Um ano pleno

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2018 chegou. Que venha em paz. Em meio a tantas manifestações pela paz, gosto de pensar que a paz não apenas se deseja: a paz se constrói. Construir a paz é trabalhar por um mundo melhor. Essa é uma das razões de ser da espiritualidade: tornar-nos melhores. Durante as próximas semanas faremos uma viagem pelo caminho espiritual de homens e mulheres que nos ensinaram a orar para nos fazer melhores.

A palavra Oração significa ação da boca. Orar, contudo, vai muito além de proferir palavras. Os místicos passavam horas em silêncio. Era no silêncio que eles alinhavam suas vidas à vontade de Deus. Era depois de noites de oração, provavelmente, a maior parte em silêncio, que Jesus decidia o que fazer.  A oração foi o eixo dos 40 séculos da tradição judaico-cristã. Nem por isso deixou de se constituir um enigma. O fato do homem desejar se encontrar com o Grande Outro, necessariamente, não configura um enigma; afinal, faz parte da nossa aventura humana querer sempre mais. Mas o fato do homem se encontrar com o Grande Outro, esse, sim, é um enigma. 

Os Salmos bíblicos traduziram esse enigma: “Ao som da lira desvendarei o meu enigma” (Salmo 49,5). Se você abrir a Bíblia bem no meio, vai perceber que terá aberto no livro dos Salmos: ele é o coração da Bíblia. Ali você vai encontrar um pouco de si mesmo: inquietude e gratidão, postura interna e transformação da realidade, confiança e pertença total. Foi exatamente o que a maioria das tradições espirituais e filosóficas propuseram como caminho de autoconhecimento.  É certo que o autoconhecimento quase nunca é uma boa notícia. Mas é isso que a oração tenta transformar.  Cada pessoa reza da sua maneira e tenta encontrar palavras para dizer as próprias palavras. Nem sempre consegue. Daí se debruça sobre as palavras que outras pessoas compuseram para expressarem-se a si mesmas. Quando essas palavras são encontradas, é como se um véu se abrisse para o autoconhecimento. Ele deixa, então, de ser a má notícia que tememos. Quando as emoções fluem feito água cristalina, essa água lava a alma.

Nossas emoções, distraídas pela superficialidade diária, ameaçam nos sufocar. Quem encontra a si mesmo nas palavras de outros mais sábios, se sente encorajado a desvendar e a expressar seus sentimentos. A oração de outros que nos ensinaram como rezar teve como base o que eles próprios sentiam em relação ao imponderável da vida. Dali eles partiram para ali retornar. Porque é a vida que interessa. É bem provável que essa seja a parte da “comunhão dos santos”, que todo domingo professamos acreditar. Nós oramos com eles, sobre eles e sobre nós. A oração impulsiona, transforma, encontra o rumo da vida.

Se posso desejar algo, desejo que 2018 seja o ano desse encontro: encontro de razões, de motivos e motivações. Encontro consigo mesmo, com o outro e com Deus. Que no novo ano nada falte à nossa capacidade de encontrar o que falta. E que seja assim, um ano pleno. 
Assim seja!