Quando um click vira linchamento virtual

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Compartilhamento de informações erradas pode resultar linchamento virtual

Foto: Divulgação

Esta semana, a foto de um jovem de 16 anos que foi detido como suspeito de cometer um assassinato em Icaraí, Zona Sul de Niterói, ganhou a internet. Acusado injustamente, o rapaz, estudante de uma escola estadual, teve sua foto viralizada na internet, onde comentários o condenaram e incentivaram sua prisão e até morte.

De forma irresponsável, foi realizado um verdadeiro linchamento virtual, onde um jovem, sem ter qualquer envolvimento com o crime, teve a sua rotina alterada pelo medo e deixou a sua família em pânico.

Este episódio como tantos outros reacendeu o debate sobre a irresponsabilidade e a imprudência de se compartilhar informações não confirmadas e de fontes não seguras. 

A tia do adolescente, ainda sem acreditar em toda a repercussão, disse que não sabe como expressar o sentimento de dor após ver a foto do sobrinho atribuída a um assassinato. Segundo ela, faltou muita responsabilidade às pessoas que fazem postagens na internet. 

“Nos devemos presumir a inocência, jamais a culpa, e não foi isso que aconteceu. Eu sabia que ele havia sido levado para a delegacia, e estava indo ao seu encontro. De repente, uma outra sobrinha me avisou que estavam acusando ele de homicídio e que a foto dele estava em várias páginas. Busquei ele na DP e conversei com o delegado, que esclareceu tudo”, disse. 

A tia, que cuida do jovem, órfão de pai e mãe, disse que só tomou conhecimento da repercussão quando chegou em casa e viu as redes sociais e que teme pela segurança da família, uma vez que chegaram a receber ameaças. 

Já a avó disse que o menino está tentando seguir com a rotina normal. “Ele vai para o colégio e continua fazendo as coisinhas dele. A família está muito apreensiva porque alguém pode fazer algo com ele por conta desses comentários. Ele é um ótimo neto, ajuda em casa. Vendia uns docinhos e com o dinheiro comprou todo o material escolar dele e dos irmão”, disse. 

Uma das professoras do jovem lamentou todo o ocorrido. Segundo ela, o adolescente está com muito medo. 

“Ele é um ótimo menino. Responsável e ajudava muito em casa. A vida dele é muito sofrida desde pequeno. Estamos dando o apoio necessário”. 

Outro caso - Também esta semana, um caso semelhante aconteceu em São Gonçalo. Durante um assalto ao Partage Shopping, um jovem foi detido acusado de partircipar do roubo. Sua foto também viralizou na internet, porém familiares do jovem, que foi solto horas de depois, disseram que ele estava no shopping à procura de emprego.

Uma outra foto deste mesmo episódio foi disseminada na internet, onde aparece um homem segurando um fuzil nas escadas do shopping. Pelas postagens, internautas diziam se tratar de um dos bandidos.  No entanto, o homem era um policial que estava na ocorrência.  

Credibilidade – Para evitar que fatos como esses voltem a acontecer, é fundamental a busca por informações em veículos de comunicação, que  seguem o processo ético de apuração, consultando fontes oficiais envolvidas nos temas abordados, antes da notícia ser publicada.

O jornalista Vinicius Martins, ressaltou que a internet é democrática, mas é necessário saber como usá-la. 

“O menino teve sorte de não ter sido linchado nessa época nublada em que vivemos. O linchamento virtual, como tudo na internet, vai se apagar com o tempo. Outras injustiças surgirão”,disse. 

Para o Doutor em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), o professor Ozéas Lopes, a sociedade precisa fazer uma profunda reflexão: “As pessoas precisam parar de fomentar ódio nas redes sociais. Os discursos de ódio estão muito inflamados nas pessoas”. Para Ozéas, o pré-julgamento avaliado apenas por imagens ou relatos pode provocar danos terríveis para os envolvidos. “As pessoas não leem mais o que é publicado e acabam disseminando boatos e inflamam ainda mais as discussões. A fogueira está acessa e as pessoas continuam jogando lenha”, lamenta.