Fonoaudiólogos ajudam a desvendar crimes

Polícia Civil conta com ajuda de fonoaudiólogos para desvendar crimes de sequestro - Foto: Divulgação

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Para ajudar a elucidar crimes, a Secretaria de Polícia Civil tem contado com uma importante ferramenta: um banco de vozes de criminosos, onde é possível identificar padrões de linguagem que levam à identificação dos autores. Batizada de projeto Áquila, a iniciativa é da fonoaudióloga Mônica Azzariti, especialista em comunicação humana, que começou a análise dos áudios de escutas telefônicas autorizadas pela justiça de casos instaurados na Delegacia Antissequestro (DAS).

“Os crimes de sequestro se processam através do contato telefônico. E, por meio da voz, podemos traçar um perfil de um criminoso. Levamos em conta o que chamamos de marcadores linguísticos, que são, além da voz, a intensidade, a articulação das palavras e até mesmo a construção do pensamento. Mesmo que a pessoa mude a voz ou utilize algum equipamento para modulá-la, é possível identificá-la”, explicou Mônica, que lidera a equipe composta por três estagiárias do curso de fonoaudiologia da Universidade Veiga de Almeida (UVA), que tem um convênio com a DAS.

O banco de vozes já conta com cerca de 100 indivíduos suspeitos de praticar crimes no Rio de Janeiro na última década e ainda há outra centena para ser analisada. Há também a inserção de informações comportamentais, geográficas, das antenas, dos deslocamentos, dos cativeiros e da prisão dos criminosos. As estagiárias ficam responsáveis por editar o material bruto das escutas e retirar somente a voz do criminoso. Em seguida, os marcadores linguísticos são analisados e caracterizados - faixa etária, gênero, sotaques, articulações, entre outros. De acordo com o titular da DAS, delegado Cláudio Góis, foi através do trabalho do projeto Áquila que a Polícia Civil identificou e prendeu uma quadrilha.

“Cinco criminosos sequestraram um filho de um vereador, em dezembro de 2018. Conseguimos identificá-los por meio do trabalho do banco de voz e, em julho deste ano, eles foram presos pela equipe da DAS. A iniciativa, além de aproximar a polícia dos meios acadêmicos, é de grande importância por ser mais uma ferramenta de combate ao crime organizado no estado. A corporação ganha, as profissionais também, além da sociedade como um todo, que tem a inteligência a seu favor”, ressaltou o delegado.

Capacitação para interrogatórios

Mônica, que também atua com treinamento de equipes da Polícia Militar, entre eles, o Bope e o Choque, também desenvolveu um curso de capacitação para os agentes da DAS sobre técnicas de interrogatórios, tendo como base a análise da comunicação não-verbal dos suspeitos que vão prestar depoimento na especializada.

“Por já serem experientes, os policiais têm o feeling de saber quando uma pessoa está mentindo. Mas com a capacitação, os agentes conseguem ter um embasamento científico melhor. O que era somente intuitivo pode se tornar um argumento técnico para argumentação com um juiz, por exemplo”, contou a fonoaudióloga.

Segundo Mônica, é possível saber, pelo comportamento da pessoa, se ela está mentindo, através das expressões faciais, gestos fisiológicos e as respostas vocais.

“Quando mentem, as pessoas tendem a falar mais palavras porque estão construindo uma narrativa fictícia. Além disso, pensam mais e utilizam frases de apoio para esse discurso falso”, afirmou Mônica.

No último período da faculdade, Carine Abreu tem se mostrado empolgada com o estágio.

“Tenho a intenção de fazer prova para a polícia para seguir na parte de perícia forense. Quero utilizar o que aprendi nos quatro anos da faculdade e utilizar na profissão. Quando penso que estou ajudando a sociedade na questão da segurança pública, não há palavras para descrever a satisfação”, disse Carine, de 21 anos.