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Marcos Nauer, Glaucio Gomes, Stênio Garcia, Antonio Gonzalez e Daniel Villas

Foto: Milton Menezes/Divulgação

Como um lutador, Stênio Garcia está prestes a subir no palco aos 83 anos. No próximo dia 15, às 21h, no Teatro dos Quatro, no Shopping da Gávea, estreia a peça “O Último Lutador”, como parte das comemorações dos seus 60 anos de carreira. Sempre bem-humorado, Stênio está bem contente por comemorar uma data tão marcante com a volta aos palcos e com um texto “jovem”, sobre a família Gracie de lutadores.

Stênio e a esposa, Marilene Saade, estarão no espetáculo inédito de Marcos Nauer e Teresa Frota, com direção de Sérgio Módena, que utiliza o universo da luta livre como pano de fundo. A intenção, entretanto, é mostrar que, por trás de lutadores mal encarados, existe um lado humano e familiar. Na peça, o personagem de Stênio, Caleb, tem um neto que saiu de casa, um filho ex alcóolatra e outro que faz tudo por dinheiro. Uma família desestruturada, que ele sonha em reunir e resolver as desavenças. Stênio se identificou com a história de luta familiar e resolveu apostar na proposta de Frederico Reder, produtor da peça. “Eu li o texto e vi o desenvolvimento dele durante um mês. O Fred propôs comemorar os meus 60 anos de carreira com esse espetáculo. E vários aspectos ali significavam positivamente para mim. Nós falamos de luta com a intenção de refletir sobre a família, sobre o que une um clã. Eu tomei como inspiração o legado da família Gracie, responsável pela difusão do jiu-jitsu no mundo. Li tudo sobre eles”, resume o ator, que acompanha os campeonatos de MMA e se identifica com as artes marciais. Stênio, que, inclusive, já praticou karatê quando criança, também chama atenção ao fato de estar lançando um autor tão novo, o Marcos Nauer, de 22 anos, que também interpreta um dos personagens. 

A peça se passa em 1992, ano de importantes mudanças políticas no País, como o impeachment do Presidente Fernando Collor de Mello, e marco para a história do vale tudo, com o surgimento do que irá se chamar de MMA. O diretor Sérgio Módena e a cenógrafa Aurora dos Campos fazem do palco um lugar que remete a uma cena-ringue, em que embates familiares são travados. Caleb, personagem do Stênio Garcia, concretiza seu último sonho: um campeonato em que os lutadores são os integrantes da sua família, entre eles seu neto Davi (Marcos Nauer). Dignosticado com câncer, Caleb sonha unir Davi a seu pai (Antonio Gonzalez), a seu tio (Glaucio Gomes) e a seu irmão (Daniel Villas), um ex-lutador que busca recuperar o respeito da esposa (Mari Saade). Compõem a trama ainda a mulher de Caleb, Diná (Stela Freitas), e a jornalista Madalena (Carol Loback). Caleb luta até o fim pela integração famliar, sendo assim, o último lutador.  

Na preparação dos personagens, o elenco teve o apoio do ex-lutador da categoria peso pena do UFC, Milton Vieira, o Miltinho. O evento Jungle Fight 84, realizado no final do mês passado em Botafogo, no Rio de Janeiro, juntou o ex  lutador e o elenco da peça. “A função do Miltinho é ajudar os atores que vão representar os lutadores a lutar e fazer a marcação das cenas de luta. Ele está ajudando muito a gente para um desempenho convincente durante a peça”, argumenta Stênio.

Confiança e animação marcam essa volta do ator, após 18 anos longe dos palcos. Ele se diz realizado por trabalhar pela primeira vez com a esposa, Marilene Saade, mas ainda tem muitos projetos para pôr em prática.  “Uma pessoa com quem eu convivo diariamente, que passa por vários momentos da vida comigo, nessa hora só ajuda. A cumplicidade joga a nosso favor. Mas projetos eu sempre tenho. Ator trabalha com a vida e a vida só acaba na morte”, filosofa o ator.  

A luta livre é o pano de fundo para se falar sobre difíceis embates familiares

Foto: Milton Menezes/Divulgação

O título da peça acabou se tornando uma ironia do destino, já que o ator e sua esposa têm travado uma luta diária contra a caxumba e os limites que ela tenta impor à sua performance. A doença afetou o ouvido esquerdo do ator e o obrigou a colocar um aparelho auditivo para que possa estrear o espetáculo. “Fizemos leituras e ensaiamos por um mês até eu ter essa perda de audição. Mas a estrutura da peça já estava levantada. Inclusive, acho que trabalhamos muito racionalmente e essa parada, apesar de forçada, é até boa, nos dá fôlego. Além disso, a incerteza gerada pela doença deixa tudo mais imprevisível. E o teatro tem a ganhar com o risco, quando tudo não está tão enrijecido. Acho que isso imprime uma qualidade na cena”, explica o ator, que conta que o casal, que  passou as festas de fim de ano em repouso,  já retornou aos ensaios. “É curioso ver que essa ideia de luta, de batalha, atravessou a ficção e veio para a vida real. Por esse viés, eu e a Mari estamos travando uma luta com a caxumba para realizar esse trabalho e isso tem a ver com a história e com o meu personagem”.

O Teatro dos Quatro fica no Shopping da Gávea - Rua Marquês de São Vicente 52/2º piso (2239-1095). Sexta, sábado e segunda as 21h. Domingo as 20h. Preço: de R$ 70 a R$ 90. Em cartaz até 7 de março. 

(Camilla Galeano)