Caso Flordelis: extorsão e carta de desculpas

Lucas, filho adotivo de Flordelis, deixa sede da DH algemado - Foto: Marcelo Feitosa

Polícia
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A Delegacia de Homicídios (DH) de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI) investiga, em inquérito sigiloso, telefonemas recebidos pela deputada federal Flordelis (PSD-RJ) de uma pessoa que teria se passado por policial. A deputada disse que recebeu ligações de uma pessoa que se identificou como policial civil e pediu dinheiro para interferir nas investigações do assassinato de seu marido, o pastor Anderson do Carmo. As informações foram reveladas neste domingo pelo Fantástico, da TV Globo.

Flordelis disse ter procurado a Polícia Federal no último dia 30 para denunciar as tentativas de extorsão e outras ligações em que disse ter sofrido ameaças. A parlamentar acrescentou que entregou as gravações dos telefonemas aos agentes federais. A Polícia Civil informou que a Delegacia de Homicídios desconhece a declaração da deputada à Polícia Federal e que nunca foi procurada pela parlamentar para comunicar tais fatos, que foram verificados pela Polícia Civil por meio de apuração própria. A Polícia Federal não se pronunciou até o fechamento desta reportagem.

Durante a entrevista à TV Globo, Flordelis apresentou uma carta que disse ser do filho Lucas Cézar dos Santos de Souza, que está preso acusado do crime. De acordo com a deputada, a carta traz à tona uma nova versão de Lucas para o caso, que envolve no crime outro filho dela, o vereador gonçalense Wagner Andrade Pimenta, o Misael.  Em nota à Globo o vereador disse que não participou da execução de seu pai e que a declaração da mãe tem intenção de confundir a investigação. Misael acusa a mãe de ter participação na morte de Anderson.

Na carta atribuída pela deputada a Lucas, ele teria afirmado que não tinha a intenção de matar seu pai e conta que o plano original era apenas "dar um susto" no pastor, a mando de seus irmãos Misael e Luan Santos, que é pastor. Na entrevista, Flordelis afirmou que a carta chegou à suas mãos através da mãe de outro detento. Lucas teria escrito a correspondência, entregue a um preso dentro do Complexo Penal de Gericinó, em Bangu, que por sua vez o encaminhou a sua mãe, que entrou em contato com a família da parlamentar a fim de entregar a carta.

(Com Agência Brasil)

Em carta, Lucas pede desculpas à mãe

A carta começa com Lucas manifestando a intenção de "pedir desculpa por todo o mal que fiz à senhora [Flordelis]"e queo motivo para o "susto" seria um suposto assédio de Anderson à Rafaela, neta de Flordelis. No entanto, Lucas teria descoberto depois que as razões seriam políticas e financeiras.

Na carta, ele afirma que sua irmã Marzy afirmou que "o Anderson tentou agarrar a Rafaela [neta]", história que teria sido confirmada por Simone, outra filha da parlamentar. Em seguida, Marzy teria dito a Lucas que Misael e Luan queriam falar com ele sobre o assunto. O jovem indagou, dizendo que "iria falar com Flávio", também indiciado pelo crime. Marzy, então, teria orientado que seria "melhor ouvir Misael. O vereador teria feito uma proposta de oferecer a Lucas "um emprego na Prefeitura, carro e deixar voltar para a casa da senhora [Flordelis]", mas que, para isso, teria que "dar um susto no Anderson".

Lucas teria pedido ajuda de conhecidos dele de uma comunidade para "dar uns tapas" no pastor, na noite de 16 de junho.Ele teria ido até a casa para abrir o portão de trás, providenciando a entrada dessas pessoas. Ainda segundo a carta, Anderson "reagiu e deu no que deu".

Lucas também teria dito na carta que Misael pediu para "colocar a culpa no Flávio pra ninguém desconfiar de mim [Lucas]". De acordo com o jovem, outro motivo para a agressão seria que o pastor "estaria atrapalhando ele [Misael] na política e que controlaria todo o dinheiro dele".

Após sua prisão, Lucas afirma que um advogado foi providenciado pela família para fazer sua defesa mas o teria abandonado após prestar os depoimentos que incriminaram tanto ele quanto Flávio. Atualmente, a Defensoria Pública assumiu a defesa de Lucas. A Delegacia de Homicídios (DH) de Niterói não confirma a veracidade da carta e afirma que "não há considerações a fazer".

A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ) confirma que assumiu a defesa de Lucas e, portanto, o está assistindo judicialmente. Mas alega que ingressou no caso há pouco tempo e por isso, no momento, estuda as medidas a serem adotadas. As assessorias de imprensa de Misael e Luan foram procuradas, mas não enviaram resposta.

Assassinato

O assassinato do pastor Anderson do Carmo aconteceu na casa do casal, em 16 de junho, após ele chegar de carro na companhia da mulher. Anderson foi atingido por tiros na garagem da casa, quando retornou ao carro para buscar algo que tinha esquecido.

A Polícia Civil realizou a reconstituição do crime entre a noite de sábado (21) e a madrugada de domingo (22), em uma simulação que teve a colaboração de Flordelis e de familiares da vítima. De acordo com a Secretaria de Polícia Civil, 13 pessoas participaram da reconstituição

Na semana passada, policiais estiveram em quatro endereços da deputada e apreenderam celulares, computadores e documentos em busca de informações que possam ajudar a elucidar o crime.