mesmos; busca-se por conselho e promove-se a harmonia.

Junto ao gigante sagrado, observando o cair manso da tarde, aprende-se com as palavras e com o silêncio.