Lucchesi vai presidir a ABL

Entretenimento
Tpografia
  • Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
  • Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Marco Lucchesi vai presidir a Academia Brasileira de Letras

Foto: Mariana Pimenta / Arquivo

A Academia Brasileira de Letras (ABL) elegeu na quinta-feira o professor, ensaísta e poeta carioca Marco Lucchesi como seu novo presidente. Morador de Niterói desde 1972 – para onde veio aos oito anos com sua família italiana – Marco concedeu entrevista exclusiva a O FLUMINENSE. A posse está marcada para dia 14, às 17h, no Salão Nobre do Petit Trianon (Av. Presidente Wilson, 203, Castelo, no Rio). A escolha havia sido antecipada pela jornalista Estela Prestes em sua coluna em O FLU na edição de 26 e 27 de novembro. 

Aniversariante de hoje, Marco Lucchesi, nascido em 9 de dezembro de 1963, é o mais jovem presidente da ABL nos últimos 70 anos. O mais novo, em toda a história da ABL, foi o acadêmico Pedro Calmon (1902-1985), que assumiu em 1945, com 43 anos. Lucchesi é o sétimo ocupante da cadeira nº 15 da ABL, eleito em 3 de março de 2011, na sucessão de padre Fernando Bastos de Ávila, falecido em novembro de 2010. A Cadeira Número 15 tem como patrono o poeta e teatrólogo Gonçalves Dias, e seu primeiro ocupante foi Olavo Bilac. 

“A primeira livraria em que estive, na primeira metade da década de 1970, aos 8 ou 9 anos, foi a Pasárgada, em Icaraí. Eu me deleitava lendo as poesias de Gonçalves Dias (1823-1864), meus livros preferidos na época. Jamais imaginei que ocuparia a cadeira cujo patrono é ele. Frequentei, ainda, a Livraria Gutenberg, a Livraria Ideal, e outras. Tenho um carinho enorme pelos livreiros da cidade. Aos meus 18 anos, ia muito na calçada na Rua da Conceição, em um ponto de encontro de intelectuais de Niterói, como Luis Antônio Pimentel. Era sempre de 17h às 18h, ficávamos todos de pé e depois íamos ao Café Sul América. O Colégio Salesiano também marcou muito minha vida”, revelou Marco, que acaba de escrever o prefácio do romance “Rei Baltazar”, do acadêmico José Cândido de Carvalho (1914-1989), relançado pela ABL. 

No texto, Marco deixou uma homenagem aos amigos, o advogado e jornalista Alberto Francisco Torres, à esposa dele, Dolores, e à filha do casal, Nina Rita, todos já falecidos. 
“Meu primeiro artigo foi publicado em agosto de 1979 em O FLUMINENSE. Não me esqueço da data porque foi quando as cidades de Pompeia, Herculano e Estábia, no Sul da Itália, foram cobertas pelas cinzas na erupção do vulcão Vesúvio. Dr. Alberto foi uma figura muito importante, para o estado, para o Brasil, mas também para o menino que fui. Na ocasião, ele que corrigiu meu texto”, relembrou. 

Dois dos professores do Salesiano, onde estudou dos 11 anos até o vestibular, lembrados com espontaneidade e carinho por Marco, foram José Inaldo Alves Alonso e José Raymundo Martins Romêo, que encontrou mais tarde como seu reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde Marco cursou História. De acordo com José Raymundo, que participou do Conselho das Nações Unidas em Tóquio, por seis anos, e atualmente é presidente da Pestalozzi Niterói, no Salesiano, Marco era um aluno muito atento, inteligente, e já se mostrava erudito. Era uma pessoa que não só se interessava pela aula, mas também pela matéria, pelos seus meandros e suas áreas mais profundas. 

“Fui professor dele de Matemática e é muito interessante observar que ele tem várias publicações em que explora a Geometria, o fato de que ela não é uma criação humana – suas fórmulas, suas razões. Fico satisfeito porque ele manteve seu contato com a Matemática. Gostaria de destacar que eu convivi com ele, a gente já na faculdade, e Marco sempre foi uma pessoa que se dedicou inteiramente ao que se propunha. Uma pessoa com vasto conhecimento, mas que mantém aquela mesma simplicidade do meu aluno no Colégio Salesiano. Recentemente, tive a oportunidade de participar da sua banca de professor titular da UFRJ e, juntamente com outros mestres, pudemos passar um momento de deleite. Evidentemente, eu era um ponto fora da curva. Tenho muito orgulho de ter sido professor dele e, muito maior, de ser seu amigo”, ressaltou José Raymundo.

Para o professor titular do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Sergipe, Cicero Cunha Bezerra, que também fez parte da trajetória de Marco Lucchesi, sua eleição para a presidência da ABL expressa uma harmonia entre tradição e inquietude intelectual, algo imprescindível em tempos atuais.

“Conheci Marco Lucchesi durante minha graduação em Filosofia, na ocasião de uma palestra sua intitulada ‘Dante e a paixão pelo infinito’. De imediato percebi que o mesmo congregava erudição e beleza causando, em seus ouvintes, o originário desejo de conhecer e, ao mesmo tempo, deixar-se conduzir pelas prazerosas sendas da literatura. Sua obra autoral, bem como o seu exercício de tradução e interpretação de autores como Pseudo-Dionísio (o Areopagita), Rumi, Dante e tantos outros, o torna um dos mais importantes autores a transitar pela filosofia e a literatura com rigor sem perder a leveza que o faz herdeiro dos grandes mestres que fizeram da escrita espelho da paixão”, salienta Cicero. 

O secretário municipal de Cultura, Marcos Gomes, também se pronunciou sobre a eleição. 

“Marco Lucchesi é um intelectual respeitado no mundo todo, entretanto, o que mais me impressiona, mesmo com todo o seu conhecimento, é a sua simplicidade. Ele me lembra o frei Leonardo Boff, quando disse numa palestra: ‘Ninguém vale pelo que sabe, mas, sim, pelo o que faz com aquilo que sabe”. 

Os escritores de Niterói José Cândido de Carvalho, Marcos Almir Madeira, Antonio Callado e Levi Carneiro também já tiveram cadeiras na ABL.