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Peça estreia no próximo sábado, em curta temporada no Teatro Popular Oscar Niemeyer

Fotos: Thyago Andrade / Divulgação


“Otelo, o Mouro de Veneza” é um clássico do teatro mundial. Escrito por William Shakespeare, em 1604, a obra conta a história de Otelo, um mouro estrangeiro que alcança o posto de general do exército de Veneza. Ele promove o florentino Miguel Cássio para o cargo de tenente, causando a ira do alferes Iago. Por ser preterido, o alferes começa a insuflar ideias de ciúmes na cabeça do general, sugerindo uma traição por parte de Desdêmona, sua esposa. Com adaptação de Rafael Maia, Samuel de Assis, Glaucia da Fonseca e direção de Debora Dubois, a peça “Otelo” estreia no próximo sábado, às 20h, para uma curta temporada no Teatro Popular Oscar Niemeyer.

O espetáculo é estrelado por Mel Lisboa, Samuel de Assis, Rafael Maia, Ricardo Monastero, Antonio Ranieri, Yael Pecarovich, Marcio Guimarães, Glaucia Fonseca e Daniel Bouzas. A ideia da montagem surgiu quando Debora Debois estudava sobre a obra “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, considerado o “Otelo brasileiro”. A diretora estava estudando o autor para a direção de uma adaptação de “Dom Casmurro”. Ao ler “Otelo, o Mouro de Veneza”, decidiu montar um espetáculo sobre o clássico shakespeariano.

“Passei a ideia para o Samuel de Assis e em uma semana estávamos numa sala fazendo leituras, adaptando e pensando numa forma eficiente e rápida para montar. Fizemos o sistema do Catarse (financiamento coletivo) e em menos de dois meses de trabalho intenso estávamos estreando. Duas semanas depois da estreia, já estávamos com o teatro lotado”, conta Debora.

Samuel de Assis interpreta o personagem Otelo, um mouro que veio de uma família real africana, foi vendido como escravo, comprou sua liberdade e se tornou um grande general de guerra. Otelo se apaixona pela filha de um grande nome da política veneziana e desperta muito ódio e ciúme em todos. Desdêmona, interpretada por Mel Lisboa, se casa em segredo com o honrado general de Veneza e parte com ele para as guerras de Chipre.

Iago, interpretado pelo niteroiense Rafael Maia, é um alferes, uma espécie de sargento que, junto com Miguel Cássio, personagem de Ricardo Monastero, serve ao general Otelo. Quando Cássio é promovido a tenente em detrimento de Iago, o alferes sente ciúmes e um sentimento de injustiça. Iago, então, com inveja e uma certa paranoia, usa sua inteligência e rapidez de pensamento para enredar os outros personagens nos seus planos de vingança.

Considerado um dos maiores vilões do teatro universal, Iago é responsável direto pela fatalidade no destino de Otelo, Desdêmona e sua própria mulher, Emília. Para Rafael Maia, a única característica comum ao personagem é a obstinação. “Iago não desistirá até alcançar seus objetivos”, confessa.

Mel Lisboa conta que não se identifica diretamente com Desdêmona, mas que tentou dar a ela contornos e texturas que permitam a compreensão da sua complexidade. Ricardo Monastero também acredita que Miguel Cássio não se assemelha muito a ele.

“Encontrei na construção deste complexo personagem de William Shakespeare um grande desafio ao me deparar com inúmeros conflitos internos vividos pelo tenente em sua trajetória em ‘Otelo’”, diz Monastero.

Para Samuel de Assis, a maior dificuldade de interpretar o personagem que dá nome à peça foi colocar no palco essa dualidade “grande general de guerra com todo seu estereótipo” versus “um homem perdidamente apaixonado, dono de um coração enorme e que acredita na palavra alheia”.

“Em um mundo onde qualquer acordo deve ser assinado, carimbado e reconhecido em firma, é muito difícil não criticar e/ou duvidar de um homem que confia cegamente no valor da amizade”, analisa o ator.

Na montagem, os personagens são retratados como se estivessem mortos e a humanidade estivesse renascendo várias vezes e se repetindo num ciclo infinito. “Otelo” fala sobre ciúme, amor, traição, ambição, ódio, honra e sobre como as aparências podem enganar e nos fazer chegar a consequências extremas. Por isso, apesar da trama possuir mais de 500 anos, ainda é bastante atual. 

“Shakespeare é atemporal. Assim como os melhores textos clássicos, que tratam da essência do homem, chegam fundo percorrendo caminhos onde todos os personagens revelam suas verdadeiras faces. Sem perder a poesia – clássica do autor – trabalhamos o texto no sentido de manter a forma e a dramaturgia, para facilitar o entendimento e trazer para o Brasil, lugar onde as dores do roteiro ainda encontram semelhança”, diz a diretora.

A peça também é atemporal nos figurinos, cenário e iluminação. A trilha sonora é inspirada nos trovadores e repentistas e influenciada na obra de Caetano Veloso, mesclando poesia regionalista brasileira com eletrônico.

“A tradução de Maria Silvia Betti traz um frescor e uma contemporaneidade ao texto, sem tirar as metáforas e a poesia de Shakespeare”, conta Mel Lisboa.

Em junho deste ano, o grupo se apresentou na Festa Internacional de Teatro de Angra dos Reis (Fita) e recebeu cinco indicações: Melhor Espetáculo, Melhor Ator (Rafael Maia e Samuel de Assis), Melhor Cenário, Melhor Direção e Melhor Figurino.

“Às indicações nos trouxeram mais vontade de fazer o espetáculo e levar para mais gente ver nosso ‘Otelo’. É muito bom ver o público de várias idades, adolescentes, adultos... Enfim, todos ao término de cada sessão... É mágico. Sentimos que as pessoas em geral temem não entender um Shakespeare, mas entendem, se emocionam e se divertem”, conta Debora.

Para Rafael Maia, a indicação como melhor ator, ao lado de Samuel de Assis, foi uma surpresa. 

“O festival é um evento indispensável, já reconhecido como um dos maiores e mais importantes do País. O corpo de jurados é formado por expoentes em suas áreas de atuação, de capacidade reconhecida e conhecimento comprovado. Fico muito feliz e me sinto honrado com a indicação”, afirma Rafael. 

O Teatro Popular Oscar Niemeyer fica na Rua Jornalista Rogério Coelho Neto, s/nº, no Centro. Dias 16 e 17 de julho. Sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Preço: R$ 50 (inteira). Censura: 12 anos. Telefone: (21) 2620-5101.