O que faz a grama do vizinho mais verde?

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                                                                                                                                                                                                                                                                                               Por Karina Vidinha

Ninguém nasceu para fracassar, pelo menos, não é isso que ninguém quer. O que fazemos com o nosso fracasso é o que nos diferencia das demais pessoas. Uns optam por crescer com isso, outros entendem os motivos e não têm forças para lutar, já uma outra parte nem consegue enxergar os reais motivos do fracasso e culpa o mundo pelo ocorrido.

Durante nossa trajetória profissional, nos deparamos com muitas pessoas que atribuem seus fracassos a fatores externos. Desde uma recusa em um processo seletivo até uma demissão ou um feedback negativo de um gestor, muitas vezes, são atribuídos a preconceito, inveja, perseguição ou algo similar, levando até alguns colegas de trabalho a se questionarem se realmente a pessoa não tem consciência dos seus defeitos, dos erros cometidos ou da falta de competência demonstrada. De fato, existem muitos casos em que a pessoa é injustiçada, mas, em alguns casos, existe mesmo uma visão equivocada da própria pessoa.

Muitas demissões são coerentes, afinal a pessoa faz corpo mole, foge do trabalho, vive nas redes sociais, não cumpre prazos, não se aperfeiçoa e tantos outros motivos, mas, na hora da demissão, ela se vitimiza e coloca toda a culpa na empresa, na insensibilidade do chefe ou na inveja de um colega de trabalho. Mais uma vez reforço, existem injustiças, mas nem todas as demissões são injustas.

Com certeza, muitos de vocês, principalmente os que participam de grupos de divulgação de vagas de emprego, já se depararam com candidatos falando mal dos processos seletivos que participaram, alegando que haviam sido recusados por preconceito do recrutador, por já existir um indicado para vaga ou algo semelhante. Quando um candidato é escolhido em detrimento de outro, muitos podem ser os motivos, como por exemplo, uma boa redação, sua postura na entrevista, um conhecimento maior em determinado idioma, seu desempenho nos testes, experiência maior em determinada atividade e poderia citar outros tantos.

Eu mesma, nas muitas entrevistas que realizei durante minha trajetória profissional, já me deparei com candidatos que diziam estar ali porque suas mães mandaram, mas que preferiam estar dormindo ou na praia, que diziam não ter muita paciência para lidar com o público, quando a vaga exigia esta habilidade, que chegavam atrasados na entrevista e, além de não justificarem o atraso, faziam piada ao serem questionados e muitas foram as situações que já presenciei e que acabam por tirar pontos do candidato. O que quero dizer é que sempre há um motivo para a eliminação de um candidato e que devemos procurar conhecer estes motivos e aproveitar para crescer com isso. Colocar toda a culpa pela recusa no entrevistador ou no concorrente faz com que a pessoa se sinta diminuída e não saiba exatamente onde precisa melhorar.

Outro dia, em um desses grupos de divulgação de vagas, vi uma discussão porque uma vaga para a área de RH exigia formação em psicologia. Apesar de constar nas atribuições da vaga que o profissional teria que estar apto a aplicar testes psicológicos, os participantes da discussão julgaram ser preconceito da empresa com as demais formações. Por exemplo, uma determinada vaga exige inglês fluente e um candidato julga ser injusto porque estamos no Brasil, outro entende sua limitação e sai em busca de vagas que não exijam o idioma e já um terceiro aproveita essa informação para aperfeiçoar o seu inglês. Quem terá mais chances de conseguir uma nova colocação futuramente? Provavelmente, aquele que entendeu onde estava o seu gap e optou por desenvolver essa competência.

Um dos grandes causadores de conflito entre os funcionários nas empresas é o salário. As pessoas podem e devem reivindicar melhores salários, mas isso relacionado aos seus atributos, competência, resultados e atribuições. Porém, o que vemos, algumas vezes, é a comparação com outro funcionário, sem que sequer haja uma reflexão sobre as diferenças, às vezes, gritantes entre eles. Se estivessem na mesma função, com as mesmas responsabilidades ou outro requisito que fizesse jus a equiparação salarial, seria coerente a reivindicação.

Os conflitos nas equipes são constantes, desgastantes e improdutivos. Existem pessoas que parecem não querer ver o sucesso de seus colegas, talvez porque isso possa salientar suas fragilidades ou, até mesmo, sua procrastinação.

Enfim, eu poderia citar diversos outros exemplos que colocam uma máscara sobre os problemas e fazem com que a pessoa não cresça, pelo contrário, fazem com que ela se sinta menor, se afunde cada vez mais e não tenha clareza das coisas que acontecem em sua vida. Se a grama do vizinho é, realmente, mais verde, muito provavelmente, é porque ele trabalhou para que isso acontecesse e não perdeu tempo olhando a grama ao lado. Então, não perca mais tempo, leia as entrelinhas, busque os reais motivos daquilo que acontece com você, tome as rédeas da sua vida e não fique preocupado com a grama do vizinho.

Karina Vidinha é psicóloga e coach, parceira do RH-LF