Não desejamos a guerra, mas devemos estar sempre prontos

Gurgel Soares - Foto: Divulgação

Artigos
Tpografia
  • Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
  • Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Gurgel Soares*

No conflito bélico entre a Ucrânia e a Rússia, as tropas russas não estão enfrentando apenas as forças armadas ucranianas, mas também milhares de civis, que antes impedidos de pegar em armas agora são convocados como voluntários pelo governo para proteger suas famílias, suas casas, seus comércios, suas praças e cidades inteiras ao lado de militares em defesa da nação ucraniana. O Parlamento da Ucrânia aprovou as vésperas da invasão russa, uma lei que liberou o porte de armas de fogo e permitiu a ação de civis "em legítima defesa". A medida foi aprovada de forma tardia em caráter precário para defender a população que se tornou alvo das agressões do país russo.

Diante do massacre produzido pela Rússia em território ucraniano, cabe uma reflexão em relação ao direito da população ter armas e instrumentos para reagir à ameaças contra as liberdades individuais e coletivas. Em 1994, o país ucraniano detinha um gigantesco arsenal nuclear até assinar o Memorando entregando suas armas nucleares remanescentes do período soviético em troca de um tratado de paz e da garantia de nunca ser invadida ou ameaçada. No curso do tempo, a Ucrânia proibiu o porte de armas por civis, o que em certa medida proporcionou a escalada da violência e ameaças a população atirada à própria sorte, com o massacre de civis e destruição da infra-estrutura das cidades, onde ocorreram incursões terrestres.

Os cidadãos ucranianos aptos a portar armas não foram testados, treinados e preparados para a guerra ou mesmo defesa pessoal por conta do impedimento legal do desarmamento vigente no país até dias atrás. A guerra não é desejável, mas estar prontos para uma é mais que uma escolha, um dever em prol da vida, o bem maior da nossa existência. O direito à legítima defesa, invocado pelo Parlamento ucraniano para liberar o porte de armas,dias antes da invasão russa, poderia ter sido implementado como uma política de estado e uma garantia da população para proteção da vida, do território e dos patrimônios próprios e de toda nação.

A Guerra na Ucrânia não é um fato isolado e afeta todos os países, com graves consequências diplomáticas, econômicas e humanitárias. O desabastecimento de insumos básicos para a agricultura, como fertilizantes, é um sinal de alerta dentre outros para repensar as nossas fragilidades econômicas. Em casos dessa dimensão, uma simples posição na seara da diplomacia não será o bastante, mas sobretudo o aprendizado de uma lição: a população de um país não pode estar vulnerável à mercê da própria sorte, resguardadas as devidas proporções. Um país e os cidadãos não podem entregar sua capacidade de defesa a terceiros contando com sua benevolência, podendo-se dizer que o desarmamento sempre foi e será uma estratégia dos manuais da esquerda oferecida para dominação e ameaça às liberdades individuais e coletivas.

O desarmamento não afasta a criminalidade e sim acentua ações violentas de bandidos, potencializando o seu desejo criminoso. A política do desarmamento é uma armadilha da velha esquerda travestida de social-democracia e seus simpatizantes que defendem bandidos como "vítimas da sociedade". A consequência da proibição do porte de armas fragiliza o tecido social, transformando os cidadãos em reféns de criminosos, sejam eles inimigos internos ou externos. Os tempos são difíceis e requerem vigilância permanente, não apenas em face dos ventos soprados do velho continente, mas também pelas vertentes políticas que guardam semelhanças autoritárias e ameaçadoras das liberdades civis, do direito à propriedade privada e à vida.

"É o destino comum do indolente ver seus direitos se tornarem presa daquele que ataca. A condição sob a qual Deus deu liberdade ao homem é a eterna vigilância; condição que, se ele descumpre, a servidão é, ao mesmo tempo, a consequência de seu crime e a punição de sua culpa". discurso de John Philpot Curran, pronunciado em 1790 e publicado em Speeches on the late very interesting State trials (1808):

Assim, a situação da Ucrânia deve servir de exemplo para que não esperemos que no futuro nossa segurança fique apenas nas mãos de um punhado de pessoas que se dizem preparadas para nos defender, mas que também nos seja concedido o direito de nos proteger de ameaças contra nossas vidas, as nossas famílias, as nossas propriedades, as nossas liberdades, ao nosso país.