A segunda filha

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Tenho duas filhas, uma com 3 anos e outra com pouco mais de 1 mês de vida. A chegada da caçula despertou em mim novas experiências, que antes eram impossíveis de se experimentar. A mais forte delas é o clássico dilema da divisão do amor e as perguntas decorrentes: Será que vou amá-la como amo a mais velha? Será que serei capaz de me dividir e dar tratamento igual às duas? Será que ela me amará de volta? A verdade é que não há respostas, nem certas, nem erradas. Apenas precisa-se compreender que toda relação é uma construção. O amor se constrói desde quando o bebê ainda é um plano, distante, na cabeça de duas pessoas que desejam ter um filho. Por isso, em uma gravidez inesperada, a construção do amor tende a demorar mais.

Posso dizer que, no momento em que ela chegou ao mundo, senti algo mudar, da mesma maneira que aconteceu há três anos atrás. Evidentemente, a primeira criança é mais celebrada, mais aguardada, mas posso dizer que a segunda nos dá a plenitude. A maturidade (ou o fato de termos sobrevivido à primeira gravidez) faz com que tenhamos muito mais calma e paciência. Os problemas parecem menores, a ansiedade está mais controlada e acreditamos que tudo vai dar certo. Sobre a divisão do amor, posso falar por mim: é algo instantâneo. Ao mesmo tempo que ela é uma ilustre desconhecida, também é muito mais desprotegida que a mais velha. Minha bisavó, quando confrontada pelos filhos sobre qual filho era seu preferido (ela tinha seis!), usava um velho ditado árabe, que, para mim, aquieta o coração: “O filho preferido é o pequeno... até crescer; o doente... até sarar; o ausente... até chegar.”. Assim ela sabiamente ensinava que amamos os filhos com a mesma intensidade, mas de maneiras diferentes. E que não devemos sentir culpa por isso.

Amamos mais aquele que mais precisa, naquele momento. E no momento seguinte tudo muda. Por isso é tão comum que nos sintamos culpados quando chega um bebê. É nosso instinto natural protegê-lo, ao mesmo tempo que a chegada serve de empurrão para darmos mais autonomia ao mais velho. Temos que fazer do limão uma limonada. Os pais e mães devem aproveitar esse momento para agregar o filho mais velho na rotina do bebê, inseri-lo nas tarefas e dar a ele novas responsabilidades, sempre chamando-o ao papel de primogênito. Isso funciona muito bem, sobretudo para conter as temidas regressões, tão naturais e que demonstram, somente, que nossos filhos têm sentimentos. Abrace a causa da divisão do amor: porque amor é a única coisa no mundo que, quanto mais se divide, mais se multiplica.