Um Monstro Chamado Sistema Matou a Vereadora

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Vivemos uma época de trevas, sem dúvidas. Tempos em que vemos seres ditos humanos, comemorarem a morte de outra pessoa, por ela militar em campos ideologicamente antagônicos aos seus. Um terrível momento, no qual pessoas sem escrúpulos manipulam informações, para induzir outros tantos ao erro.

Quem matou a vereadora? Policiais da chamada “banda podre”? Traficantes de drogas? Milicianos? Não. Quem matou Marielle foi um monstro chamado Sistema. Construído para perpetuar o poder de poucos, desconhecendo palavras como consciência ou piedade. Esse mesmo monstro é quem mata Policiais aos montes, que invariavelmente têm a mesma origem dos seus algozes.

É o Sistema que arranca o pai de família dos seus, numa esquina qualquer, seja por um telefone celular ou por alguns trocados que leva na carteira. De forma avassaladora, extermina quem ousa desafiá-lo, alimentando-se de uma pobreza que ele próprio propaga a cada dia. Infeliz de quem não consegue pagar pela proteção, pagar o alto preço que o Sistema cobra para manter os meros mortais vivos.

Foi o Sistema que esfaqueou o médico que pedalava na orla da Lagoa e que transformou em monstros, meninos que deixaram sua capacidade de sonhar para trás. Se é que um dia já sonharam com algo, que não fosse apenas dormir em algum lugar digno ou comer coisas não catadas em lixeiras ou obtidas por pequenos delitos.

Quantas mulheres de todas as cores e idades não foram estupradas por esse monstro chamado Sistema, que em seguida fez questão de calar uma por uma, sob o signo do medo e da falta de acolhimento? Sem misericórdia, mantêm milhares delas algemadas em celas invisíveis dentro de suas próprias casas, vítimas da violência que a sociedade doente dispara contra elas.

Ai de quem for pobre e cruzar o caminho do Sistema. Se for preto também, as chances de ser colocado do lado de fora do “muro” aumentam exponencialmente. “Ah, lá vem mais um idiota com essa história de que preto e pobre são discriminados”. Eu bem queria que isso fosse apenas uma bravata. Mas como bom professor da área de exatas que sou, atenho-me aos números. A desigualdade social no país grita. Na verdade, faz um escândalo quase histérico. Enquanto boa parte das classes um pouco mais favorecidas vivem seus contos de fada em seus “Mundos de Alice”.

Pior é perceber que os discursos de ódio dão a tônica das reflexões. Gente que deveria se preocupar com a construção de uma sociedade mais equilibrada, vive seus dias a propagar mentiras, fúria e desagregação. Apegam-se a conceitos toscos de esquerda e direita, em um mundo que necessita de um olhar unicamente voltado para o bem coletivo, independente do lado de onde venha esse olhar.

Ah, esse tal de Sistema! O nosso monstro diário, que nos acossa silenciosamente e nos cega completamente. No meio dos embates das redes sociais sobre esta época tão terrível, alguém me perguntou se eu tinha solução para o caos. Eu disse: “Sim. Distribuir remédios para cegueira para a sociedade.”