Atriz e dubladora Isabele Riccart fala sobre cabelo e autoestima 

Artista estará no filme 'Overman', dirigido por Thomas Portela que chegará aos cinemas em 2024 - Foto: Divulgação

Entretenimento
Tpografia
  • Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
  • Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

A carreira de atriz da dubladora Isabele Riccart, 31 anos, começou na infância e mais tarde estudou na centenária Escola Técnica Teatral Martins Pena. Ela que tem experiência nos palcos, é bastante conhecida na dublagem por dublar personagens como: “Reeva”, a vilã da série Obi Wan Kenobi; “Sarah” de Superman e Lois e a heroína Eile de “The Witcher - A Origem”, agora, chegou a vez da atriz e dubladora mostrar o seu talento na telona.

Ela será Alexandra, no longa "Overman", dirigido por Thomas Portela previsto para estrear nos cinemas em 2024. A personagem de Isabele é a assessora e fiel escudeira do governador (vivido por Otávio Müller). O que muita gente não sabe, é que a atriz para viver a personagem do longa protagonizado por Caco Ciocler, teve que aderir um novo visual.

"No começo foi estranho e libertador ao mesmo tempo. Eu estava com o visual 'iluminado', cheio de mechas loiras que eu adorava e tive que voltar ao castanho escuro, o que me deu um visual mais 'sóbrio', mais 'sério', mas acabei acostumando e até curtindo; o que achei mais desafiador foi o penteado da Alexandra, a personagem, acho que nunca usei meu cabelo estilo 'Black power', com tanto volume e zero definição dos cachos, sempre achei lindo nos outros, mas em mim achava ousado demais, sabe? Nunca havia cogitado a possibilidade e no final já estava me achando uma verdadeira diva, minha estreia nas telonas será de cabelão, tudo a ver", declara a atriz.

Ela também relembra o passado em que passou pela transição capilar e situações desagradáveis por passar pela experiência de mudar o aspecto de suas madeixas por um modelo social que nunca teve significado para a atriz.

"É curioso porque pouca gente sabe que eu passei por esse processo. Esclarecendo: eu nunca fiz a tal escova progressiva, mas acontece que desde os 5 anos de idade eu fazia relaxamento, que também é um processo químico que altera profundamente a estrutura capilar, ou seja, meu cabelo era cacheado, mas estava longe de ser natural. Acho que nem eu compreendia isso muito bem, relaxar os cabelos era bem comum na época, tinha um salão em específico que praticamente toda cacheada frequentava, era uma espécie de requisito pra ser aceita: 'Cachos? Ok! Volume? Nem pensar'! Ele ficava bem baixinho, coladinho na cabeça, depois da transição eu conheci meus cachos reais que estão bem longe de ser comportadinhos daquela forma, e graças a Deus. Aliás, o conceito de 'salão de beleza' sempre foi meio esquisito pra mim, porque eu nunca saía me sentindo mais bonita do que entrava: cabelo molhado, creme pingando e couro cabeludo ferido por conta da química, era uma espécie de tortura mensal da qual eu nunca compreendia a razão, talvez porque não houvesse razão mesmo, hoje enxergo tudo aquilo como fruto do preconceito e da ignorância".

"Eu tinha um verdadeiro trauma com cabeleireiros de um modo geral, até conhecer o salão especializado que frequento hoje e mudar de opinião. Faz toda a diferença ser bem tratada, ter as vontades respeitadas, entender que meu cabelo não é 'ruim', 'duro' ou 'difícil' de tratar. Pensando agora, faz todo o sentido que eu detestasse ir a esses estabelecimentos porque era um show de constrangimento: já fui num local em que funcionárias brigaram entre si porque nenhuma delas queria desembaraçar meu cabelo por ser grande demais; em uma outra situação queriam me cobrar uma taxa extra por estar 'muito embaraçado', e nem preciso mencionar as vezes em que tive meu cabelo cortado sem consentimento, essas pequenas violências deixam marcas enormes na gente", completou a atriz e dubladora.

A carioca Isabele Riccart além da dublagem e do seu início no audiovisual, coleciona diversas atuações nos palcos como "Pássaro Azul, O Musical", sob a direção de Isabela Sechin (2015). Ela também se destacou em "Mogli, O Musical" (2016 a 2019), "Gota D'agua" (2019) e "Rua Azusa" (2020), este último laureado com o prêmio Bibi Ferreira. Desde 2019 integra a “Blabonga Cia Teatral”, do Rio de Janeiro.