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‘Drago’ traz 12 faixas que misturam bolero, baladas, baião, samba

Foto: Divulgação/Daniel Boechat

No presente, ele está completo. Tira energia do movimento da própria vida, da ordem e do caos urbano, das pessoas, dos lugares e transportes públicos, do cotidiano. Ele não acredita na esperança, crê no desejo, o mesmo que impulsiona e alimenta a ação daquele movimento que a gente falou. Marcos Sacramento, niteroiense do Fonseca e morado do Rio, é uma pessoa que realiza e, aos 58 anos, realiza mais um sonho: “Drago”, o 16º álbum, com 12 faixas, que acaba de chega às loja e plataformas digitais. O show será dia 9 (quinta-feira), no Theatro Net Rio, às 21h.  

No novo CD, completamente independente, criado a partir de financiamento coletivo, Sacramento é acompanhado por alguns dos mais prestigiados instrumentistas: Luís Flávio Alcofra (violão), Pedro Aune (contrabaixo), Netinho Albuquerque (percussão), Glauber Seixas (guitarra), Jayme Vignoli (cavaquinho), Zé Paulo Becker (violão), Marcelo Caldi (acordeão), Itamar Arriere (piano) Rafael Mallmith (violão 7 cordas), Os Fufucos (arranjos) e Luis Barcelos (bandolim).

Nesse 16º albúm, que chega nos seus 58 anos, o que não ficou de fora?
Nunca pode ficar de fora de um álbum meu a paixão pela música brasileira e tudo o que aprendei com ela e meus grandes ídolos. Desde Orlando Silva, João Gilberto, Caetano, Chico, Milton, Bosco e toda essa galeria de ícones que tranformaram a música brasileira no que ela é hoje. Lembrando que eu traduzo para a minha linguagem, né? Principalmente quando é autoral, com melodias e letras minhas, aí trago todas as influências.

É uma característica sua colocar nas canções seu próprio cotidiano. Parece que o ‘simples’ ato de viver te inspira. É isso mesmo? 
Sim, minha andanças pelo Rio, onde eu vivo; e para as cidades por onde eu vou. Meu meio de me locomover é caminhar, flanar, andar a pé – é a maneira que acho mais bacana de conhecer os lugares: é andando, me perdendo pelas ruas. Ando destemidamente pelo Rio, não tenho muito medo não. A percepção do que acontece comigo no dia a dia é material para minhas canções. Não tenho comprometimento com nada que não seja tudo o que eu vivo. E tem essa intensidade mesmo, vivo intensamente, gosto de viver. Sou da rua, gosto das pessoas, do ônibus, do metrô, as barcos, das praças. É nessas caminhadas, quando estou me sentindo parte integrante da cidade, por exemplo, quando vou correr pela Praça Paris, é uma hora e meia de reflexão, meus momentos comigo, quando paro para refletir sobre minha vida, meu papel nesse universo, sobre a situação das coisas... Isso tudo vai para o papel e para minhas criações cada vez mais. Foi assim no álbum “Auto-retrato”, era um retrato da minha intimidade até, e agora se repete em “Drago”, de uma forma mais variada, porque tenho vários parceiros nele.  

Com mais de 30 anos de carreira, o tempo de criação tomou outro significado ou continua o mesmo?
Foi muito rápido. A gravação desse disco foi feita em duas semanas. A gente trabalhou com pouco tempo de estúdio, mas a integração entre a minha equipe e eu muito grande, desde a produtora, Carol Picoli, até o trio, que formam o núcleo do meu trabalho: Luís Flávio Alcofra, Pedro Aune e Netinho Albuquerque, essa equipe se juntou ao João Ferraz, que foi o produtor musical (gravou, mixou, masterizou e produziu), o super homem deste trabalho. O tempo dos trabalhos é relativo, vamos adquirindo experiência, mas precisamos entender a maturação. Música é uma comunicação muito direta com o público. O importante é entregarmos um trabalho que acreditamos. 

Além de MPB, é possível ver no CD ritmos como bolero, baladas, baião, samba. De onde surgiu a ideia para a ‘miscelânea’ harmônica?
Me aventurar pelo novo é o que mais me instiga. Você está fazendo uma carreira cantando sambas, num lugar confortável, recriando clássicos do samba brasileiro, aí, de repente, faz um disco de inéditas e surpreende o seu público que está ali com você no lugar confortável. Esses mosaico de estilos ficou exatamente como eu queria.

O quão importante é a intimidade e afinidade a banda? 
Há uma cumplicidade nos ensaios para o estúdio, nos ensaios para o show, nos arranjos. Com exceção da música do Zé Paulo, “Temporal”, e da música “Bolero de Cinzas”, do Marcelo Caldi, todos os arranjos foram criados coletivamente e isso só é possível quando temos muita afinidade. Sem essa interação seria outro trabalho.

Para compor é necessário esperança. De onde vem a sua?
A esperança é algo complexo porque a gente aprende a vê-la como algo positivo: “Eu tenho a esperança em um mundo melhor”; “...de me curar de uma doença”, mas, na realidade, ela pode ter um efeito paralizante. No meu caso, preciso do desejo. De ter um desejo ardente de fazer as coisas. Isso me move para frente, para um caminho que não sei qual é. O futuro é uma grande interrogação, mas o hoje é o momento da completude. 

O Theatro Net Rio fica na Rua Siqueira Campos 143, 2º piso, Copacabana, no Rio. Dia 9 de maio, às 21h. Preço: R$ 60 (inteira). Cliente NET: R$ 30 / 50% Clube Globo R$ 30 / 30% Clube Uol R$ 42,00. Classificação: 12 anos. Duração: 90 minutos. Telefone: 2147-8060.