Burnout e ansiedade: Flavia Saraiva e Verônica Hipólito contam como superaram essas crises

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Simone Biles escancarou para o mundo a relevância da saúde mental no esporte. Ao desistir da maioria das provas na Olimpíada de Tóquio, a norte-americana ajudou a levantar um problema negligenciado entre a maioria dos atletas. Problema mais próximo do que se imagina. A ginasta Flávia Saraiva e a paratleta Verônica Hipólito são duas jovens associadas tanto ao sucesso esportivo quanto ao sorriso contagiante. Essa é a imagem que passam quando estão lutando por vitórias. O que poucos sabem é que ambas já vivenciaram casos sérios. Flávia sofreu burnout e Verônica teve crises de ansiedade.
Ambas superaram o problema com a ajuda de profissionais da psicologia, tanto clínica quanto esportiva, e falam abertamente de seus dramas. Flavinha e Verônica compartilharam experiências em debate que contou com a participação da psicóloga Adriana Lacerda, especialista em psicologia do esporte aplicada ao alto rendimento. O trio se reuniu durante o Liga NESCAU Summit, congresso digital voltado para profissionais de educação física.
“Em 2018, eu tive burnout. Foi um momento muito difícil, porque eu queria muito permanecer treinando no ginásio e não conseguia. Não foi um burnout físico, mas mental. Eu fiquei dois meses sem dormir. Dormia três horas por noite e treinava sete horas por dia. Fui ficando desesperada. Tinha vontade de chorar o tempo todo. Eu entrava no ginásio e já falava: ´preciso ir embora´. Eu falei com a minha psicóloga: ´Não tenho medo de executar os exercícios. Mas, na hora, minha cabeça não sabe o que fazer´. Eu amo a ginástica, é o que mais amo na vida, e não conseguia”, contou Flavinha.
Para entrar no processo de cura, Flavinha contou com apoio de psicóloga, familiares e treinador. Se convenceu que precisava cuidar primeiro da Flávia pessoa e depois da atleta. Aceitou uma folga de três dias e, a partir daí, começou o tratamento direcionado até chegar a cura. “Não é simples, nem fácil. Fui para um período de dois meses de treinos em Portugal e, nossa, eu só chorava. Ligava para minha psicóloga desesperada, no meio do treino, com falta de ar. E eu sentia muita raiva. E eu sou zero de ter raiva, sou muito alegria. E eu não sabia o porquê. E ela me ajudou 100%. Me fez entender que eu precisava me aceitar”, revelou a ginasta.
Foto: Divulgação
A paratleta Verônica precisa de força mental para superar problemas físicos. E nem sempre foi fácil. “Todo mundo comentava como eu estava sempre sorrindo, que iria voltar a competir após cada problema. Então eu pensava: ´não posso sentir pressão, eu não sinto pressão´. Mas, na verdade, eu sentia. Um dia tive uma crise de ansiedade altíssima e eu não conseguia entender, porque ansiedade, para mim, era coisa que só acontecia em filmes. E eu fui passando por cirurgia após cirurgia. Para resumir, foram três na cabeça para retirada de tumor e uma no intestino grosso, e eu sempre ficava na expectativa de quando voltaria a treinar”, explicou.
No momento, Verônica passa por tratamento de radioterapia e diz ter aprendido a separar cada momento, para que um não interfira no outro. “Meu psicólogo me ajudou muito a entender que eu não assumia o medo. Eu sentia medo de me paralisar. Só ficava pensando no que iria acontecer. Hoje, tenho a hora da rádio e a hora do treino. E entendo que, no meu tempo de treinar em altíssimo rendimento, preciso blindar as fraquezas até transformá-las em pontos fortes”, contou a medalhista paralímpica.
Flavinha e Verônica viveram momentos distintos no ciclo para Tóquio. A ginasta superou lesões, antes e durante os Jogos Olímpicos, e voltou para o Brasil feliz com sua participação, com direito à presença na final. Verônica, em função dos problemas de saúde, não conseguiu se classificar para a Paralimpíada, mas teve atuação destacada como comentarista do SporTV. Agora, ambas trabalham para competir em Paris-2024. E reafirmam a mesma convicção de aproveitar esse processo com alegria porque estão fazendo o que amam. A pressão não vai desaparecer, mas, com ajuda de profissionais da psicologia e treinamento esportivo, aprendem a lidar cada vez melhor com ela.