Boechat: partida antes da hora

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Humor e competência: marcas de Boechat, que se destacou em todas as frentes

Divulgação Band News

O jornalista Ricardo Boechat, âncora da BandNews FM, do Jornal da Band e colunista semanal da revista ISTOÉ, morreu nesta segunda-feira (11), aos 66 anos, vítima de um acidente de helicóptero em São Paulo. Boechat retornava de uma palestra em Campinas, quando a aeronave que o transportava caiu em cima de um caminhão e explodiu, na Rodovia Anhanguera, num dos acessos do Rodoanel, na Região Metropolitana da capital. O piloto do helicóptero, Ronaldo Quattrucci, também morreu. O motorista do caminhão sofreu ferimentos leves e prestou depoimento logo após o acidente, mas depois passou mal. 

Filho de diplomata, Ricardo Eugênio Boechat nasceu em Buenos Aires em 13 de julho de 1952, e passou boa parte de sua infância e adolescência em Niterói, para onde a família se mudou em 1956 e vive até hoje. Aluno do Centro Educacional de Niterói (CEN), morou no bairro de São Francisco. Aos 17 anos, começou a trilhar sua trajetória no jornalismo, mas nunca se desvinculou da cidade. No rádio, todos os dias, mandava mensagens para a mãe, dona Mercedes Carrascal, que reside aqui. Seu irmão Carlos Roberto Boechat é administrador regional da Região Oceânica. 

A morte do jornalista pegou o Brasil de surpresa. O acidente com o helicóptero, que aconteceu por volta do meio-dia, estava sendo noticiado pelos meios de comunicação, mas ainda não se sabia quem eram os ocupantes da aeronave. Após a confirmação, a BandNews FM chegou a ficar fora do ar. 

A Prefeitura de Niterói decretou luto oficial de três dias pela morte do jornalista. 

“Em toda sua carreira profissional, Boechat demonstrou carinho especial por Niterói, onde ainda vivem sua mãe e familiares. Em suas notas e comentários, o jornalista atuou em defesa dos niteroienses e exaltou as características da cidade”, diz a nota divulgada pelo Executivo municipal.

Ainda hospitalizado, o presidente Jair Bolsonaro se manifestou sobre a morte de Ricardo Boechat pelas redes sociais. 

“É com pesar que recebo a triste notícia do falecimento do jornalista Ricardo Boechat, que estava no helicóptero que caiu hoje em SP. Minha solidariedade à família do profissional e colega que sempre tive muito respeito, bem como do piloto. Que Deus console a todos!”, escreveu o presidente. 

Outras autoridades se manifestaram, entre elas o governador Wilson Witzel. 

“Lamento profundamente a morte do jornalista Ricardo Boechat. Referência no jornalismo brasileiro, respeitado pela coragem e veemência na denúncia da má gestão pública e privada, Boechat com certeza deixará saudade em tantos ouvintes, telespectadores, leitores e admiradores que acumulou ao longo de tantos anos de trajetória profissional. Com estilo único, Boechat é insubstituível. Meus votos de força e fé a toda a família de Boechat e também ao Grupo Bandeirantes, que perde um de seus mais brilhantes jornalistas”, finalizou o governador. 

O Grupo Bandeirantes também divulgou nota de pesar. “É com profunda consternação que o Grupo Bandeirantes de Comunicação lamenta o súbito falecimento do jornalista Ricardo Boechat, hoje (Segunda-feira (11)) em São Paulo. Além de um profissional muitíssimo conceituado, premiado e admirado, o Brasil perde um grande homem, pai de seis filhos, avô e amado esposo. A toda sua família, e à família do piloto Ronaldo Quatrucci, transmitimos mais uma vez nossos sentimentos. Estamos todos, funcionários e colaboradores, muito tristes e abalados com esta trágica notícia. O jornalismo e o Brasil perderam hoje uma referência insubstituível. E nós, do Grupo Band, perdemos um amigo e profissional que jamais esqueceremos”, lamenta João Carlos Saad, presidente do Grupo Bandeirantes de Comunicação.

