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Nos ambientes que dividem a exposição, estão instaladas caixas de som, por onde saem poemas declamados pelos poetas expostos.

Foto: Divulgação

Escrever poesia é o dom de transformar em palavras a subjetividade presente no interior do ser humano. Através dela, as emoções se concretizam e revelam a forma como o poeta enxerga o mundo e tudo ao seu redor. Com o intuito de unir autores em uma plataforma gratuita para divulgar o máximo de poesia para as pessoas, em 2006, o departamento de Letras da PUC Rio criou o projeto universitário “Plástico Bolha”, que hoje é um dos mais respeitados jornais literários do País. Em 2015, em parceria com o Museu Nacional da Língua Portuguesa, o projeto realizou a exposição “Poesia Agora”, em São Paulo, e que, neste ano, após passar por Salvador, chegou à Caixa Cultural Rio de Janeiro, inclusive contando com a participação de 12 poetas de Niterói. No próximo sábado (8), acontece o lançamento do catálogo da mostra, com um grande sarau de poesia, das 16h às 19h, comandado pelo curador da exposição, Lucas Viriato. 

Em formato de tabloide e possuindo 16 páginas, o jornal que deu origem à exposição não tem periodicidade e é totalmente colaborativo. Ao todo já participaram do projeto cerca de cinco mil artistas, que tiveram suas poesias espalhadas por locais públicos em 13 estados do Brasil. Segundo o editor e um dos curadores do “Poesia Agora”, João Moura Fernandes, o jornal recebe material diariamente e já possui um dos maiores acervos de poesia contemporânea de todo o País.

“O ‘Plástico Bolha’ é uma plataforma de divulgação de poesia contemporânea, ou seja, só de poetas vivos e em atuação. A ideia da exposição surgiu quando o Lucas, fundador da publicação, procurou fazer algo ainda maior que o   jornal. Na curadoria, tentamos escolher pessoas que estão ativamente no mundo da poesia, e elas também participaram dessa escolha”, conta João.

A exposição é dividida por alas e separada por corredores, cada qual pintado com as representações máximas da paleta de cores – magenta, ciano, amarelo e preto. Nesses mesmos ambientes, estão instaladas caixas de som, por onde saem palavras pronunciadas pelos poetas expostos.

“Com a ajuda do cenógrafo André Cortez, pensamos em uma mostra que tivesse não só uma poesia textual, mas ultrapassasse os espaços e interagisse com o público. Nos corredores, são pronunciadas palavras pelos poetas que remetem à energia das cores usadas. Além disso, buscamos libertar os poemas aprisionados dentro de uma galeria, espalhando poesias nos espelhos dos banheiros do centro cultural, ultrapassando os espaços”, relata João.

A primeira ala é intitulada “Ilumina”. Nela, versos e trechos das poesias ficam em lâmpadas, dando a impressão de que o público é iluminado pelas palavras. Em seguida, encontra-se a sala do “Scriptorium”, lugar onde os idealizadores pensaram em remeter a um espaço de produção da Idade Média, em que, além de ler poemas espalhados pelas pilhas de livros, o público ainda tem a oportunidade de interagir diretamente com a exposição e escrever suas próprias poesias. 

Acima o curador da mostra, João Moura, e o poeta Renato Augusto Farias, morador de Niterói e um dos nomes locais que participam de “Poesia Agora”

Foto: Divulgação

O poeta Renato Augusto Farias de Carvalho é amazonense, mas seu coração fez morada em Niterói. É no Scriptorium que se encontra o seu poema, sem título, dentro do livro ‘Sutil’. Para ele, o objetivo principal da exposição é a integração entre o poeta e o leitor, além do estímulo a escrever o que a mostra proporciona.

“Aqui a criação é livre. Fala-se de tudo um pouco: beleza, mágoas, esperança, sacanagem, e, claro, amor. Todas essas poesias são retratos da contemporaneidade, em que o conteúdo é muito mais importante do que a forma. Estou achando maravilhoso participar dessa exposição, e o que é mais bonito nesse trabalho é a liberdade que o projeto dá, que além de tudo, inspira os visitantes a escrever tudo o que tiverem vontade”, conta Renato. 

Dividindo o mesmo ambiente, existe a ala “Desafio”, onde estão expostos poemas em que uma das vogais foi cortada, também convidando o público a entrar na criatividade. O desafio, ao mesmo tempo que é uma restrição, é um estímulo para pensar e escrever. O poeta niteroiense Rodrigo Auad teve o seu poema publicado nessa categoria, o qual não usa a letra “O”. 

“Pensar a poesia para um livro é diferente de pensar a poesia para ser falada num show ou sarau, por exemplo. Da mesma forma, é diferente para uma exposição. É como se estivessem construindo a Disney cultural, um parque de diversões poético. As pessoas experimentam tátil/sensivelmente o que é estar bêbado de poesia. Num mundo onde nossa criatividade é tolhida, a exposição “Poesia Agora” se encaixa como luva para nossas mãos frias”, filosofa Rodrigo. 

A ala seguinte chama-se “Destaque” e é onde ficam poesias que foram selecionadas por poetas que possuem uma participação bem explícita no cenário da poesia contemporânea. Buscando trazer a poesia das ruas para dentro da exposição, umas das categorias leva esse nome e traz para a mostra as pichações e mensagens escritas. A última sala do projeto é inteiramente dedicada aos visitantes, que, além de lerem as poesias, possuem a oportunidade de ver e ouvir os poetas declamando-as.

A CAIXA Cultural do Rio de Janeiro fica na Avenida Almirante Barroso, 25, Centro, no Rio. Sábado (8), das 16h às 19h. Entrada franca. Censura: livre. Telefone: 3980-3815.Em cartaz até 6 de agosto.