Gerson vai à delegacia após caso de racismo

Gerson, do Fla, acusa o meia colombiano Ramirez, do Bahia, de ter dito: 'Cala a boca, negro', durante jogo no Maracanã - Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

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O meio-campista Gerson esteve ontem na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADI) para prestar depoimento sobre o ocorrido no confronto entre Flamengo e Bahia, no último domingo. Após o jogo, o camisa 8 do Rubro-Negro acusou o atleta Ramírez, do Tricolor, de racismo.

Ainda na delegacia, Gerson se pronunciou sobre o caso, apontando as motivações para combater o racismo.

"Estou aqui na delegacia, vim falar sobre o ocorrido. Quero deixar claro que não vim falar só por mim, mas pela minha filha, que é negra, meus sobrinhos, que são negros, meu pai, minha mãe, amigos e todos os negros no mundo. Hoje, graças a Deus, sou jogador de futebol e tenho voz ativa para poder falar e dar força para que outras pessoas que sofrem racismo ou outro tipo de preconceito possam falar também", afirmou o atleta.

Quem também comentou sobre o ocorrido foi o vice-presidente geral do Fla, Rodrigo Dunshee, que esteve ao lado de Gerson na delegacia.

"O Flamengo está aqui junto com o Gerson, como está sempre junto com todos os atletas, para apoiar nesse momento. O Gerson cumpriu seu papel de cidadão, fez a apresentação e agora a questão está entregue à Justiça e a gente espera que a justiça seja feita", concluiu Rodrigo.

Do lado do Bahia, a decisão foi pelo afastamento de Ramírez, que nega as acusações.

"Em nenhum momento fui racista com nenhum dos jogadores, nem com Gerson, nem com qualquer outra pessoa. O que passa é que quando fizemos o segundo gol, levamos a bola para o meio, para recomeçar o jogo rapidamente. Então, o [atacante] Bruno Henrique finge [sair jogando], eu saio a correr. Digo a Bruno: 'jogue rápido, por favor, jogue sério'. Ele toca a bola para trás e o Gerson não sei o que me fala, mas eu não compreendo muito o português. Não compreendi o que me disse e falei: 'jogue rápido, irmão'. Passo por ele, sigo a bola, não sei o que ele entendeu. Ele jogou a bola e passou a me perseguir sem eu entender o que se passava. Passei por trás dele, pois não queria entrar em briga com ninguém. Depois ele saiu falando que o tratei com um 'cale a boca, negro', em português, quando eu realmente não falo português, assim fluente. Estou há apenas alguns meses no Brasil e sobre ser racista, não estou de acordo, porque não é bem visto em nenhuma parte do mundo e sabemos que todos somos iguais. Em nenhum momento falei isso e menos ainda usei essa palavra", declarou.

Apoio - O ex-técnico do Flamengo, Domènec Torrent, enviou ontem uma mensagem em solidariedade ao jogador. O espanhol destacou que Gerson é "um homem de caráter ímpar" e que o racismo representa "uma praga mundial que devemos combater todos os dias".

"Recebi com muita tristeza a notícia dos atos racistas contra o meia Gerson, que foi meu jogador no Flamengo e um homem de um caráter ímpar. O racismo é uma praga mundial que devemos combater todos os dias. Minha solidariedade ao Gerson e seus familiares! Não podemos mais tolerar esse tipo de situação!", escreveu Dome, através de suas redes sociais.

Torrent chegou ao Flamengo em agosto deste ano para assumir o lugar de Jorge Jesus. No entanto, durou pouco no comando do time e foi demitido no começo de novembro. No total, o técnico disputou 24 partidas com o Rubro-Negro e conquistou 14 vitórias.