Com disputa jurídica em torno de spray, CBF retoma uso da ferramenta em seus torneios

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Na edição de 2021 do Campeonato Brasileiro, com início programado para sábado, os árbitros poderão utilizar o spray para demarcar espaços em campo nas cobranças de falta. Adotada novamente pela CBF, a ferramenta está no centro de uma disputa jurídica com ares de Davi contra Golias entre o brasileiro Heine Allemagne e a Fifa.
No último dia 20 de maio, a CBF enviou aos árbitros um ofício com orientações para a temporada 2021, assinado pelo ex-juiz Leonardo Gaciba, presidente da Comissão de Arbitragem da entidade. O item 4.9 do documento, obtido pela Gazeta Esportiva, trata sobre a ferramenta.
“A CBF disponibilizará 02 (dois) sprays demarcatórios de barreiras da marca ‘Spuni’ a serem utilizados, obrigatoriamente, nas partidas de competições coordenadas pela CBF, exclusivamente”, diz o documento. A Spuni é a empresa de Heine Allemagne, que luta para ser reconhecido como inventor da ferramenta empregada nas últimas duas Copas do Mundo.
O engenhoso spray de espuma esbranquiçada, não utilizado no Campeonato Brasileiro 2020, já foi empregado pelo árbitro Leandro Vuaden no confronto entre Palmeiras e Flamengo, disputado no último mês de abril, pela Supercopa do Brasil. Na antevéspera da partida realizada em Brasília, Gaciba falou sobre a ferramenta, que, como ex-árbitro, conhece bem.
“Nós estamos voltando ao spray, que sempre se mostrou eficiente, principalmente para a questão da distância da barreira. Agora, voltamos a ter essa possibilidade. Acreditamos que é uma ferramenta interessante para o futebol. Além de agilizar as cobranças de falta, faz os jogadores respeitarem mais a distância”, elogiou Gaciba ao site oficial da CBF.
A relação entre Heine Allemagne e a Confederação Brasileira de Futebol já foi de parceria, mas acabou cortada. O mineiro de Ituiutaba que luta para ser reconhecido como inventor do spray soube pela Gazeta Esportiva sobre a adoção da ferramenta na temporada de 2021 e garante que sua empresa não vendeu o produto à entidade.
“Passaram 20 anos, a patente expirou em outubro de 2020 e, hoje, é de domínio público”, constatou Heine. “A CBF tem a missão de desenvolver o futebol brasileiro e o spray foi uma invenção que revolucionou o futebol mundial, mas o presidente passou a cooperar com a Fifa em um processo que ela está totalmente errada”, completou, em alusão a Rogério Caboclo.
Em contato com a Gazeta Esportiva, a assessoria de imprensa da CBF confirmou o uso do spray nas competições da temporada de 2021 e esclareceu que não tem qualquer pendência com Heine Allemagne. A disputa jurídica em torno da ferramenta, de fato, é entre o brasileiro e a Fifa.
Heine ao lado do suíço Joseph Blatter, então presidente da Fifa e hoje condenado
Representada por Cristiano Zanin Martins, que também advoga pelo ex-presidente Lula, a Spuni em 2020 recebeu um parecer desfavorável do Comitê de Ética da Fifa, já que o órgão considerou que o tema deve ser resolvido na Justiça brasileira. Procurada pela reportagem, a colombiana Maria Claudia Rojas, responsável pela decisão, alegou não poder dar informações sobre casos específicos.
No ano passado, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu em favor da Fifa na primeira instância. Recentemente, no último mês de abril, o Superior Tribunal de Justiça determinou que a entidade que rege o futebol precisará responder apenas pelas eventuais violações de patente ocorridas no Brasil. Heine Allemagne, por sua vez, segue na luta.
“Foram 20 anos de dedicação e não tive benefício algum. A Fifa não mudou: continua sendo uma instituição maléfica e que teve vários membros presos. Não há fair play. Se o caso for julgado de forma isenta, minha chance de perder é zero. Agora, do jeito que a Fifa está atuando, é Davi contra Golias. Com uma pedrinha, tenho que derrubar um gigante”, afirmou, disposto a seguir no combate.