Aumento no desemprego durante a pandemia gera recorde de endividamento

Objetivo é viabilizar a geração de renda para as mulheres e impulsionar negócios - Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Economia
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No início da pandemia, Cláudia Maio, de 50 anos, recebeu a notícia de que seria demitida. Com o início das restrições de locomoção, o consultório em que ele trabalhava como secretária, no Rio de Janeiro, fechou as portas, e ela ficou desempregada. De lá para cá, virou-se com trabalhos informais. Porém, as contas continuaram a chegar. Sem o salário fixo que recebia, precisou da ajuda de familiares para não atrasar pagamentos básicos, como luz, e água. Enquanto dívidas como o financiamento do carro tiveram que deixar de ser pagas por um período.

A história de Cláudia é muito parecida com a de pelo menos 3,3 milhões de brasileiros que deixaram de trabalhar, entre abril de 2020 e abril de 2021, de acordo com o levantamento realizado pela consultoria IDados. Segundo a pesquisa, são 377 desempregados por hora, um triste reflexo da crise econômica provocada pela pandemia da covid-19. O levantamento, que foi feito com base nos indicadores de abril da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), chamam atenção também para o aumento expressivo do endividamento no Brasil, que fechou o primeiro semestre de 2021 com recorde.

Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), e divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), informam que 71,4% das famílias que participaram relataram ter dívidas no mês de julho. O maior patamar da série histórica, iniciada em 2010. A alta é de 1,7 ponto percentual na comparação com junho e de 4 pontos em relação a julho de 2020, o maior aumento anual verificado desde dezembro de 2019.

As famílias com dívidas ou contas em atraso chegaram a 25,6%, o terceiro aumento seguido. Já as famílias que disseram não ter condições de pagar suas dívidas em atraso e que vão continuar inadimplentes aumentou de 10,8% para 10,9% de junho para julho. Na comparação anual, houve queda de 1,1 ponto percentual. As dívidas incluem cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de casa e de carro, que foi o maior pesadelo de Cláudia que havia investido no bem como alternativa para aumentar a renda trabalhando como motorista de aplicativo.

“O orçamento das famílias durante a pandemia tem sido comprometido por fatores como o alto índice de desemprego, a inflação mais elevada e o valor reduzido do auxílio emergencial”, de acordo com Thacísio A. Rio, CEO da Rios Assessoria, empresa especialista na análise de contratos a fim de encontrar valores abusivos, que criou um método exclusivo para ajudar seus clientes a quitarem suas dívidas de financiamento de veículos sem que sofram busca e apreensão ou que tenham seus nomes negativados. Com as taxas de juros abusivos, a dívida de Cláudia, que já ultrapassava o total de 30 mil reais, reduziu a seis mil, valor que conseguiu pagar com seu novo emprego, agora de fato como motorista de aplicativo.

Mas embora Cláudia não faça mais parte das estatísticas citadas acima, Thacísio A. Rio, reforça que ainda é preciso estar atento o endividamento. “A preocupação está principalmente entre as classes C, D e E, essas tiveram que contrair dívidas, como empréstimos, para suportar a fase da crise. O que pode acabar virando uma nova e gigante bola de neve, já que ainda assim estarão lidando com os juros abusivos, já que eles representam o lucro que as operadoras de crédito terão, por isso, fazem parte do contrato e são esperadas. Contudo, em alguns casos, estes valores podem estar acima do que deveriam, podendo ser considerado como taxas extorsivas, já que estão acima do previsto pelo Banco Central”, explica o especialista.

Endividamento por faixas de renda

Na análise por grupos de renda, o endividamento entre as famílias que recebem até dez salários mínimos aumentou de 70,7% para 72,6% na passagem mensal. A inadimplência nessa faixa passou de 28,1% para 28,7% e 13,1% do total que disseram que vão permanecer com as contas em atraso.

Já quem recebe mais de dez salários mínimos, o endividamento vem batendo recordes mensais desde fevereiro. O percentual passou de 65,5% em junho para 66,3% julho, ante os 59,1% em julho de 2020. A inadimplência nesse grupo de renda cresceu de 11,9% para 12,1% na passagem mensal. Enquanto os muito endividados tiveram leve redução, de 14,7% em junho para 14,6% em julho.