'Minha vida acabou', diz viúvo de idosa morta por bala perdida em São Gonçalo

Marido e sobrinho de Sandra se emocionaram ao falar sobre a tragédia - Foto: Lucas Benevides

Polícia
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A família da dona de casa Sandra Maria Gomes Sales, de 61 anos, morta durante confronto entre criminosos e policiais no Jardim Catarina, responsabiliza a Polícia Militar (PM) pela tragédia. O esposo da vítima, Francisco Carlos Sales, de 61 anos, esteve, na manhã desta sexta-feira (6) no Instituto Médico Legal (IML) de São Gonçalo para fazer a liberação do corpo. O sentimento dele era um misto de tristeza e revolta.

“A polícia, o 7º batalhão, são um bando de canalhas. Tem muita gente boa lá, mas tem ruins, e precisa tirar esses ruins. São policiais que não sabem trabalhar. Eu quero saber quem atirou e matou ela. Eu quero que isso não fique impune”, disse o viúvo, que estava bastante emocionado.

Sandra acabou baleada durante uma operação do 7º BPM (Alcântara) que tinha como objetivo retirar barricadas que foram colocadas por traficantes em ruas do bairro gonçalense, na tarde de quinta-feira (5). No momento em que houve um confronto entre os agentes e criminosos, a idosa estava indo buscar uma das netas em uma escola.

O sobrinho dela, Cleiton Gomes Vieira Tavares, de 33 anos, foi o primeiro a chegar no local onde sua tia havia sido baleada. Ele afirma ter a certeza que o disparo partiu de policiais militares devido à posição em que encontrou Sandra, que estava escondida em um muro a fim de se proteger do fogo cruzado.

“Eu estava indo pegar meu filho, me falaram que ela tinha sido baleada. Perguntei aos policiais onde estava minha tia. Quando eu olhei, ela estava escondida no cantinho do muro. Foi muito tiro que eles deram. Não tinha como ser traficante. Eu posso te afirmar que da onde veio o tiro, foram os policiais. Ela estava para trás da barricada de onde os bandidos deram tiro”, relatou.

Francisco ainda afirmou que foi tratado de forma truculenta pelos agentes no momento em que chegou ao local onde Sandra foi alvejada. O aposentado se emocionou no momento em que falou se como será a vida sem a esposa. “Eu só quero justiça, não quero mais nada na minha vida. Minha vida acabou. Não sei como vai ser daqui pra frente”, afirmou.

O corpo de Sandra foi liberado ainda pela manhã e o sepultamento está marcado para as 16h desta sexta-feira, no Cemitério de São Miguel, também em São Gonçalo. A Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá (DHNSG) assumiu o caso e está investigando as circunstâncias da morte da dona de casa.

A Polícia Militar foi procurada mas, até o momento, não havia respondido à solicitação.

Manifestações

Moradores do Jardim Catarina realizaram manifestações contra a morte de Sandra Maria Gomes Sales. Ainda na noite de quinta-feira e na manhã desta sexta-feira, populares interditaram faixas das rodovias RJ-104 e BR-101 (Niterói-Manilha) e pediam por justiça.

Por volta de 8h30 desta sexta, manifestantes interditaram a pista de ambos os sentidos da rodovia, no km 304, altura do Jardim Catarina. Dezenas de pessoas carregavam faixas de protesto com pedidos como “queremos paz” e “socorro”.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) e as Rondas Especiais e Controle de Multidões (RECOM) da PM foram acionadas para acompanhar o protesto. Por volta de 10h30, os agentes dispersaram os manifestantes e liberaram as faixas. O congestionamento chegou a 4km em ambos os sentidos.

Em seguida, os populares partiram em direção ao batalhão da PM, que fica em Alcântara. Os manifestantes fecharam o tráfego na Rua Dr. Alfredo Backer e o policiamento no entorno chegou a ser reforçado. O protesto durou até o começo da tarde.

Já na noite de quinta-feira, moradores do bairro interditaram duas pistas da rodovia RJ-104 no sentido Niterói em protesto contra a morte de Sandra. Os manifestantes chegaram a atear fogo em objetos colocados na estrada.

Operações

A operação realizada pelo batalhão de São Gonçalo, que culminou na morte de Sandra, foi realizada na tarde de quinta-feira com o objetivo de retirar barricadas do Jardim Catarina. Durante a ação, um suspeito de tráfico de drogas morreu em confronto com os agentes e outro foi preso

O suspeito baleado chegou a ser socorrido ao ao Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), no Colubandê. Durante a ação, dois fuzis e uma pistola foram apreendidos. A 74ª DP (Alcântara) registrou a ocorrência.

Já na manhã desta sexta-feira, um homem, também apontado pela PM como integrante do tráfico, foi morto em confronto com agentes em operação na região da Ipuca, que também fica no Jardim Catarina. Drogas e uma pistola foram apreendidos.

Após o fim da manifestação que aconteceu nesta sexta, agentes da RECOM fizeram buscas às margens da BR-101 a procura de criminosos. No entanto, até o momento, não foram registradas novas prisões.