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O artista vai estar em Niterói no domingo, dia 2, na Praia de São Francisco

Foto: Divulgação/Daryan Dornelles
 

São 33 anos desde o primeiro show da banda criada na Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Pelo menos duas gerações foram marcadas pela banda Engenheiros do Hawaii. Seu compositor e vocalista nunca deixou de escrever e compor músicas, muito menos de cantá-las e, em 2013, seguiu carreira solo. Nas letras, Humberto Gessinger fala sobre os dilemas humanos, os relacionamentos, nossa realidade subdesenvolvida e desigual. O artista vai estar em Niterói no domingo, dia 2, na Praia de São Francisco, pronto para o coro que o segue, apresentando o repertório do DVD “Ao Vivo pra Caramba”, ao lado das canções do “A Revolta dos Dândis” (álbum que completou 30 anos em 2017), com mais quatro músicas inéditas e canções de outras fases da carreira. No palco, Rafa Bisogno (bateria e percussão) e Felipe Rotta (guitarra e violão) acompanham Humberto. O show terá dois momentos: acústico e pesado. A apresentação gratuita faz parte do Circuito Quatro Estações da Música, projeto da Prefeitura de Niterói. Quem vai abrir a noite, às 18h, é a banda niteroiense Rainha da Noite.

A banda Engenheiros do Havaii falou com uma geração e, agora, você vê seu público se renovando. Como é essa sensação? Como é falar com jovens de gerações tão diferentes?
As músicas que eu componho e o som que eu faço me parecem bem particulares. Ver que essas canções rompem as barreiras de tempo e espaço, tocando mentes e corações muitos anos depois e em lugares muito distantes, dá uma sensação muito boa. Renova minha fé na força da arte.

Você não para. Sempre tem alguma ideia que o faça renascer. E continua fazendo música. Como é estar “ligado no 220 volts” e como se sente seguindo seu coração, sua verdade, trabalhando com amor?
Quando as pessoas falam que eu trabalho muito (e eu ouço isso constantemente), até me assusto, pois nunca penso no que faço como trabalho. Não penso em música como produto nem nos fãs como consumidores. É sensacional que haja tanta gente ligada no que eu faço, mas acho que eu faria as mesmas canções mesmo que ninguém se interessasse. Na real, é uma necessidade interior.

Como você lida com a passagem do tempo? Envelhecer é acessar um conhecimento ilimitado por novas perspectivas. O que você faz para envelhecer tão bem (física e mentalmente)?
Algumas contingências da vida fizeram com que eu amadurecesse cedo. E, por característica pessoal, mantenho viva uma certa ingenuidade infantil. Essa mistura faz com que o tempo se embaralhe na minha cabeça. Às vezes, acho que já fui bem mais velho do que sou. Claro que estou falando do espírito, pois o corpo eu vejo no espelho cada dia mais velho. Mas, mesmo disso eu gosto, dos fios de cabelo que já estão grisalhos, das rugas, dos calos nos dedos, consequências de vários anos tentando domar baixos e guitarras. Se a gente mantiver os olhos do espírito abertos, o tempo traz novas formas de ver os mesmos velhos quadros na parede. 

Muitas das suas preocupações nas canções ainda permanecem e parece até que são ainda mais oportunas e gritantes. Somos mais “ilha” hoje ou somos apenas “ilhas” diferentes? Por quê?
Seremos sempre ilhas. O lance é criar maiores e melhores pontes entre nós. Talvez estas ferramentas tecnológicas de comunicação digital nos ajudem no futuro, depois que aprendermos a conviver com elas. No momento, estamos desnorteados, mas tenho esperança de que a gente aprenda.

Pra você é estranho cantar algumas músicas hoje? Porque, afinal, você era “outra pessoa” quando as escreveu. Que tipo de relação você criou com suas composições com o passar dos anos?
Nas composições, nada me soa tão distante do que sou hoje a ponto de criar alguma dificuldade ou estranhamento. Como músico, sinto que algumas escolhas ficaram datadas. Sou muito melhor músico hoje. Mas a beleza da arte é esta: o fato de algo ser datado pode trazer novos encantos. Talvez seja até uma das funções da arte: testemunhar nossa passagem pelo tempo

Já esteve em Niterói quantas vezes? Criou alguma relação com a cidade?
 Meu primeiro show em Niterói foi em 1986, na turnê do Longe Demais das Capitais, primeiro disco dos EngHaw. Depois voltei em 1988 (turnê A Revolta dos Dândis), 1989 (Ouça o Que Eu Digo: Não Ouça Ninguém), 1991 (O Papa é Pop). Em 96, fiz um show num local pequeno, mas muito importante para mim, pois era o início do Gessinger Trio, projeto que foi semente de tudo que brotou depois. Voltei em 2012 com uma invenção da qual me orgulho muito, o Pouca Vogal. Agora, estou chegando no momento em que me sinto mais feliz fazendo o que faço. Espero que o pessoal que assista ao show compartilhe desta felicidade.

Os shows serão em palco montado na Praia de São Francisco (altura do nº 151), em Niterói, dia 2, a partir das 18h. Acesso livre e gratuito. A organização do evento pede para que o público leve 1kg de alimento não perecível.