O jornalista Alexandre Torres, do Grupo Fluminense, destacou a importância de Ricardo Boechat: “Durante mais de dez anos, tive a oportunidade de acompanhar todo o crescimento da Rádio Band News Fluminense FM, numa parceria extremamente feliz entre os grupos Band e Fluminense. E o jornalista Ricardo Boechat, que sempre pautou sua vida profissional pelo total respeito à informação com seriedade e isenção, foi o principal responsável por comandar uma equipe de jornalistas que revolucionou a rádio no Rio. Tenho muito orgulho de fazer parte desta história, até porque Boechat viveu em Niterói durante muitos anos e foi uma pessoa extremamente capaz naquilo que se propôs a fazer. O Grupo Fluminense também está de luto. Neste momento de dor e perda, não apenas para o jornalismo brasileiro, mas para todos os ouvintes, amigos, companheiros de jornada, gostaria de me solidarizar com a família. O País vive nova tragédia e perde um de seus maiores jornalistas”. 

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) manifestaram, em nota conjunta, profundo pesar diante da morte do jornalista Ricardo Boechat. “Um dos mais respeitados jornalistas brasileiros, Boechat deixa o exemplo de talento, dedicação, coragem e ética”, diz a nota. “Sua presença marcante ficará para sempre na memória do jornalismo brasileiro”.

A ANER e a ANJ solidarizam-se com os familiares, amigos e companheiros de trabalho do jornalista. 

Fernando Mitre, diretor nacional de jornalismo da Rede Bandeirantes, afirmou que a morte de Boechat é “uma perda absurda para o jornalismo”.

“O Boechat tinha muito ainda a dar ao jornalismo brasileiro, que foi enriquecido extraordinariamente e ganhou um capítulo espetacular quando ele se tornou âncora do Jornal da Band e da BandNews. Com as suas opiniões fortes, honestas, trabalhadas em cima de notícias e da informação, ele produziu uma revolução no jornalismo, e era uma revolução que a gente vivia diariamente com ele”, disse.

Rodolfo Schneider, diretor de jornalismo da Band Rio, disse que “perde seu segundo pai”.

“Perco, sem dúvida alguma, meu segundo pai. O meu pai era jornalista e eu perdi ele por um câncer há dez anos. Pessoal e profissionalmente, o Boechat assumiu (a figura paterna) e ele sabia disso. Ele sabia que era um dos caras que eu era minha maior representação, maior exemplo, maior orgulho. Eu tenho certeza que muito do que sou hoje eu devo ao Boechat, ele foi uma luz em meu caminho”, declarou.

Sepultamento – O corpo de Boechat será velado até as 14h desta terça-feira (12) no Museu da Imagem e do Som (MIS), no bairro Jardim Europa, na capital paulista. O velório é aberto ao público. O sepultamento será realizado nesta terça, mas a cerimônia será reservada à família. O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, representará o presidente Jair Bolsonaro. 

Boechat na bancada da Band com as filhas Catarina e Valentina e a mulher Veruska

Divulgação BandNeus

Paixão pela notícia e pela família

Ricardo Boechat começou no jornalismo no início da década de 1970, trabalhando como assistente do colunista social Ibrahim Sued no Diário de Notícias, já extinto, e depois no jornal O Globo. Anos mais tarde, foi para o Jornal do Brasil. 

Durante um breve período nos anos 1980, passou pela Secretaria de Comunicação do Governo do Estado, na gestão do então governador Moreira Franco. Num retorno a O Globo, passou a ter coluna assinada com seu nome. 

A partir de meados dos anos 1990, iniciou sua trajetória em televisão, se tornando comentarista do telejornal Bom Dia Brasil, da Rede Globo. Em 2006, foi para o Grupo Bandeirantes, onde se dividia entre o rádio e a TV, e no qual permaneceu até esta segunda-feira (11). Em sua carreira colaborou com vários jornais, entre eles O FLUMINENSE, para onde escreveu artigos.

