'Prematuridade': Entenda quais são os cuidados com a visão

Bebês prematuros recebem cuidados especiais nas unidades de tratamento intensivo dos hospitais - Foto: Divulgação

Saúde
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Você já ouviu falar em neonatologia? Pouca gente conhece, já que é uma área da saúde do recém-nascido relativamente nova dentro da Medicina, que só começou a ganhar força a partir da década de 60. Porém, nada mais é do que o estudo e o tratamento de recém-nascidos. A boa notícia é que ela obteve um grande avanço tecnológico nos últimos anos, resultando em uma sobrevivência cada vez maior de bebês muito prematuros, com peso de nascimento de até 500g.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 30 milhões de bebês nascem prematuros (menos de 37 semanas de gestação) ou com baixo peso (menos de 2.500g) ou adoecem logo nos primeiros dias de vida, por ano em todo o mundo. A sobrevivência destes bebês muito prematuros era praticamente impossível antes da década de 60. Na maioria das vezes eles morriam poucas horas após o nascimento por imaturidade dos pulmões, isto é, por falta da produção de surfactante, substancia muito importante, que mantem os alvéolos pulmonares abertos permitindo assim, a troca gasosa entre Oxigênio e gás carbônico.

Outro avanço na ajuda da sobrevivência destes bebês foi o conhecimento de que o corticosteroide, medicamento administrado à gestante cujo bebê está tendendo a nascer antes do tempo, pode ajudar no amadurecimento dos pulmões prematuros. Além do surfactante e do corticosteroide, o desenvolvimento de novas tecnologias utilizando aparelhos de ventilação artificial, que levam oxigênio para dentro dos pulmões prematuros contribuíram para a dramática redução da mortalidade destas crianças.

Entre as muitas características próprias da prematuridade estão as alterações oftalmológicas. Existe uma que atinge especialmente os bebês prematuros, que se chama RETINOPATIA DA PREMATURIDADE.

Entende-se como retinopatia da prematuridade o mal desenvolvimento dos vasos sanguíneos da retina. Afinal, a vascularização que deveria progressivamente se formar dentro do útero pode ser facilmente comprometida no meio extrauterino. A retina é uma das partes do olho onde as imagens se projetam e esta informação chega ao nosso cérebro através do nervo óptico por meio de impulsos elétricos. Sem a retina, as imagens não chegam ao cérebro e então não podemos enxergar.

Assim, a retinopatia da prematuridade é uma das principais causas de cegueira e baixa visão na infância, nos países em desenvolvimento como o Brasil.

Entretanto, apesar dos avanços mencionados acima, permitindo que bebês tão pequenos e com pulmões tão imaturos, sobrevivam, a retinopatia da prematuridade continua aparecendo, com aumento do risco de cegueira.

As causas dessa doença ainda não foram completamente esclarecidas, e diversos fatores podem estar envolvidos, mas sabe-se que está associada à quantidade e tempo de utilização de Oxigênio. Todavia, estudos recentes comprovam que a prematuridade e o baixo peso ao nascer são as condições que mais influenciam o desenvolvimento da retinopatia da prematuridade.

Foi comprovada uma proporção entre o grau de prematuridade e o peso de nascimento: quanto mais prematuro é o bebê e quanto menor o seu peso de nascimento, maiores são as chances do bebê prematuro apresentar esta doença. Os bebês de maior risco para o desenvolvimento da patologia são aqueles que nasceram com peso menor ou igual a 1.500g e/ou idade gestacional menor ou igual a 32 semanas, porém bebês entre 1500 a 2000g e idade gestacional entre 32 a 36 semanas também merecem atenção especial.

Para fazer o diagnóstico desta doença, os bebês devem ser submetidos a um exame chamado oftalmoscopia indireta, realizado por um médico especialista em oftalmologia, entre a 4ª e a 6ª semana de vida. Com ou sem o diagnóstico da doença, esse exame deve ser realizado com regularidade, principalmente durante a internação da criança, até que toda a retina esteja vascularizada adequadamente. Quanto mais cedo ocorrer o tratamento, se esse for necessário, melhor será o resultado visual no futuro.

Além do rastreamento da retinopatia da prematuridade é importante que os bebês prematuros tenham um acompanhamento oftalmológico durante toda a vida, pois os riscos de desenvolver patologias são maiores comparados aos das crianças que não foram prematuras. Esse risco também é maior naqueles que desenvolveram a retinopatia da prematuridade no período neonatal.

Os pacientes prematuros apresentam maior frequência de uso de óculos (principalmente para correção de miopia), além de ambliopia ("olho preguiçoso"), estrabismo, glaucoma, catarata, descolamento de retina, dificuldade de visão de cores e baixa visão. Para evitar ocorrências mais graves ao longo da vida, é importante que sejam feitos exames regularmente com o oftalmologista. A detecção precoce da retinopatia da prematuridade irá permitir que os tratamentos adequados sejam realizados e que melhores resultados visuais sejam atingidos.

Recomenda-se, portanto, que, na alta da UTI neonatal, a família já busque a orientação da data ideal para iniciar o acompanhamento oftalmológico ambulatorial do bebê. Tal data varia de acordo com os resultados dos exames de fundo de olho realizados durante a internação, intensidade da prematuridade e deve ser determinada pelo oftalmologista assistente.

O Hospital Universitário Antonio Pedro, da Universidade Federal Fluminense, oferece essa atenção especializada a todos os seus pacientes prematuros internados desde a Unidade Neonatal até o acompanhamento ambulatorial.