Covid-19: lugares com ar condicionado são mais perigosos?

Estudo chinês apontou possibilidade de transmissão do novo coronavírus por aparelhos de ar condicionado - Foto: Pixabay

Coronavírus
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Um estudo chinês mostrou que a covid-19 pode ser transmitida pelo ar condicionado, sem nenhum contato físico. Mas até que ponto o aparelho pode ser o vilão dessa doença altamente infecciosa?

No estudo da “Emerging Infectious Diseases”, cientistas chineses acompanharam um surto em três famílias que estiveram em um restaurante em janeiro deste ano. Dez dias após o jantar, dez pessoas apresentaram sintomas do novo coronavírus e os resultados iniciais indicaram que a direção do fluxo do ar é consistente com a transmissão de gotículas do vírus. Ou seja, um ambiente fechado que tem pouca ventilação e pouca troca de ar com o ambiente externo faz com que o vírus se concentre no local.

Com isso, o ar condicionado pode "varrer" o ar em direção ao interior do ambiente e, consequentemente, transporta o vírus em pequenas partículas. Sem renovação ou com pouca renovação de ar, o ambiente torna-se propício a contaminar quem estiver no local.

Para o professor da UFRJ, Davis Ferreira, o uso de máscaras é primordial para que o vírus não se dissemine, principalmente em locais fechados com pouca circulação que tenham o aparelho de ar condicionado.

"Gotículas provenientes de fala, tosse ou espirro podem ser recicladas pelo sistema de ar condicionado, mas acredito que esta não é a principal fonte de transmissão de vírus em ambientes fechados. O mais importante é higiene pessoal e utilização de máscaras. Embora ainda faltem estudos específicos para este vírus, acredita-se que o tratamento do sistema de ar com amônia quaternária seja eficiente para diminuir a possibilidade de transmissão por esta rota. Algumas empresas oferecem este serviço. Acredito que estas medidas, associadas à higienização, tornem a transmissão menos provável", afirmou o professor, que segue alertando:

"Por enquanto, ainda não existe local totalmente seguro. O importante também e cada indivíduo saber se comportar nestes locais e obedecer as regras. Se você estiver se sentindo mal, mesmo que seja algo leve, ou se tiver alguém em sua casa com covid-19 confirmado, você não deve ir locais fechados", afirmou.

Considerando que pessoas infectadas que não desenvolvem sintomas da doença se tornam potenciais transmissores quando não há o uso generalizado de máscara em espaços públicos, o professor Daniel Stariolo, do Departamento de Física da UFF, desenvolveu um estudo intitulado “COVID-19 in air suspensions” (COVID-19 em suspensões pneumáticas). O intuito é o de compreender como o novo coronavírus se movimenta no ar e os impactos disso em sua transmissão.

“Do ponto de vista matemático, essa pesquisa fornece uma estimativa que responde quanto tempo o vírus pode permanecer suspenso no ar em um ambiente fechado, e qual o seu alcance antes de ser depositado no chão ou em alguma outra superfície. Os resultados obtidos evidenciam a necessidade do uso de máscara facial em espaços públicos por todos”, ressalta o docente.

Com reabertura dos shoppings autorizada em alguns municípios, cresce a preocupação do aumento da contaminação, visto que muitos deles são ambientes fechados com pouca circulação de ar.

"Duas variáveis fundamentais para a propagação do vírus nos shoppings são: quantidade de pessoas por metro quadrado e tempo de permanência das pessoas no mesmo ambiente. Um shopping cheio de pessoas se cruzando dentro das lojas e nos corredores é um ambiente perfeito para o vírus se propagar. Se você encontrar um ambiente assim, vai embora, porque o risco será grande. Nesse caso, um número de pessoas vão ser contaminadas e, além delas ficarem doentes, depois irão para casa e poderão contaminar familiares, amigos e por aí vai. O estrago pode ser enorme. O segundo elemento apontado é o tempo de permanência. Suponhamos que, dentro uma loja, uma pessoa contaminada espirra. O aerossol fica no ar durante um tempo, de alguns minutos até horas, como falamos antes. Você entra na loja, uns minutos depois da pessoa ter espirrado, e respira esse ar contaminado. Se você entra, fica 5 ou 10 minutos e saí, suas chances de se contaminar serão bem menores que se você ficar meia hora na loja", explica o professor Daniel.

De acordo com Luana Carvalho, engenheira mecânica da Kemp, empresa de projetos e gerenciamento de obras, em tempos de pandemia, é necessário ficar atento às manutenções corretivas e preventivas dos aparelhos.

“Uma das recomendações para manter o ambiente seguro é aumentar a frequência das manutenções preventivas, verificar a possibilidade de troca de filtro de ar condicionado e higienização dos equipamentos. Esses filtros é onde ficam retidos boa parte das partículas, mas algumas delas ainda vão passar. Então tendo essa troca de filtro periodicamente, você vai manter o ar limpo. Edifícios que não podem abrir janelas devem estudar a possibilidade da redução da ocupação além do distanciamento que puder ser mantido, dessa forma estará sendo reduzido a possibilidade de contaminação”, avisa.

A especialista também aconselha a manter por um tempo o ar condicionado ligado quando não tenha ninguém no local para que o ar se renove.

“É necessário também, quando possível, manter o sistema de ar operando o tempo todo, porque as pessoas vão embora mas o particulado fica circulando. Quando se tem um sistema de renovação de área externa para todo o projeto de ar condicionado de grande porte comercial, ele vai pegando essa parcela de área externa e diluindo no ar. Então mesmo que não tenha pessoas no local fechado com o ar condicionado, o pouco de contaminação que ficou retido no ar com o tempo será jogado fora, a cada ciclo de renovação do equipamento. Isso faz com que quando as pessoas que trabalham em escritórios fechados, por exemplo, cheguem no dia seguinte com ar limpo e renovado, sem nenhuma partícula contaminante. Em residências, o recomendado é que utilizem mais o ar natural mesmo, ou que reforcem a troca dos filtros”, disse Luana.