Prêmios – Boechat acumulou, ao longo de sua carreira, diversos prêmios. Foi vencedor do Prêmio Esso de jornalismo nos anos de 1989, 1992 e 2001, além de ser recordista de vitórias no Prêmio Comunique-se, sagrando-se vencedor nas categorias Âncora de Rádio, Colunista de Notícia e Âncora de TV. 

Sem dúvida o jornalismo era sua grande paixão, a qual vivia intensamente. O olhar atento para os fatos e o humor ácido fizeram dele uma das figuras mais marcantes do jornalismo brasileiro. 

Família – Embora absolutamente focado no trabalho, Boechat sabia ter tempo para a família. Teve quatro filhos com a primeira mulher, Claudia Costa Andrade, e dois com Veruska, atual esposa, por quem se declarava apaixonado diariamente em seu programa. Nesta segunda-feira (11), em seu Facebook, a doce Veruska, como era chamada pelo marido, postou foto do dia do casamento dos dois, escrevendo em seguida que esta segunda era o dia mais triste de sua vida. 

O último programa – Na manhã desta segunda-feira (11), horas antes do acidente que o matou, ancorando seu último programa pela rádio BandNews FM, Boechat comentou sobre a sucessão de tragédias no Brasil no início deste ano e criticou a curta memória na cobrança de medidas legais sobre as mesmas, relembrando o rompimento da barragem de rejeitos de minério em Brumadinho, Minas Gerais, e o incêndio no Ninho do Urubu, Centro de Formação de atletas do Flamengo, o seu time do coração. 

“O que nós devemos considerar é se nós queremos continuar lidando com estas tragédias pranteando-as no início e esquecendo-as logo depois. [...] Quando a gente chora, sofre, lamenta o fato ocorrido ontem, a gente parece estar anestesiado ou gostar da anestesia que nos faz esquecer que deste fato, tão logo surge o fato do amanhã, que terá o mesmíssimo tratamento”, disse Boechat. 

Niterói era um elo permanente

O jornalista Gilson Monteiro, que trabalhou com Boechat em O Globo, lamentou a perda do colega.

“A imprensa brasileira perde uma das suas maiores expressões, no jornalismo impresso e radiofônico. Ricardo Boechat, com quem convivi uma vida inteira, deixa uma lacuna insubstituível, pela sua combatividade, coragem, raciocínio rápido e inteligência, o que vai fazer falta numa época em que a verdade mais precisa ser dita. Uma outra paixão de Boechat era Niterói, cidade de qual lembrava sempre dos recantos e enaltecia sua gente, especialmente os muitos amigos. Trabalhamos muito tempo juntos em O Globo, mas muitas vezes me pediu para levá-lo ao gabinete de Alberto Torres, em O FLUMINENSE, por quem tinha admiração e com quem gostava de bater papo. O jornalismo perde uma de suas vozes mais combatentes e intransigentes, a cidade, o seu maior divulgador e os ouvintes da BandNews, o amigo de todas as manhãs”,  lamentou o jornalista.

Sem autorização para táxi aéreo 

Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a RQ Serviços Aéreos Especializados, dona da aeronave que caiu vitimando o jornalista Ricardo Eugênio Boechat e seu piloto, Ronaldo Quattrucci, não tinha autorização para realizar a atividade de transporte de passageiros remunerada. Ainda segundo a Anac, um processo administrativo será aberto para apurar o tipo de transporte que estava sendo realizado no momento do acidente. 

A empresa RQ Serviços Aéreos Especializados, em 2011, foi multada por oferecer voos panorâmicos em um site de compras coletivas. Na oportunidade, a defesa da empresa afirmou que se tratava apenas de um erro da plataforma.

A página da companhia nas redes sociais, entretanto, não descarta a realização de serviços de táxi aéreo: “especializada em trabalhos aéreos tais como filmagem, fotografias e reportagens, contando com parceria com outras empresas que completam o quadro de atuação dentro do segmento”, diz a descrição da página.