Ex-tesoureiro na mira de Moro

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Policiais federais cumpriram mandados judiciais da 31ª fase da Operação Lava Jato, a Operação Abismo

Foto: Rovena Rosa/ Agência Brasil

O juiz federal Sérgio Moro determinou nesta segunda-feira (4) o bloqueio preventivo de R$ 5 milhões nas contas do ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira, alvo da 31ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada pela manhã . O objetivo da medida é garantir o ressarcimento dos cofres públicos em caso de condenação, mas não significa que Ferreira tenha os valores depositados. 

O pagamento de propinas ao ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira teve como objetivo não somente irrigar as finanças do partido, como também proporcionar vantagens pessoais a ele, disseram investigadores responsáveis pela 31ª fase da Lava Jato, denominada Operação Abismo, deflagrada nesta segunda pela Polícia Federal. Ferreira está preso desde o dia 23 na superintendência do órgão em São Paulo, em decorrência da Operação Custo Brasil, também da PF.

Os investigadores disseram ter colhido provas de que Ferreira recebeu recursos desviados da Petrobras. Ele usava contas de parentes para receber os recursos, um blog no qual publicava notas favoráveis à sua atuação política e também uma escola de samba de Porto Alegre para receber o dinheiro.

Em delação premiada, o operador financeiro Alexandre Romano disse ter desviado R$ 1 milhão de contratos para a reforma do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), no Rio de Janeiro, para Ferreira.

Segundo os investigadores, Romano apresentou talões de cheque que comprovam o pagamento de R$ 2 mil ao próprio Ferreira e outros R$ 3,5 mil a seus dois filhos. Valores diversos foram pagos a assessores da tesouraria do PT e, segundo as investigações, também a uma servidora da Casa Civil da Presidência da República.

No despacho em que o juiz Sergio Moro autoriza a prisão preventiva de Ferreira, consta que o blog do advogado Júlio Garcia, na qual há publicações favoráveis a Paulo Ferreira, recebeu R$ 6 mil por meio de cheque nominal. Outros R$ 45 mil foram pagos à escola de samba Estado Maior da Restinga, também por meio de cheques.

Ferreira foi candidato a deputado federal pelo Rio Grande do Sul nas eleições de 2014, mas não conseguiu se eleger. Durante a campanha, ele recebeu da direção nacional do PT um repasse de R$ 266 mil proveniente de doação da Carioca Engenharia, empreiteira cujos diretores Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Júnior delataram o cartel nas obras do Cenpes. Outros R$ 95 mil foram recebidos da Andrade Gutierrez. 

Corruptos – O procurador da República Roberson Pozzobom, que esteve à frente da Operação Abismo, lembrou que Paulo Ferreira é atualmente suplente de deputado federal, indicando mais uma vez que a corrupção tem como meta influir diretamente nas decisões da classe política brasileira.

“Agentes políticos estão no topo da cadeia alimentar das propinas”, disse Pozzobom, "O povo brasileiro hoje já não aguenta mais que os agentes políticos flertem, namorem e casem com a corrupção”, afirmou, antes de explicar os detalhes do esquema. “Precisamos da reforma política. Precisamos mudar esse sistema, só assim conseguiremos virar a página para um Brasil mais justo”, disse.

O procurador estimou que o esquema investigado na Operação Abismo tenha resultado num prejuízo de R$ 39 milhões aos cofres da Petrobras. Como Paulo Ferreira já se encontra preso na Superintendência da PF em São Paulo, em decorrência da Operação Custo Brasil, deflagrada na semana passada, não houve necessidade de cumprir seu mandado de prisão preventiva.

Outros quatro mandados de prisão temporária foram expedidos, contra os executivos ligados ao Consórcios Novo Cenpes: Edison Freire Coutinho, Roberto Ribeiro Capobianco, Genésio Schiavinato Júnior e Erasto Messias da Silva Júnio, em diligências feitas em em São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. Os dois últimos investigados ainda não foram localizados pela PF.

Advogados partem para a defesa  

 
O advogado Júlio Garcia disse que foi surpreendido ao tomar conhecimento da citação de seu nome na investigação. Segundo ele, é uma “inverdade” que tenha recebido contribuição financeira para fazer, em seu blog, alguma postagem favorável a alguém.  

No despacho que o juiz Sergio Moro autoriza a prisão preventiva de Ferreira, consta que o blog do advogado, na qual há publicações favoráveis a Paulo Ferreira, recebeu R$ 6 mil.  De acordo Garcia, o trabalho que faz em seu blog é voluntário, posicionando-se contra o que chama de “golpe político-jurídico” contra a presidenta afastada Dilma Rousseff, e que “nunca recebeu nenhum centavo”. O advogado disse ainda que vai se inteirar da acusação para que possa adotar as providências cabíveis. Ele lembrou que em 2014 foi candidato a deputado estadual pelo PT do Rio Grande do Sul, com uma campanha orçada em R$ 33 mil, valor declarado à Justiça Eleitoral. 
 
Capobianco - O advogado Aloísio Lacerda de Medeiros, que defende o empresário Roberto Ribeiro Capobianco, preso nesta segunda-feira durante a Operação Abismo, da Polícia Federal, que é a 31ª fase da Operação Lava Jato, disse que a intenção de Capobianco é colaborar com as investigações. 

“Vamos para Curitiba para nos inteirarmos do que está acontecendo. Não sabemos o motivo da decretação da medida e só mesmo examinando os autos com toda a tranquilidade é que vamos saber”, disse o  advogado. 

Capobianco é presidente da Construcap, ligada ao Consórcios Novo Cenpes. A Operação Abismo investiga desvios em licitações para a reforma do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da Petrobras, no Rio de Janeiro, onde são feitos estudos sobre a exploração de petróleo em águas profundas.  

De acordo com o Ministério Público Federal do Paraná (MPF-PR), algumas empresas integrantes do consórcio – formado pelas empreiteiras OAS, Carioca Engenharia, Construbase Engenharia, Schahin Engenharia e Construcap CCPS Engenharia – participaram de um grande cartel para fixar preços e fraudar a licitação da reforma do centro de pesquisa da Petrobras. 

O advogado negou que Capobianco tenha relação com o esquema investigado.  “Não sei de onde tiraram isso. Vamos procurar saber para poder refutar na medida certa. Mas ele não tem nenhuma relação com o esquema”. 

O empresário foi detido em casa, em São Paulo, onde foi cumprido também mandado de busca e apreensão.  

A PF esteve ainda na empresa de Capobianco.