.

Xadrez: das origens milenares ao protagonismo nas escolas e novos campeões mundiais

Por Denise Emanuele Paz Carvalho

Estratégia, educação e história: como o jogo atravessa séculos, conquista gerações e ganha espaço no Brasi

Neste domingo (20), o mundo celebra o Dia Internacional do Xadrez, um dos jogos mais antigos e fascinantes da humanidade. Mais do que uma disputa estratégica entre reis e rainhas, o xadrez é hoje ferramenta de ensino, inclusão social e desenvolvimento cognitivo. inclusive no Brasil, onde ganha espaço nas escolas públicas e privadas.

Ao longo dos séculos, o tabuleiro preto e branco foi palco de guerras simbólicas, de mudanças culturais e de revoluções intelectuais. Das origens controversas no Oriente ao domínio atual de jovens prodígios como o indiano Gukesh Dommaraju, o xadrez continua sendo uma ponte entre tradição e inovação, papel reforçado pelo seu uso como instrumento pedagógico.

Das guerras simuladas à sala de aula: a origem e evolução do xadrez
A origem do xadrez remonta ao antigo "chaturanga", praticado na Índia por volta do século VI. Com peças representando infantaria, cavalaria e elefantes de guerra, o jogo simulava táticas militares, estabelecendo as bases do que viria a ser o xadrez moderno. Do subcontinente indiano, o jogo se espalhou pela Pérsia (onde ganhou o nome "shatranj") e, mais tarde, pelo mundo islâmico e pela Europa medieval.

Durante a Idade Média, o xadrez foi símbolo de status, frequentemente praticado por nobres e reis. Ao longo dos séculos, as regras evoluíram: a rainha (antiga conselheira) ganhou poder total, os bispos adquiriram alcance diagonal e o jogo se tornou mais dinâmico e popular.

O design das peças também se transformou, do abstrato ao figurativo, culminando no padrão Staunton (1835), usado até hoje em competições oficiais.

O xadrez no Brasil: tradição recente, futuro promissor
Embora o xadrez tenha chegado tardiamente ao Brasil, possivelmente no período colonial, sua popularização ocorreu no século XX. O país revelou talentos como Henrique Mecking, o "Mequinho", que chegou a ser o terceiro melhor do mundo nos anos 1970, e Krikor Mekhitarian, um dos Grandes Mestres brasileiros contemporâneos.

Hoje, o Brasil conta com milhares de praticantes, ligas amadoras e torneios nacionais organizados pela CBX (Confederação Brasileira de Xadrez). Além disso, há uma crescente presença do país em campeonatos internacionais e um esforço institucional para estimular a prática do jogo em escolas.

Ferramenta pedagógica: o poder transformador do xadrez nas escolas
Diversos estudos e experiências educacionais comprovam que o xadrez é uma ferramenta eficaz no desenvolvimento de habilidades cognitivas e socioemocionais. Raciocínio lógico, memória, concentração, paciência, resiliência e tomada de decisão são competências naturalmente estimuladas pela prática regular do jogo.

No Brasil, estados como São Paulo, Paraná, Bahia e Pernambuco têm implementado programas de xadrez escolar com resultados positivos. Além de melhorar o desempenho dos alunos em matemática e leitura, o jogo ajuda a desenvolver o pensamento crítico e a disciplina, inclusive entre crianças com dificuldades de aprendizagem.

Projetos sociais em comunidades de baixa renda também utilizam o xadrez como mecanismo de inclusão e combate à evasão escolar. O tabuleiro, nesse contexto, é mais do que um jogo: é uma chance de transformação.

Xadrez feminino: da segregação histórica à ascensão global
Por séculos, o xadrez foi dominado por homens e havia torneios exclusivamente masculinos. Essa lógica começou a mudar com nomes como Vera Menchik, primeira campeã mundial feminina (1927), e foi revolucionada pelas irmãs Polgár, especialmente Judit Polgár, que competiu de igual para igual com os maiores enxadristas do mundo.

Hoje, nomes como Hou Yifan (China) e Ju Wenjun (China) mostram a força das mulheres no cenário internacional. No Brasil, destaque para Juliana Terao e Kathiê Librelato, que vêm representando o país em competições de alto nível.

O palco global: campeões, polêmicas e nova geração
A consagração do Campeonato Mundial em 1886 deu início a uma era de mitos e rivalidades. Bobby Fischer, Garry Kasparov, Anatoly Karpov e Magnus Carlsen são apenas alguns dos nomes que redefiniram o jogo no último século.

O reinado de Carlsen, entre 2013 e 2022, marcou um período de enorme visibilidade para o xadrez, impulsionado também por transmissões online e plataformas como Lichess e Chess.com. Em 2024, o indiano Gukesh Dommaraju, com apenas 18 anos, entrou para a história como o mais jovem campeão mundial, superando a marca de Kasparov.

A ascensão de Gukesh e os confrontos tensos com Carlsen, que em 2025 protagonizou uma reação explosiva ao perder para o jovem rival, mostram que o xadrez continua tão apaixonante quanto imprevisível.

Entre reis, peões e notebooks: o xadrez no século XXI
Em meio a um mundo hiperconectado e de gratificação instantânea, o xadrez sobrevive e cresce. Aplicativos, streamers, séries como O Gambito da Rainha e torneios híbridos (presenciais e online) renovaram o interesse pelo esporte mental.

E mais do que nunca, o xadrez se revela um aliado da educação. Em cada escola que adota o jogo como ferramenta de ensino, em cada criança que aprende a mover seus primeiros peões, renasce a promessa de uma nova geração de campeões, não só nos tabuleiros, mas na vida.

Por Gazeta Rio/Elinton Fragoso