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Enterro foi no final da tarde no Memorial Parque Nicteroy
Foto: Douglas Macedo
Os corpos de Adão Orlando Silva Moraes, de 87 anos, de seu enteado Rafael Sergio Alcântara de Oliveira, de 35, do adolescente Lucas Alcântara de Oliveira, de 13, e do bebê Gabriel Alcântara de Oliveira, de 11 meses, foram sepultados nesta segunda-feira (4) à tarde, sob clima de emoção e revolta. A família foi atingida por uma descarga elétrica após o rompimento da fiação na Rua Marechal Floriano Peixoto, em Neves, São Gonçalo, na noite de domingo (3). O corpo de Adão foi enterrado no Cemitério Maruí, em Niterói. Já os enterros dos corpos de Rafael e de seus dois filhos aconteceram no Parque Nycteroy, em São Gonçalo. A quinta vítima do acidente, a avó das crianças Maria Nazaré, de 60, foi a única sobrevivente. “Foi assustador. Todo mundo que estava na rua ouviu a explosão. Quando o fio caiu sobre o carro, o menino tentou pegar o irmão e depois o pai e o avô. Quem anda pela calçada olha para o alto com medo de acontecer outro acidente”, desabafou a dona de casa Severina Pereira, de 47 anos, moradora do bairro.
Abalado com a perda dos sobrinhos e do cunhado, o militar Claudio Rodrigues, de 44, irmão da viúva Ana Claudia Piedade Rodrigues, declarou: “Um fio de alta tensão não arrebenta tão fácil assim. Isso não foi um simples acidente, foi imprudência. Vamos aguardar a conclusão do laudo pericial para tomar providências”, afirmou. O advogado do filho do aposentado Adão Orlando, Edinildo Sarmento, disse que “passado o momento de tristeza, ações serão tomadas, não por dinheiro, mas por justiça”.
Técnicos da Ampla acreditam que a explosão de uma bomba caseira jogada dentro de uma geladeira na Rua Saldanha Marinho, nas proximidades, tenha causado o curto-circuito na rede. “Alguns pedaços dessa geladeira atingiram a rede”, disse um técnico.
A tragédia aconteceu por volta das 19h. O cabo caiu em cima do Ford Fiesta de Raphael, que colocava os filhos dentro do carro. Com o susto, o adolescente Lucas correu para retirar o irmão mais novo que estava em uma cadeira dentro do carro. Ele acabou atingido por uma descarga elétrica. Raphael e Adão ainda tentaram puxar o menor, mas também foram eletrocutados. As quatro vítimas não resistiram e morreram.
Por meio de nota, a Ampla informou que na noite de domingo identificou em seu sistema um curto-circuito de grande proporção naquela região, que ocasionou a falta de luz em vários pontos do bairro. Ainda na nota, a empresa acrescenta que irá aguardar a conclusão das investigações da Polícia Civil. A Ampla afirma que está prestando assistência à família das vítimas e emitiu informe sobre o que se deve fazer em situações semelhantes.
“O choque elétrico se dá pela passagem da corrente elétrica através do corpo humano e, dependendo por onde ela passe, pode ser letal. Não toque na vítima, nem se aproxime dos fios caídos ou objetos em contato com eles, como cercas metálicas, portões de ferro ou varais de roupa. Se possível, desligue imediatamente a fonte dessa eletricidade. No caso de residências, é o disjuntor (registro geral) da casa. Se estiver na rua e não for possível desligar a fonte, interrompa o contato da vítima com a corrente elétrica, utilizando material não condutor seco (pedaço de madeira, corda ou borracha). Nunca use objeto metálico, não toque diretamente na vítima com as mãos e evite materiais molhados, como uma toalha úmida. Depois, verifique, se a vítima está consciente e respirando. Caso não e você saiba aplicar os primeiros socorros, tente manter a tranquilidade e o faça com cuidado. Enquanto isso, peça a alguém para ligar para o serviço de emergência pelo número 190”.
Nesta segunda-feira, o Procon Estadual autuou a Ampla pelo acidente, argumentando que a legislação federal que regula a concessão de serviços públicos prevê que as concessionárias devem prestar um serviço adequado que satisfaçam as condições de segurança. “Se existe a possibilidade de um cabo de média tensão se romper e atingir a via pública, é evidente que o serviço não está sendo prestado com a segurança necessária. Tais cabos, em virtude da tensão envolvida, deveriam sofrer vistoria regular ou não serem instalados sobre uma via pública”, ressalta a autuação do Procon Estadual.
A Ampla tem 15 dias úteis, contados a parir do recebimento, para apresentar a sua defesa. Caso o prazo não seja cumprido ou os argumentos não sejam aceitos pelo setor jurídico do Procon, a concessionária será multada. O valor não foi informado.
Uma das vítimas continua internada e sem previsão de receber alta
Maria Nazaré Pinho Alcântara foi transferida na manhã desta segunda do Hospital Estadual Azevedo Lima (Heal), onde estava internada desde a tragédia, para a Unidade Intensiva de Queimados do CHN (Complexo Hospitalar de Niterói). Ela foi vítima de queimaduras ocasionadas por choque elétrico.
Segundo o coordenador da UITQ, Olympio Peçanha, “a paciente apresenta lesões salteadas de segundo e terceiro graus nos membros superiores, inferiores e glúteo”. Após ser avaliada pela equipe cirúrgica, Maria Nazaré passou por um procedimento para conter sangramentos (hemostasia) e retirada de tecido morto (desbridamento). O tratamento deverá seguir de forma conservadora, sem necessidade de uma nova abordagem cirúrgica. Entretanto, ela ainda permanecerá sob cuidados intensivos, tendo em vista a gravidade das queimaduras provocadas por eletricidade e das doenças base que a paciente já apresentava.
O médico Olympio Peçanha explica que as eletrocussões podem causar danos externos, como queimaduras, e internos, em órgãos ou artérias. “A corrente elétrica, ao passar pelo corpo, danifica artérias e compromete a circulação, o que pode provocar coágulos sanguíneos e levar a um quadro de embolia. Desta forma, é necessário submeter à paciente a uma bateria de exames de imagem, entre eles, o ecocardiograma, o que deve ocorrer nos próximos dias.”
A paciente está lúcida, respirando espontaneamente e seu estado de saúde é estável. Além disso, ela está sendo acompanhada pela equipe de psicologia do hospital. As visitas estão restritas a familiares e não há previsão de alta.
A Unidade Intensiva de Queimados do CHN, inaugurada recentemente, é referência para acolhimento de queimados graves e conta com uma equipe especializada e exclusiva para o atendimento ágil e tratamento de casos complexos.
Família eletrocutada em SG é sepultada
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