Por Denise Emanuele Paz Carvalho
Os mercados de câmbio e ações registraram fortes solavancos na sexta-feira (18/7) no Brasil. O dólar registrou alta de 0,73% frente ao real, cotado a R$ 5,58, depois de ter atingido a mínima de RS 5,52 durante o pregão. Já o Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira (B3), fechou em forte queda de 1,62%, aos 133.364 pontos.
Para especialistas, os principais vetores do comportamento do dólar e do Ibovespa nesta sexta-feira foram os desdobramentos em torno da investigação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua eventual correlação com o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil. Em 9 de julho, o republicano estabeleceu uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os EUA. A medida começa a valer em 1º de agosto.
Nesta sexta-feira, Bolsonaro foi alvo de uma nova operação da Polícia Federal. Ele passou a usar uma tornozeleira eletrônica e foi proibido de se manifestar por meio de redes sociais. Para o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente confessou de forma “consciente e voluntária” uma tentativa de extorsão contra a Justiça brasileira e, ao lado do filho Eduardo, agiu para “interferir no curso de processos judiciais”.
Questões políticas
Ainda nesse contexto, na quinta-feira (17/7), o presidente americano, Donald Trump, usou argumentos políticos para justificar o tarifaço sobre produtos brasileiros, como o caso do julgamento enfrentado por Bolsonaro no STF por tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023.
Para Moraes, por fim, Bolsonaro condicionou publicamente o fim das sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos à sua anistia, em declaração feita durante entrevista coletiva também na quinta-feira.
Incerteza
Na avaliação de analistas, essa proximidade entre questões econômicas e políticas, em um processo de sucessão eleitoral já declarado, agitou os mercados. “Isso aumentou a incerteza que, por sua vez, sempre afasta o investimento”, diz Emerson Vieira Junior, responsável pela mesa de câmbio e contas internacionais da Convexa Investimentos.
Para Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital, o que assusta o mercado “não é só o barulho doméstico, mas o risco de o presidente americano reagir”. “Há um temor real de que Trump use a situação para justificar uma escalada tarifária contra o Brasil”, diz. “E isso pega direto em setores exportadores como o agronegócio, a aviação e a manufatura.”