Encarando com leveza

Entretenimento
Tpografia
  • Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
  • Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Humorista gonçalense faz brincadeira com sua condição em espetáculo em cartaz hoje, amanhã e domingo

Foto: Divulgação

Uma peça que pretende mostrar que cada indivíduo tem sua limitação, seja ela física ou não, e que precisamos aprender a lidar com isso. Na narrativa, o gonçalense Jefferson Farias, portador de deficiência visual, apresenta diversas histórias do seu cotidiano de uma maneira bem-humorada. O espetáculo “Ponto de Vista” terá três únicas apresentações no Teatro da UFF, nesta sexta (14), sábado (14) e domingo (15), sempre às 20h. O nome da peça já indica o que o humorista pretende apresentar durante a encenação.

“O nome é uma brincadeira com a questão da minha cegueira, assim como um conceito de um espetáculo de comédia. O comediante que escreve uma piada está mostrando o ponto de vista dele sobre alguma coisa. Mas o conceito fica como uma ironia mesmo”, explica o humorista, que se tornou cego aos 11 anos, após sofrer uma trombose cerebral, que acarretou em um coágulo na veia do cérebro. “Os meus nervos ópticos pararam de receber sangue e atrofiaram. A minha cegueira é uma decorrência de um problema que tive no cérebro. Não foi um problema oftalmológico, foi neurológico”, conta. 

O olho, a retina e o globo ocular de Jefferson têm o aspecto igual ao de quem não é cego. Muitas pessoas não percebem que ele é cego e essa questão também é tema na peça. 

A carreira do humorista começou em 2008, quando começou a fazer apresentações em praças públicas. Logo depois, foi convidado a participar dos quadros “Humor na Caneca”, no “Programa do Jô”, e “Quem Chega Lá”, no “Domingão do Faustão”. Atualmente, o ator tem um quadro fixo em “A Praça é Nossa”.

Formado em Artes Cênicas pelo Centro Universitário da Cidade, Jefferson escreve seus textos, realiza trabalhos como cronista e roteirista para novos artistas, rompendo os limites que a deficiência visual, muitas vezes, impõe. 

O objetivo de Jefferson é mostrar que todo mundo é igual, o que muda são as limitações. “Na peça, brinco com a minha situação, dou um ponto de vista mais humorado. Falo que as pessoas não precisam ter a falta de tato, não precisam achar que somos pessoas de outro mundo, e isso tudo de uma maneira divertida. Acho que o discurso humorístico atinge mais. Uma peça que levanta a bandeira de respeito não cola mais. Fazer algo que a pessoa ria e entenda a situação é o melhor caminho”, argumenta. 

Com uma linguagem bem-humorada, a peça faz uma análise crítica sobre as dificuldades enfrentadas pelos deficientes. “Encaro como desafio levar meu espetáculo para todos os lugares do País. Um outro desafio que eu considero o maior é me comunicar com as pessoas sem o recurso do olhar. Embora eu procure estar no palco imaginando que também estou olhando para cada uma delas, tento perceber o que está acontecendo sem a visão”, revela.

Durante as apresentações, o teatro vai se transformar em um evento de inclusão. Na peça, o cenário por onde o humorista circula é composto de piso tátil e terá intérpretes de Libras. Antes do início da peça, serão oferecidos passeios ao redor do Jardim da Reitoria com os olhos vendados e com o uso de bengalas, para que a plateia vivencie um pouco da realidade dos cegos. “É de extrema importância incluir todos nos eventos culturais porque, afinal, somos cidadãos como qualquer um, apenas temos uma limitação. Não é justo não participar disso. Sinto que, no meu caso, estabeleço uma relação de representatividade porque o artista que está ali no palco também tem a deficiência. Quanto mais houver espetáculos inclusivos, com Libras ou em espaços acessíveis nos teatros, as pessoas estarão cada vez mais abertas a produzirem esse tipo de espetáculo. E não só para o deficiente, mas, sim, para todos. As pessoas precisam se conhecer, trocar experiências e entender que as diferenças aproximam e não distanciam”, conclui Jefferson. 

O Teatro da UFF fica na Rua Miguel de Frias, 9, Icaraí, em Niterói. Sexta (14), sábado (15) e domingo (16), às 20h. Preço: R$ 30 (inteira). Censura: 14 anos. Telefone: 3674-7515.